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Opinião - Che Guevara: cinema e imagem- Parte 3

Che Guevara: cinema e imagem- Parte 3

Wagner Braga Batista

 

Dia 8 de outubro é data alusiva ao assassinato de Ernesto Che Guevara, na Bolívia. A exemplo do que ocorreu em outros anos, várias manifestações serão realizadas nas proximidades dessa data. Com objetivos distintos, procuraram destacar o significado da luta de Guevara.

 

Como fato histórico, essa data já é polêmica. Em verdade seu assassinato ocorreu um dia depois. Foi perpetrado pelo sargento Mario Teeran, a sangue frio, após a sua captura em La Higueras, Bolívia.

 

Por determinação expressa do General Ovando, então ditador da Bolívia, a execução foi efetivada após a divulgação pelo rádio da sua morte como se tivesse ocorrida em combate, um dia antes. Esse expediente foi bastante utilizado por organismos de repressão na América Latina. Após a sevícia e a mutilação de presos políticos, sua morte era anunciada previamente ã imprensa sob censura. As condições da morte dos presos eram ditadas por seus algozes. No Brasil, dois casos são expressivos. Joaquim Seixas, tomou conhecimento de que seria assassinado por meio da manchete de jornais.

 

Eduardo Collen Leite, preso semanas antes, também foi informado de que seria morto numa fuga simulada. Vide depoimento de Ivan Seixas no filme 15 filhos (Maria Oliveira/ Marta Nehring, 1996, 20 min)  e MIRANDA, Nilmário; TIBÚRCIO, Carlos. “Dos filhos deste solo: mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura militar: a responsabilidade do Estado”. São Paulo: Boitempo: Perseu Abramo, 1999.

 

Como veremos adiante a tortura e o extermínio de opositores transformaram-se em eixos de estratégias políticas de regimes ditatoriais na América Latina.

 

O assassinato de Guevara insere-se nessa estratégia.

 

Envolta em sigilo, a execução foi gradativamente desvelada por meio de depoimentos e fotos. Recentemente, em fevereiro de 2006, o jornal argentino Clarin, divulgou fotografias feitas pouco antes e após seu assassinato. Possivelmente, o fotografo teria sido o piloto do helicóptero que transportou o corpo de Guevara. O filme foi entregue a um dos integrantes da inteligência militar do Estado Maior boliviano, Federico Arana Serrundo, que contrariou a ordem de Félix Ismael Fernando José Rodríguez Mendigutia, Felix Medina, refugiado cubano e agente da CIA, responsável pela monitoração e identificação de Guevara, na Bolívia. O agente determinara que não houvesse vestígios da execução, no entanto as imagens foram preservadas.

 

Felix Rodrigues, ex-membro da polícia de Fulgencio Batista, participara de atos de sabotagem e da malograda invasão da baía dos Porcos, em 1961. Alguns detalhes sobre a morte de Guevara já haviam sido relatados por Felix Rodrigues ("Executive Action," documentário realizado pela BBC, em 1992). A CIA pretendia estender o interrogatório de Guevara, transportando-o para o Panamá. Contudo, houve choque de orientações e precipitação do governo militar boliviano. Os militares temiam a repercussão de outro julgamento político, a exemplo do que ocorrera com Regis Debray e Ciro Bustos, realizado dias antes em Camiri, que fora acompanhado por toda  imprensa internacional. Em código, o agente da CIA recebeu e transmitiu a ordem para que Guevara fosse executado.

 

Felix Rodrigues tem sido um dos principais colaboradores norteamericanos na guerra suja. No final da década de 60, participou da operação Phoenix, que consistia na eliminação sumária de civis opositores no Vietnã. Estima-se que mais de 5 mil pessoas forma mortas. Nos anos 80, envolveu-se diretamente em intervenções na América Latina, especialmente na América Central. Participou ativamente da formação de grupos paramilitares e esquadrões da morte. Em 1985 juntamente com o ex-coronel Oliver North foi denunciado pelo Congresso norteamericano, pelo acordo secreto envolvendo a venda de armas para o Irã e o repasse de recursos para os contra-revolucionários na Nicarágua.

 

Felix Rodrigues, beneficiou-se de sua relação com George Bush, ex-diretor da CIA e Presidente norteamericano. Possivelmente graças às comprometedoras informações que dispõe e à complacência do pai do atual presidente dos Estados Unidos, vive com prerrogativas de agente da CIA, tranquilamente em Miami, safando-se da justiça e portando botins sacados de suas vítimas, a exemplo do relógio de Guevara. Sobre a relação de George Bush e  Felix Rodrigues ler: ALLARD, Jean-Guy George e Félix, história de uma antiga amizade” Granma Internacional URL: http://granmai.cubaweb.com/portugues/julio02-4/30geor-p.html, acessado em 22 de abril de 2007.

 

Esse é o interlocutor preferencial da Revista Veja, em reportagem que traça um perfil bastante desabonador de Guevara.( Che: Há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa Veja, Edição 2028, 3 de outubro de 2007 URL: http://veja.abril.com.br/031007/p_082.shtml ). Nela, Guevara é apresentado como um comandante militar inepto, aventureiro, egocêntrico, sanguinolento, extorcionário e destituído de qualquer propósito político mais edificante.

 

Afinal, o periódico, que congrega vários expoentes da direita raivosa, faz por merecer a injeção de capital do grupo sul-africano Naspers, defensor da elite branca e do apartheid.


Data: 04/10/2007