topo_cabecalho
Jovens que trabalham consomem mais drogas

Estudante que trabalha faz 2,2 vezes mais uso de bebida alcoólica do que o jovem que só estuda. Este foi um dos principais resultados do doutorado da pesquisadora Delma Perpétua de Oliveira, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), que buscou entender a relação entre o uso de drogas psicotrópicas e o mundo do trabalho na vida de 2.718 estudantes da rede de ensino de Cuiabá (MT).

 

A pesquisa também identificou dados similares em relação ao tabaco e um aumento significativo no consumo de outras drogas, como barbitúricos (ácidos de ação sedativa), anfetaminas (estimulantes) e maconha entre os jovens empregados. Para a pesquisadora, isso se dá por diferentes motivos, mas certamente está relacionado à independência econômica que facilita o acesso e compra das substâncias e a necessidade de ser aceito pelo grupo de colegas adultos do ambiente de trabalho. "As atividades profissionais podem ser estressantes aos adolescentes. Muitas vezes provocam insatisfação e a extensa carga horária faz com que eles se dediquem menos às atividades escolares, além de provocar a perda de controle dos pais", pontua.

 

A investigação combinou os resultados com a percepção dos jovens sobre as próprias atividades de trabalho e as características sócio-demográficas, familiares, escolares, de esporte e de lazer. "O objetivo era contribuir para o aprofundamento científico da questão, que abrange não somente os adolescentes de Cuiabá, mas do estado do Mato Grosso e do Brasil como um todo", observa.

 

Os dados da pesquisa coincidem com os do relatório "Jovens em situação de pobreza, vulnerabilidades sociais e violências", do Fundo das Nações Unidas para Educação e Cultura (Unesco), de 2002. O documento identificou que o trabalho, ao invés de funcionar como um meio para que o jovem se afaste das drogas, muitas vezes assegura o acesso a elas. "Em alguns casos, parte do dinheiro que os jovens conseguem é usada para comprar drogas: eu compro roupa, compro maconha, cola, crack, cocaína", explica o relatório.

 

A pesquisa da Unesco também verificou que a insatisfação no trabalho e a alta carga horária são fatores estimulantes para o consumo das substâncias psicotrópicas. "Entre os jovens empregados também são comuns as críticas às relações de trabalho, à remuneração, sendo freqüente considerarem que o trabalho atual pouco contribui para suas vidas futuras. Reclamam da falta de reconhecimento profissional e da falta de oportunidades de mobilidade na atividade que realizam", apontam os resultados qualitativos do estudo.

 

Logo, observa-se que a pesquisa de Oliveira faz um recorte de uma situação similar no país inteiro. A pesquisadora observou que os adolescentes mais expostos às drogas são justamente aqueles com maior jornada de trabalho, variando de quatro a oito horas. Do total de estudantes, 22,7% eram usuários de drogas e dentre os que trabalham o uso pesado de drogas foi de 3,3% contra 1,1% entre os que não trabalham.

 

Álcool

 

Oliveira aponta que o alto consumo de bebida, tanto entre os jovens trabalhadores (81%), quanto entre os que não trabalham (65,8%), se deve, entre outros fatores, ao fato do álcool ser uma droga lícita, de grande acessibilidade e muito associada a acontecimentos prazerosos. "É muito comum eles fazerem festas em suas próprias casas, inclusive com o consentimento dos pais", observa, ponderando que entre os usuários do álcool, a maior parte trabalha no 2º setor da economia, com ênfase nas atividades de construção civil. 

 

A pesquisadora insiste que a educação sólida, tanto familiar, quanto escolar, é fundamental no combate ao uso abusivo do álcool. "Acredito que é necessário fomentar uma formação adequada aos profissionais da escola", explica, lembrando que a mídia e a publicidade agem como poderoso estimulante no consumo da substância. "O consumo é geralmente associado à alegria e ao vínculo grupal. Não aparece um indivíduo só, ele está sempre acompanhado de outros", verifica.

 

Na última semana o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, lançou uma campanha publicitária de combate ao uso do álcool, especialmente focando a juventude brasileira. Para Oliveira, a tentativa é muito boa, pertinente e necessária devido, inclusive, ao alto custo do uso abusivo da bebida para a sociedade.


Data: 20/08/2007