topo_cabecalho
Proteína pode levar a vacina contra Aids, diz estudo

A imunoglobulina A existe nas mucosas da boca e órgãos sexuais

 

Pesquisadores italianos afirmam ter descoberto o papel de uma proteína que pode ser fundamental no combate à Aids e a outras doenças sexualmente transmissíveis. A revelação do novo mecanismo imunológico pode até ajudar na criação de uma vacina anti-Aids.

 

A proteína seria capaz de potencializar a criação de anticorpos contra o vírus HIV e pode representar um avanço importante para a medicina.

 

A quemoquina, presente no organismo humano e envolvida em processos inflamatórios, estimula as células responsáveis pela imunidade a aumentar a produção da imunoglobulina do tipo A, na região genital, a principal porta de entrada do vírus HIV.

 

Normalmente, este anticorpo já está presente nas mucosas da boca, do intestino e dos órgãos sexuais, mas em quantidades menores.

 

O resultado da pesquisa foi anunciado pelo professor Mario Clerici, do Departamento de Ciência e Tecnologia Biomédica da Universidade de Milão.

 

Zâmbia

 

Clerici coordena uma equipe internacional de 15 cientistas do Hospital SS. Annunziata Antella (Florença), do IRD de Montepellier (França) e das universidades americanas Columbia (Nova York), UCLA (Los Angeles), além da africana da Zâmbia, em Lusaka.

 

Os cientistas já tinham indícios da relação entre o aumento da produção de quemoquina e a lenta progressão da doença, mas a certeza chegou somente agora.

 

"Tudo começou na Zâmbia. Observamos que os filhos de cem mães com Aids bebiam o leite materno contaminado e se tornavam soropositivos" contou Clerici, em entrevista à BBC Brasil. "Alguns morreram após 15 meses de vida, outros sobreviveram muito mais tempo ou continuam vivos."

 

"Nos perguntamos a razão e descobrimos uma alta concentração de quemoquina no leite das mães dos filhos sobreviventes", acrescentou.

 

A proteína CCL 28 foi encontrada no leite materno que 'salvou crianças'

 

A concentração da proteína quemoquina, conhecida pela sigla CCL 28, encontrada no "leite forte" era cerca de 53 vezes acima do nível normal.

 

Cruzamento de informações

 

O passo seguinte foi cruzar esta informação com a de uma pesquisa já em curso no mundo inteiro, desde 1997, sobre casais nos quais o parceiro é soropositivo.

 

Na Itália, 70 mulheres de companheiros contaminados continuavam imunes a doença mesmo mantendo relações sexuais sem qualquer tipo de proteção.

 

"Nessas mulheres, verificamos que a concentração de quemoquina é também bem elevada", afirmou o professor Clerici.

 

Elas apresentaram concentração da proteína na saliva oito vezes acima da taxa normal.

 

Os estudos demonstraram ainda que o excesso de quemoquina correspondia a uma produção de anticorpos multiplicada por três ou quatro vezes.

 

Macacos

 

A prova final veio com exames de ratos em laboratório. As cobaias foram divididas em dois grupos.

 

Ambos foram inoculados com o vírus da Aids, mas apenas um recebeu a dose de proteína CCL 28.

 

"Constatamos que os ratos vacinados com a quemoquina tinham muitíssimo IgA ( imunoglobulina A). Reproduzimos o fenômeno em cobaias e comprovamos que a diferença foi provocada pela presença da proteína", disse Clerici, que agora vai reproduzir a pesquisa substituindo o vírus HIV por transmissores de herpes, tricomonas e clamídia.

 

A agenda do próximo ano já prevê o estudo em macacos, último passo antes do teste em homens.

 

A equipe de pesquisadores ainda não sabe as razões para o aumento da produção de quemoquina pelo organismo humano.

 

"Estamos atrás desta resposta. Não sabemos se é um gene, por exemplo. Encontrar esta explicação é o nosso principal objetivo", concluiu Clerici.


Data: 04/10/2007