topo_cabecalho
Nanotubos elimina fronteiras entre áreas do conhecimento

Físico indiano Pulickel Ajayan fala sobre os nanotubos de carbono (NTC) e as perspectivas de desenvolver conhecimentos e tecnologia avançadas em países em desenvolvimento.

A entrevista de Ajayan foi concedida nesta quarta-feira, no segundo dia da 8ª Conferência Internacional sobre a Ciência e Aplicação de Nanotubos (NT07), em Ouro Preto, MG.

Graduado na Índia, Ajayan coordena um dos mais importantes grupos de pesquisa norte-americanos sobre nanomateriais, no Instituto Politécnico de Rensselaer (RPI – http://www.rpi.edu).

A equipe é formada por considerável número de indianos e chineses, além de norte-americanos e europeus.

Mais do que isso, observa ele, os nanotubos, "definitivamente, trouxeram profissionais de diferentes áreas a trabalharem juntos – as fronteiras entre as áreas do conhecimento desapareceram".

Sua equipe reúne físicos, químicos, zoólogos, biotecnólogos e vários engenheiros – eletrônicos, mecânicos, metalúrgicos, químicos e da área de computação.

Ajayan está contudo deixando o RPI para assumir a cátedra de Richard Smalley, Prêmio Nobel de Química (1997), na Universidade de Rice, no Texas (EUA).

Smalley, falecido em 2005, é o responsável pelo descobrimento dos fulerenos (molécula com 60 átomos de carbono organizados na forma de uma bola de futebol) e pioneiro na pesquisa de nanotubos de carbono.

A nova posição de Ajayan confirma sua liderança na ciência norte-americana, conforme apontado em 2006 pela revista Scientific American, que publica anualmente os 50 nomes mais representativos das diferentes áreas científicas nos Estados Unidos.

Ferramentas para o Desenvolvimento

Para Ajayan o Brasil e a Índia são países em estágios similares na área científica e tecnológica e "devem investir fortemente na formação de estudantes, de pesquisadores, em infra-estrutura de pesquisa e centros de excelência para estarem juntos com os países avançados na revolução que decorrerá da nanotecnologia".

Estes aspectos criam o círculo virtuoso, no qual os melhores estudantes serão atraídos e as instituições serão sustentáveis.

Dificilmente os melhores alunos e os mais jovens se contentarão em trabalhar e se pós-graduar em locais sem infra-estrutura para a pesquisa e pessoal qualificado para estimular a formação e a criatividade.

Tais condições contudo não são obtidas em passe de mágica.

O pesquisador observa que "somente agora algumas instituições indianas começam a ter as condições para atrair estudantes de outros países e manter alguns dos melhores quadros formados nas universidades do país".

Para o desenvolvimento de segmento (focado nos NTCs) com possibilidades tão vastas de aplicação, Ajayan sugere que o dinheiro será colocado onde os benefícios forem mais significativos para o país.

No caso da Índia, em meio ambiente, ciências médicas e energia alternativa. "A eletrônica é certamente uma interessante área de utilização de nanotubos, mas talvez não tenhamos força suficiente para conseguir os resultados desejáveis".

Na palestra feita na Conferência NT07, Ajayan apresentou um quadro do estado da arte da aplicação industrial de nanotubos de carbono, ponderando a capacidade de produção em larga e em menor escala [conferir slide em anexo].

E apresentou produtos com solução a se alcançar nos próximos dez anos e para além de dez anos de desenvolvimento tecnológico.

Artefatos que já estão no mercado internacional são os chamados compósitos de materiais plásticos, para uso em produtos com propriedades elétricas e mecânicas especiais, que, com adição de NTCs, aumentam a resistência, a durabilidade e a interação de diferentes materiais com o ambiente: baterias de lítio, materiais com propriedades anti-estáticas (que não dão choque) e materiais esportivos, entre outros.

A projeção situa no cenário mais distante a produção de cabos de transmissão, dispositivos foto-voltáicos (células solares) e nano-eletrônicos (nanotubos semicondutores ou metálicos em componentes eletrônicos para a contínua redução dos chips de computador e outros equipamentos).

"Contudo, conclui o professor, nada mais claro do que o fato de que a Ciência e a Tecnologia são as prioridades de qualquer país que queira atingir um bom nível de desenvolvimento".

Para tanto, dar visibilidade aos atuais avanços "é muito importante – fará as pessoas conscientes dos impactos dos novos conhecimentos, provocando a atração de estudantes para as áreas de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico".

Como patas de lagartixa

Exemplo de material produzido pelo grupo coordenado pelo professor Ajayan, no RPI, são nanotubos de carbono crescidos alinhada e verticalmente, resultando alta capacidade de adesão superficial.

Este material funciona como as fibrilas das patas de uma lagartixa, que permitem que ela caminhe inclusive de cabeça para baixo. A adesão produzida é tão intensa que sustenta o peso do animal.

O encontro, que começou no último domingo (24), reúne delegações nacional e internacional para debater os avanços atuais e perspectivas do desenvolvimento científico e tecnológico dos Nanotubos de Carbono.

São cerca de 140 brasileiros e 240 participantes de outros países, com destaque para o Japão e a Coréia, com 70 participantes, os Estados Unidos e países da comunidade européia, com cerca de 150 participantes, e a América Latina, também com grande participação.

Serviço:
8ª Conferência Internacional sobre a Ciência e Aplicação de Nanotubos
Dia: de 24 a 29 de junho de 2007
Local: Parque Metalúrgico, Centro de Artes e Convenções, Universidade Federal de Outro Preto, Ouro Preto, MG.


Data: 27/06/2007