topo_cabecalho
Estudo da UFCG alerta para os perigos da exposição ao celular

Pesquisa aponta que quase 100% das meninas dormem com o aparelho ligado próximo ao corpo

 

Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o Brasil atingiu, em junho passado, a marca espantosa de 106 milhões e 600 mil usuários de telefone celular. Foram quase 7 milhões novos usuários nos primeiros seis meses do ano, número 21% superior às adições do mesmo período de 2006.

 

Diante de números tão expressivos, é preocupante saber que não há, ainda, nenhum estudo conclusivo quanto aos possíveis danos que a exposição aos campos eletromagnéticos gerados pelos aparelhos pode causar aos seus usuários. Calcula-se que 70 a 80% da energia emitida pelas antenas dos celulares são absorvidas pelo cérebro.

 

Há estudos - a exemplo do divulgado na semana passada, pela revista New Scientist - que afirmam que a exposição aos sinais de telefonia móvel pode desenvolver o câncer, enquanto outros defendem que a energia emitida pelos celulares não causa qualquer efeito adverso à saúde ou ao meio ambiente.

 

Tanta polêmica levou alunos do curso de Medicina da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus Campina Grande, a realizar uma pesquisa sobre os hábitos de jovens estudantes da cidade, quanto ao uso de celulares.

 

“Muito pouco ainda se sabe, de fato, sobre os efeitos biológicos causados pela absorção da radiação eletromagnética. Do ponto de vista da saúde pública, há uma demanda crescente para a realização de novos estudos. Esta pesquisa servirá de base para análises, em longo prazo, de possíveis efeitos causados por tal exposição”, explica Julianny Sales, integrante da equipe.

 

O trabalho de iniciação científica conta com a orientação do professor Marcelo Alencar, da Unidade Acadêmica de Engenharia Elétrica, e o apoio do Instituto de Estudos Avançados em Comunicações (IECOM), do qual o professor é presidente. Ele explica que, apesar da magnitude do tema em questão, os estudos publicados na literatura especializada são em número reduzido e seus relatos ainda não conclusivos; por vezes, conflitantes, “justificando assim novas abordagens do problema”.

 

A pesquisa foi realizada no ano passado, com 3.600 alunos, de 9 a 19 anos, em três escolas particulares de Campina Grande, e traz dados preocupantes. Verificou-se, por exemplo, que 100% das meninas de 18 e 19 anos, dormem com o telefone celular ligado e próximo ao corpo.

 

“As meninas, em geral, têm uma relação diferenciada com os celulares”, conta Amanda Martins, que também faz parte da equipe. “92% das entrevistadas possuem celular, contra apenas 84% dos meninos. Outra grande diferença é quanto à utilização. Enquanto o uso do celular pelos meninos está mais relacionado com outros recursos do aparelho - como jogos e acesso à internet - as meninas o utilizam mesmo é para receber e efetuadas chamadas”, disse.

 

O tempo de exposição também preocupa. Segundo o pesquisador Paulo da Costa, a pesquisa revela que o tempo médio das meninas varia de 1 a 3 horas diárias, sendo que quase 12% delas passam mais de 5h por dia. “Esse tempo inclui chamadas discadas e recebidas, jogos e mensagens de texto”, observa.

 

Para Vanessa Carvalho, é importante lembrar que está sendo colocada à disposição da população, uma enorme quantidade de equipamentos que utilizam campos eletromagnéticos, “sem que se conheçam as possíveis conseqüências biológicas para seus usuários, principalmente as crianças, que estão em processo de crescimento”.

 

Essa falta de dados conclusivos tem gerado medidas conflitantes. Em alguns países da Europa, por exemplo, já estão restringindo o uso de celulares por parte de crianças. Em janeiro, a França retirou do mercado o Baby Cell Phone, um celular destinado às crianças de quatro a oito anos, medida também tomada no Reino Unido e na Holanda, onde uma rede de lojas recolheu o Foony, outro aparelho idealizado para o público infantil.

 

Nos EUA, por outro lado, foi lançado o Tictalk Júnior, que tem como público-alvo os bebês. Embutido em uma chupeta, o aparelho monitora o neném e manda mensagens para os celulares dos pais com a palavra love (amor). Isto ocorre todas as vezes que a criança suga a chupeta.

 

Por aqui, as pesquisas continuam. A equipe da UFCG já prepara um novo estudo, desta vez com estudantes da rede pública. “Será uma pesquisa mais ampla, onde também serão feitas medições das transmissões das torres de celular (estação rádio-base)”, informa Julianny Sales. O trabalho vai contar novamente com o apoio do pessoal da Unidade Acadêmica de Engenharia Elétrica e do IECOM.

 

(Kennyo Alex – Ascom/UFCG)


Data: 06/09/2007