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Opinião - Che Guevara: cinema e imagem - Parte 2

Che Guevara: cinema e imagem - Parte 2

Wagner Braga Batista

 

A fotografia e o cinema são preciosos instrumentos de investigação social. Têm sido utilizados com muita eficácia na pesquisa sociológica e histórica. A visão panorâmica oferecida pelo cinema permite-nos contextualizar e reconstituir  a trajetória política de Ernesto Guevara.

 

Essa trajetória está intimamente relacionada à emancipação cubana e aos libelos nacionalistas na América Latina nos anos 60.

 

A pujança de Guevara é similar à demonstrada pelo povo cubano em defesa da revolução socialista. Nesse quase meio século de existência, o povo cubano tem enfrentado duros reveses para manter suas conquistas. Um país com 12 milhões de habitantes e com extensão territorial equivalente ao Estado de Pernambuco, apesar da escassez de recursos financeiros e materiais tem obtido indicadores sociais extraordinários. Considerando os obstáculos para a realização de suas metas, na plano da saúde, da educação e da preservação ambiental, o governo cubano alcançou resultados sem paralelos em escala mundial.

 

Entender a trajetória de Guevara implica na compreensão dos percalços enfrentados pelo povo cubano. Suas ações são indissociáveis dos condicionantes que transformaram essa pequena ilha no Caribe em alvo preferencial da política externa norteamericana para a América Latina nos anos 60. O exemplo da insurgência cubana não poderia se repetir e teria de ser esmagado onde se esboçasse. Os golpes que se seguiram ao longo das décadas de 60, setenta e oitenta, só foram aplacados temporariamente durante o Governo Carter (1977-81).

 

Recuperar a imagem de Guevara requer a compreensão do contexto no qual empreendeu sua luta.

 

Após a revolução em 1959, Cuba tornou-se o cenário de intenso bloqueio econômico e de sabotagem planejada na Casa Branca. Entre as ações terroristas podemos mencionar, a Operação Mangusto, em 1961, idealizada e financiada por Robert Kennedy, irmão do presidente dos EUA, John Kennedy e a Operação Northwoods, em 1962, que consistia e, simular atentados nos EUA para justificar a intervenção em Cuba ( U.S. Military Drafted Plans to Terrorize U.S. Cities to Provoke War With Cuba,  ABC News 1º de maio de 2001)

 

A intervenção econômica, política e militar alcançou seu ponto mais alto com o desembarque de mercenários treinados no Panamá, em Praia de Giron, depois denominada Baia dos Porcos, em abril de 1961. A ação militar foi prontamente rechaçada pelo povo em armas e os mil e cem mercenários presos trocados por tratores e mantimentos escassos em Cuba.

 

Cuba jamais foi perdoada pela libertação do jugo político, econômico e cultural norteamericano. A pressão norteamericana e a brutal agressão à Cuba, país que rompera os elos da tirania, da corrupção, da prostituição e do tráfico patrocinados pela Máfia, culminou com política de beligerância que se estende aos dias atuais. Teve como contrapartida a adoção de estratégias cubanas desenvolvidas em duas frentes: fortalecimento de alianças com países do terceiro mundo e disseminação das lutas de libertação nacional.

 

Guevara foi um expoente dessa estratégia. Seu propósito maior foi evitar o isolamento de Cuba e induzir a intervenção militar norteamericana aberta em vários países, a exemplo do que ocorria no Vietnã. Nesse contexto é formulada a proposta de realização de conferencia capaz de agregar todas as forças progressistas, nacionalistas e revolucionárias do terceiro mundo. Seu principal dirigente, o argelino Ben Barka, foi seqüestrado, torturado, assassinato e seu corpo transportado por policiais marroquinos e pelo serviço secreto francês em mala diplomática para a França.

 

A Organização Latinoamericana de Solidariedade- OLAS ( onda em espanhol ) como foi denominada por Salvador Allende pretendia se espraiar por todos os continentes. Guevara, então organizando movimentos insurrecionais no cone sul, enviou mensagem à conferencia realizada em

O texto que se vulgarizou como Criar dois ou três Vietnãs, esta é a palavra de ordem”  espelha seus objetivos naquela conjuntura.  ( Mensaje a la Tricontinental:, Ernesto Che Guevara, maio de 1967, Obra Revolucionaria, México, Ediciones Era S.A., 5ª Edição, 1972, p.640/650) s Escolhidas)

 

Alimentando essa concepção de resistência, Guevara tornou-se o principal articulador, sustentáculo e vetor da estratégia de enfrentamento do imperialismo norte-americano na década de 60. Graças a sua influência interna em Cuba e junto a aliados internacionais, Guevara apoiou as lutas de argelinos, congoleses e favoreceu a irrupção de movimentos de resistência na América latina. Ainda hoje, há teses que o consideram elemento de dissensão no estabelecimento de diretrizes políticas e econômicas em Cuba, principalmente no tocante à política externa.


Data: 03/10/2007