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Leitura deve estar ligada à vida social e concreta da criança

"Os livros são instrumentos que nos inserem em diversas linguagens, contextos e interpretações, enquanto o livro didático é quase sempre homogêneo. Entretanto, o governo continua distribuindo milhões de livros didáticos que mais aprisionam do que libertam e esquecem da importância das bibliotecas".

 

A análise do professor titular da Universidade de São Paulo (USP), Nilson Machado, levanta um dos pontos que estão sendo discutidos na construção do Programa Nacional do Livro e Leitura (PNLL) - conjunto de projetos e eventos na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas em desenvolvimento no país.

 

Segundo um dos eixos do PNLL, aprender a ler significa desenvolver competências que reflitam em todo o processo de comunicação do sujeito, formando um leitor com uma visão ampla e contextualizada, sugerindo assim uma alfabetização baseada nas competências comunicativas do leitor.

 

Apesar disso, as escolas ainda priorizam a alfabetização em uma abordagem formal, categórica e baseada nas regras gramaticais, segundo o psicólogo César Coll, da Universidade de Barcelona, que foi consultor do Ministério da Educação (MEC) na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). "A leitura não pode se desligar da vida social e concreta da criança", diz.

 

"Ler é expressar e interpretar conceitos, pensamentos, fatos, emoções e opiniões de forma oral e escrita", completa Coll, que explica que a leitura deve permitir ao indivíduo interação lingüística adequada e criativa em todos os possíveis contextos sociais e culturais, tanto na educação formal quanto na vida pessoal e profissional.

 

Coll acredita que competências são as capacidades necessárias para o indivíduo atingir as exigências sociais e individuais para realizar uma atividade ou tarefa. "É uma combinação de habilidades práticas e cognitivas inter-relacionadas, que podem ser mobilizadas conjuntamente para atuar de maneira eficaz", explica. 

 

A diretora geral de materiais e métodos educativos da Secretaria de Educação Pública do México, Elisa Bonilla Rius, cita as novas tecnologias como instrumentos para a leitura ser melhor trabalhada. "A Internet proporcionou novas formas de leitura e escrita, e por isso, a comunicação tem se consolidado entre as crianças e jovens dentro desse novo contexto", diz.

 

Estar alfabetizada, segundo ela, não é mais apenas decifrar textos simples, como sugerem as pesquisas sobre alfabetização existentes no México.  "É preciso compreender, ler textos diversos, abordá-los criticamente, avaliar os conteúdos e relacionar com outros conteúdos. Somente dessa forma o aluno conseguirá se comunicar com sucesso", diz Elisa.

 

Para ela, o modelo ideal de material de aprendizado não é, definitivamente, um único livro didático. "A escola precisa de uma boa biblioteca, jornais, acesso à Internet". Elisa afirma que, embora as cartilhas para alfabetização tenham sido oficialmente abolidas, as escolas continuam utilizando apenas um livro de texto ou cópias de atividades de cartilhas com as crianças.

 

Para o escritor Bartolomeu Campos de Queirós, a escola precisa entender o papel do livro na aprendizagem, que não é somente reproduzir informações e pedir que o aluno repeti-las. "Criança não aprende repetindo, ela aprende compreendendo o mundo em que vive", finaliza.

 

(Cássia Gisele Ribeiro – Aprendiz/UOL)


Data: 12/09/2007