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Ensino de artes nas escolas ainda é inadequado

Melhor aprendizado em matemática e ciências, auxílio na alfabetização, criatividade aguçada e comportamento social positivo. Esses são alguns dos benefícios que o ensino de artes proporciona para os estudantes, segundo a professora aposentada da pós-graduação em arte-educação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, Ana Mae Barbosa, presente no Seminário Internacional de Democratização Cultural, que aconteceu durante os dias 30 e 31 de agosto, em São Paulo.

 

"Está comprovado em inúmeras pesquisas que as aulas de artes são importantes para o desenvolvimento de cognição. São as mesmas artes que nossos chefes de governo acham caro para se investir", criticou.

 

Para Barbosa, os parâmetros curriculares na área não são adequados por serem exatamente iguais em todas as partes do Brasil. "Além disso, é um absurdo terem criado uma cartilha para os professores da área ensinarem sobre artes. O livro padroniza o trabalho num país de culturas diversas e, com isso, limita as aulas. Desrespeita as religiões, quando põe como primeira figura de estudos a imagem da santa ceia", lembrou Barbosa.

 

O presidente da Fundação Nacional de Arte (Funarte), Celso Frateschi, acredita que o ensino de artes nas escolas é avaliado de maneira equivocada. "Quando fui secretário de Educação, Cultura e Esportes do município de Santo André, me deparei com professores que avaliavam de forma equivocada as atividades de artes sem, por exemplo, levar em consideração a criatividade dos alunos. Além do mais era reproduzido para a sala de aula um monte de lixo da cultura de massa. Os professores davam aula com músicas fúteis e diziam que aquilo era aula de expressão cultural. Vale lembrar que são muitas gerações de professores formados nesse paradigma. Não há políticas corretas para a área", lamentou.

 

"É difícil pensar em trabalhar artes nas escolas quando, por muitas vezes, a sala de aula não conta com adaptações e materiais precisos, o que afeta a qualidade dos trabalhos. Se não tem como realizar atividades, acredito que a alternativa seja formar alunos para a apreciação das artes," defendeu a professora adjunta do departamento de Artes Visuais da Universidade Federal da Paraíba, Lívia Marques Carvalho.

 

Barbosa insiste que as artes têm um papel fundamental na reconstrução social de um indivíduo e que, bem mais do que as escolas, as organizações não-governamentais têm trabalhado para que isso ocorra. "Essas instituições têm investido esforços em atividades nessa área. Muitos projetos ao mesmo tempo em que valorizam saberes populares trazem às comunidades conhecimentos mais eruditos," contou.

 

"Não dá mais para contar somente com o papel do Estado, por isso a sociedade civil é importante nesse processo," ressaltou Carvalho, lembrando que um quarto da população brasileira é atendida por organizações que, em sua maioria, têm as artes como principal proposta de trabalho.

 

Carvalho cita um estudo de caso em que investigou o impacto das artes na vida de crianças e adolescentes. A pesquisa, que contou com a participação de mais de 500 crianças e adolescentes com idades entre três e 18 anos, além de educadores, revelou que a atividade artística provoca impacto significativo nas pessoas, como o fortalecimento da auto-estima e a efetivação dos direitos das crianças e dos adolescentes, além da possibilidade de abrir portas para o mercado de trabalho.

 

"Não é objetivo das ONGs tirar as escolas da jogada, mas sim agir junto a elas," explica Carvalho. A docente lembra que essas instituições, por terem liberdade de parâmetros, trabalham as artes de uma forma diferente, adaptando conteúdo e interagindo de fato com os participantes. Numa ONG de Recife, dança e música afro são utilizadas para transmitir herança cultural da região. Em Natal, crianças e adolescentes aprendem sobre artes por meio do teatro", contou.

 

"O trabalho dessas instituições tem como objetivo quebrar preconceitos, aumentar a auto confiança dos alunos e dar oportunidades para que expressem idéias e sentimentos. E deixá-los livres, sem avaliação de certo ou errado, trazer a eles reconhecimento social, impulsionar o aprendizado e alimentar seus sonhos," disse Carvalho. 

 

"Tem se a visão de que as artes são para a elite, pois bens culturais como teatro e cinema são pouco acessíveis para diversas camadas da sociedade. Há outras alternativas, como por exemplo no Serviço Social do Comércio (SESC) em que um milhão e 200 mil pessoas por mês, no país, são atendidas pela instituição gratuitamente ou a preços populares, consumindo ou fazendo arte," revelou o diretor do departamento regional do SESC, no Estado de São Paulo, Danilo Santos de Miranda.

 

Frateschi lembra que é tradição do país fomentar a produção cultural, de forma que acontecem, no país, cerca de 800 estréias anuais, somente no teatro. "Ninguém pensa no acesso dessas atividades. Durante meu governo em Santo André queria aproximar os centros culturais das pessoas, a ponto de não precisarem se deslocar utilizando ônibus, mas indo a pé", lembrou.

 

(Karina Costa, Aprendiz UOL)


Data: 04/09/2007