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Pesquisa da Uenf desenvolve técnica cirúrgica inédita

Procedimento sem cortes, considerado “a cirurgia do futuro”, é feito pela primeira vez no mundo em humanos

Pesquisadores
do Hospital Veterinário da Uenf conseguiram desenvolver uma tecnologia inédita para a realização de cirurgias abdominais através de orifícios naturais. Inicialmente testada em cadelas e porcas, ela foi usada com sucesso, em março deste ano, na remoção da vesícula biliar de uma mulher, no Hospital Universitário de Teresópolis.

Foi a primeira vez, em todo o mundo, que este tipo de cirurgia — denominada Notes (Natural Orifice Transluminal Endoscopic Surgery ou Cirurgia por Orifícios Naturais) — foi feito em um ser humano.

A pesquisa foi coordenada pelo professor André Lacerda, da Uenf, e pelo médico Ricardo Zorrón, da UFRJ. Segundo Lacerda — que também é diretor do Hospital Veterinário da Uenf —, a principal vantagem deste tipo de cirurgia é a rápida recuperação do paciente, que pode retomar suas atividades normais um dia após o procedimento.

Isso é possível porque a cirurgia dispensa incisões no abdômen: os instrumentos cirúrgicos podem ser introduzidos através do estômago (boca), da vagina e do cólon. Numa cirurgia convencional de extração de vesícula, o pós-operatório é de 10 a 14 dias, enquanto em uma cirurgia por vídeo-cirurgia é de três a cinco dias.

”Cientistas do mundo todo vêm desenvolvendo pesquisas nesta área, mas ainda não havia um equipamento apropriado para a cirurgia. Nós conseguimos desenvolver um protótipo e o testamos experimentalmente em cadelas. Acredito que em cinco ou, no máximo, 10 anos, esta tecnologia seja aperfeiçoada pelas grandes indústrias de equipamentos médicos e se torne popularizada”, disse.

O procedimento cirúrgico sem cortes vem sendo considerado “a cirurgia do futuro”. Segundo André Lacerda, seu impacto para a medicina pode ser comparado ao causado pelo surgimento da anestesia, no século XIX.

O novo procedimento constitui um avanço em relação à vídeo-cirurgia, desenvolvida na década de 1980 — que, na época, também representava um grande avanço em relação à cirurgia tradicional. Com a nova técnica, não é mais necessário fazer as pequenas incisões chamadas portais, utilizados na vídeo-cirurgia.

”Além de diminuir o risco de complicações no pós-operatório, este tipo de cirurgia proporciona mais conforto ao paciente, que sente menos dor e pode retomar mais cedo as atividades normais. Além disso, os gastos com internação são reduzidos. O procedimento pode ser usado para qualquer cirurgia na área do abdômen”, explica.

Financiada pela Faperj, a pesquisa envolveu, além da Uenf, a Universidade Federal de Pernambuco e a Fundação Nacional Serra dos Órgãos (Feso), de Teresópolis, num total de cinco pesquisadores.

Paciente retirou a vesícula

A primeira paciente a ser submetida à cirurgia por orifícios naturais tem 43 anos e sofria de cálculos na vesícula. Embora pudesse optar pelo procedimento convencional, ela preferiu a nova técnica, mesmo sabendo que seria a primeira a passar por ela.

O órgão foi extraído através da vagina da mulher, que no dia seguinte pôde voltar para casa normalmente, sem dores ou qualquer outro tipo de complicação pós-operatória. A operação foi realizada em março deste ano.

“A cirurgia da vesícula é uma das mais comuns e 80% delas ocorre em mulheres, o que favorece o uso desta técnica. Mas já estão sendo desenvolvidos estudos para a realização da cirurgia também através do cólon. Atualmente também é possível realizá-la pelo estômago”, disse André Lacerda.

O novo procedimento também tem a vantagem de permitir uma cicatrização mais rápida do órgão interno. Além disso, o paciente pode alimentar-se pouco tempo depois da operação.

No exterior, as pesquisas ainda se concentram na área animal e o foco tem sido a cirurgia através do estômago.


(Assessoria de Comunicação da Uenf)
 


Data: 23/07/2007