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Taxa de fecundidade cai, e população envelhece mais

Brasil poderá enfrentar realidade de países europeus, em que se perde cerca de 1 milhão de pessoas por ano

 

Na classe alta, média de filhos por mulher é de 1,4; no caso das mais pobres, de 3,7. No geral, índice é de duas crianças por mulher; se ritmo de queda da natalidade for mantido, população começa a encolher a partir de 2035

 

A definição de que o Brasil é um país de jovens começa a deixar de ser correta. A taxa de fecundidade média chegou a dois filhos por mulher, índice de reposição da população -um filho "substitui" o pai e outro, a mãe-, e a população continua a envelhecer.

Em 2005, a taxa de fecundidade era de 2,1 filhos. Mantido o atual ritmo de redução da natalidade (acentuada a partir dos anos 80), o país começará a perder população entre 2035 e 2040, estima a demógrafa Ana Amélia Camarano, do Ipea.

 

Em 2006, a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) estimou a população em 187,2 milhões, com crescimento de 1,42% ante 2005.

 

A fecundidade ainda é um traço de desigualdade entre classes sociais. As mulheres mais ricas têm, em média, 1,4 filho. As mais pobres, 3,7 crianças. Embora relativamente elevada, a diferença do número médio de filhos das mais ricas e das mais pobres vem baixando. Era de 3,9 nascimentos em 1992. Cedeu para 2,3 filhos em 2006.

 

Camarano prevê que, de 2025 a 2030, o crescimento populacional cairá para 0,5%, e a taxa de fecundidade baixará para 1,5 filho. O resultado será a redução da população. Em 1984, a taxa de fecundidade era de 3,5 nascimentos por mulher.

 

"O Brasil viverá um problema que os países europeus enfrentam. A Rússia já perde 1 milhão de pessoas ao ano e até criou um feriado para as pessoas se reproduzirem", disse.

 

A diminuição da população traz problemas como a redução do crescimento econômico -ou seja, menos pessoas produzindo riqueza. "A Europa importa trabalhadores da África e da Ásia. Os Estados Unidos, os latinos. E nós vamos importar de onde?", disse.

 

Márcia Quintslr, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, ressalta que o Brasil viu sua fecundidade cair num ritmo "muito mais veloz" do que os países europeus.

 

Para Camarano, a tendência de redução acelerada da natalidade e de expansão do envelhecimento é comum a todos os países em desenvolvimento, embora em níveis diferentes, pois começou tardiamente numa fase de maior desenvolvimento tecnológico -de disseminação do uso da pílula e de avanços da medicina que se traduziram em uma menor mortalidade.

 

"No Brasil, foi mais rápido do que na Índia, mas mais lento do que na China, por exemplo. Na Europa, a fecundidade cai desde o século 19, antes dos avanços tecnológicos. É natural que o processo tenha sido mais lento", completa.

 

A queda de fecundidade, aliada ao aumento da expectativa de vida, também fez crescer a proporção de idosos, tendência acentuada desde a década de 90. A população de 60 anos ou mais correspondia a 7,9% em 1992 e passou para 10,3% em 2006.

 

Em 2005, era de 9,9%. O país tinha 19,1 milhões de pessoas com mais de 60 anos em 2006. A proporção de crianças com menos de 4 anos na população baixou de 10,6% em 1992 para 7,5% em 2006. Eram 14,2 milhões no ano passado.

 

(Folha de SP, 15/9)


Data: 17/09/2007