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Pesquisadores da UFCG criam Eco-residência

Projeto concorre ao Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social

 

Recente relatório da ONU apontou a desertificação como o maior desafio ambiental de nosso tempo. O estudo alerta que, caso não sejam efetivadas políticas globais para combatê-la, quase metade da população do planeta será afetada em poucos anos. "É imperativo que políticas eficientes e práticas agrícolas sustentáveis sejam adotadas para reverter o declínio das áreas secas", disse o reitor da Universidade Nações Unidas, Hans van Ginkel, instituição que produziu o relatório.

 

Na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), essa preocupação já existe há bastante tempo. A instituição, que integra o Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba, promove várias ações e projetos voltados para o uso racional dos recursos hídricos e ao combate à desertificação.

 

Um exemplo é o projeto Eco-residência com Adequada Gestão Hídrica, desenvolvido pelo Laboratório Interdisciplinar de Ciências e Tecnologias Agroambientais (LICTA) da UFCG, que concorre, este ano, ao Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. O Prêmio é um instrumento de promoção e fomento de tecnologias que apresentem respostas efetivas para diferentes demandas sociais.

 

“O Nordeste é a região semi-árida com a maior densidade demográfica do mundo. É também onde se localizam as áreas susceptíveis à desertificação no Brasil, que cobrem uma superfície equivalente a 15% do território nacional”, informa o coordenador do projeto, professor Geraldo Baracuhy, da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola.

 

Ele explica que os principais problemas das comunidades que residem nessas áreas são a escassez d’água e o mau uso dos recursos naturais. “Seus membros dependem de carros-pipas durante o período de estiagem, consumindo, na maior parte do tempo, água de poços de baixa qualidade. Praticam desmatamentos e queimadas para a produção de tijolos, despejam efluentes altamente poluidores próximos a leitos de rios e residem em habitações desconfortáveis, sem considerar a capacidade de coleta de recursos hídricos. Tudo isso acarreta sérios danos à saúde de todos e ao meio ambiente”, afirma o pesquisador.

 

Projeto

 

A Eco-residência foi projetada levando em consideração uma melhor gestão dos recursos hídricos, menor agressão ao meio ambiente, economia de materiais e o conforto de seus usuários. Ela foi construída na comunidade de Latadinha, zona rural do município de São José do Sabugi, na Paraíba, de janeiro a outubro do ano passado. “O local foi escolhido devido às dificuldades em captação de água, sem poços tubulares, onde se dependia apenas das águas de chuvas represadas”, explica Baracuhy.

 

A principal característica da Eco-residência é seu sistema de reutilização das águas. O telhado foi projetado de forma a garantir uma melhor captação das águas das chuvas. Elas são recolhidas numa cisterna de placas, posicionada na parte superior do terreno, permitindo o abastecimento direto para a casa (por gravidade), sem o uso de bombas ou do contato direto com a cisterna. Considerando-se as precipitações médias anuais do local, calcula-se obter até 1,5 a 2 vezes o volume d’água necessário para atender o consumo da família usuária.

 

Reutilização d’água

 

O sistema permite que toda água residuária produzida nas atividades domésticas diárias seja reutilizada. As águas provenientes da lavagem de roupas, por exemplo, seguem para a descarga sanitária, enquanto que as águas residuárias do chuveiro, pia do banheiro e pia da cozinha são reutilizadas na agricultura familiar, através de canteiros de infiltração.

 

“Os efluentes oriundos da descarga sanitária da casa, rico em macronutrientes e micronutrientes, também são direcionados para infiltração no solo, após tratamento em tanque séptico (filtro anaeróbio) com um processo trifásico”, observa Soahd Arruda Rached, engenheira agrícola co-responsável pelo projeto.

 

Ecologicamente correta

 

Toda a residência foi construída por métodos ambientalmente corretos. O engenheiro civil Sidcley Castro, que também participa do projeto, explica que os tijolos utilizados são de solo-cimento, que não precisam passar pelo processo de queima. “Como são de encaixe, dispensam o uso de fôrmas para a parte estrutural e evitam a quebra de parede para a colocação de instalações hidro-sanitárias e elétricas. Por sua forma, dispensam maiores cuidados na hora do acabamento, devido à qualidade e aparência estética”, ressaltou.

 

A casa possui uma arquitetura bem peculiar, com um pé direito de 2,80m e janelas maiores que as de costumes locais, proporcionado maior ventilação. Os tijolos de solo-cimento também possuem comportamento termo-acústico, o que deixa a residência climatizada e com menor incidência de ruídos.

 

Custos

 

A redução dos custos é outro grande diferencial do projeto dos pesquisadores da UFCG. Segundo dados do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil, de maio de 2006, o custo aproximado de material convencional, para uma residência com a mesma área da Eco-residência, era de R$ 247,02 por metro quadrado de área construída. O da Eco-residência era de R$ 136,42, o que representa uma redução de 44,77%.

 

Segundo Sidcley Castro, estudos mostram que, quando se trabalha com materiais alternativos, a redução dos custos gira em torno de 30%. A ampliação desta economia, para mais de 44%, no caso da Eco-residência, se dá por causa da utilização de materiais (areia e solo areno-argiloso) do próprio local de construção da casa.

 

“Vale salientar que neste projeto, fez-se opção pelo uso de paredes com tijolos aparentes e juntas frisadas, como acabamento final, evitando os elevados custos de aplicação de chapisco e reboco. Isso nos mostra que, quando a técnica é aplicada na zona rural, os custos podem ser reduzidos quase pela metade, devido à grande disponibilidade de matéria prima no local”, concluiu.

 

(Kennyo Alex – Ascom/UFCG – 09.07.07)


Data: 09/07/2007