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Os universitários de hoje

Alunos de baixa renda entram mais nas universidades públicas

 

Os números do relatório ajudam a quebrar alguns mitos. O primeiro é o de que existem mais alunos pobres nas universidades privadas do que nas públicas. O estudo do Inep mostra justamente o contrário. Enquanto nas públicas 30,1% dos alunos possuem renda de até três salários mínimos, nas particulares, esse número é de 25,5%. Outro ponto interessante é a quantidade de egressos de escolas particulares e públicas que estão no ensino superior. Os números das públicas e das privadas é bem parecido: 49,1% dos universitários das públicas cursaram a educação básica em colégios públicos e, nas privadas, eles somam 52,2%.

 

Para Timothy Mulholland, reitor da UnB, é importante perceber que as classes menos favorecidas estão entrando nas instituições públicas. Ele acredita que os dados fornecidos pelo Enade devem ser fruto de pesquisas no futuro e serão importantes subsídios para tomada de decisões. A sinalização de que as universidades públicas carecem de investimento não é novidade. “Os dados ajudam a esclarecer e a comprovar a realidade. O que assegura a qualidade das instituições públicas é o investimento na qualificação dos recursos humanos”, destaca.

 

É interessante observar que algumas atitudes dos jovens mudaram ao longo do tempo. O interesse dos universitários pela internet cresceu muito nos últimos anos. Em 2002, a internet era o meio de comunicação preferido de apenas 9,5% dos estudantes. Agora, o número subiu para 42%. Talvez por isso o índice de leitura diária de jornais — de alunos de públicas e privadas — esteja tão baixo. Nas públicas, apenas 15% dos universitários lêem jornais todos os dias, enquanto nas privadas, 21,6% fazem o mesmo. Rafael Ayan, estudante de pedagogia, diz que prefere conferir as notícias diárias pela internet. Daniel Campos também não lê jornal e prefere assistir a noticiários na televisão.

 

Bons X ruins

 

O relatório do Inep também comparou os perfis dos estudantes que fazem cursos cujo desempenho foi excelente (notas 5 no conceito Enade e no IDD) e dos alunos de cursos considerados ruins (notas 1 nos dois conceitos). As graduações com desempenho melhor têm mais estudantes solteiros (88%), sem filhos (90%), renda familiar mensal mais alta (para 32% dos alunos é superior a 15 salários mínimos), os pais têm mais escolaridade, a maioria estudou em colégios particulares, dominam mais o idioma inglês, utilizam computador sempre e se atualizam pela internet (confira tabela).

 

Daniel cursa o 4º semestre de ciências contábeis da UnB e se encaixa em algumas das características. Os pais do jovem também têm diploma de curso superior, ele utiliza a internet e elogia a cobrança dos professores. Mas ele também trabalha e se sustenta sozinho, como 67% dos estudantes cujo curso é nota máxima. Nas graduações com desempenho ruim, mais alunos têm filhos, a renda mensal é menor (7% têm renda maior que 15 salários mínimos e 32% tem renda de até três salários mínimos), os pais têm menos escolaridade e a exigência dos professores é diferente.

 

Isabel Carvalho Paz, 42, esperou os filhos crescerem para encarar uma faculdade. Mesmo trabalhando, ela acabou de concluir o curso de letras na Faculdade Michelangelo, que tirou notas 1 no conceito Enade e no IDD. Mas ela não acredita que o desempenho ruim revele a qualidade do curso. Isabel diz que há muitos professores dedicados e alunos desinteressados. Para ela, os estudantes entram na faculdade sem uma boa base e não têm motivação para fazer a graduação.

 

Mais satisfeitos

 

Enquanto os estudantes das universidades públicas têm muito do que reclamar, os alunos de instituições particulares se mostram bem mais contentes com o que lhes é oferecido. Segundo o estudo do Inep, 63,4% deles dizem que as instalações físicas são amplas, arejadas e bem mobiliadas. A proporção de alunos que avalia positivamente o método de trabalho dos professores, a disposição dos currículos e a quantidade de equipamentos disponíveis também é maior do que nas públicas.

 

Os alunos do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) Aloisio Antonio Menezes, 22, estudante do 8º semestre de direito, Carlos Andrés, 21, do 6º semestre de jornalismo, e Astir Fernandes do Valle, 40, do 9º semestre de biomedicina, garantem que não podem reclamar da estrutura da instituição. Para Astir, os laboratórios são bem equipados e os professores, atenciosos. Carlos e Aloisio elogiam o acervo da biblioteca e a qualidade dos professores. “Acho que temos mais voz e menos burocracia nas instituições privadas”, opina Carlos.

 

Aloisio trabalha em horário integral, mora com os pais e não tem filhos. Para ele, os estudantes das instituições públicas têm mais tempo para se dedicar aos estudos e levam vantagem no grande número de pesquisas realizadas dentro das universidades. “Mas as privadas estão correndo atrás disso também”, comenta. Para Astir, o vestibular dá vantagens às públicas porque seleciona estudantes com menos problemas na formação básica.

 

Por isso, Carlos não concorda com o Enade. Ele acredita que o melhor seria analisar o desempenho dos formados no mercado de trabalho. Rafael Ayan também afirma que o modelo da avaliação não mostra a realidade das faculdades.


Data: 25/06/2007