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Opinião - Che Guevara: cinema e imagem - Parte 5

Che Guevara: cinema e imagem- Parte 5

Wagner Braga Batista

 

Documentos básicos para a compreensão da campanha na Bolivia são os diários de guerrilheiros e os textos de militares que participaram direta ou indiretamente dos comabtes .Os diários de Guevara e de outros guerrilheiros, Alberto Fernández Montes de Oca, Pacho o Pachungo; Octavio de la Concepción de la Pedraja, Moro, Muganga o Médico; Eliseo Reyes Rodríguez, Rolando e Israel Reyes Zayas, Braulio estão disponíveis no portal URL: http://www.diariochebolivia.cubasi.cu/. Acompanhados de extensa documentação oferecem um registro bastante denso da guerrilha na Bolivia.

 

O último registro de Guevara foi feito em 7 de outubro, dois dias antes de sua morte. Cercado pelas tropas inimigas, não tinha a idéia da sua extensão e do que se avizinhava.

 

O portal criado recentemente apresenta noticiário da época sobre a guerrilha, há vídeos, discursos e fotos de Guevara, incluindo algumas imagens da fase de preparação da campanha.  Os mapas indicam o percurso de Guevara, desde sua saída de Cuba perfazendo o trajeto da coluna guerrilheira na Bolivia. Nele não há referencia a sua passagem por São Paulo, Brasil, onde teria mantido contato com Carlos Marighella, em novembro de 1966. Esse fato, relatado por Mir (MIR, Luis. A revolução impossível. São Paulo: Best Seller: Círculo do Livro, 1994) é objeto de questionamentos. Contudo, não esse encontro não deve ser descartado, pois relaciona-se com a perspectiva de irrupção da luta armada no Brasil. Na oportunidade algumas iniciativas estavam em andamento, sendo organizadas por ex-sargentos e marinheiros, ligados à Brizola,  em três pontos distintos, sul do Para, Mato Grosso e na Serra da Mantigueira, Caparaó. Todas essas tentativas foram frustradas.  

 

A beligerância provocada pela guerra fria e as sucessivas agressões norte-americanas resultaram na formação em Cuba de um estado militarizado voltado permanentemente para a defesa interna.

 

É significativa a afirmação de I.D Mallory, do Dpto de Estado dos EUA, em 16 de abril de 1960: “Devemos utilizar de qualquer meio concebível para debilitar a vida econômica de Cuba...a fim de causar fome, desespero e a derrota do governo” (Una isla en la corriente,” (Daniel Dias Torres, s.d., 56 min).

 

O bloqueio econômico imposto à Cuba desde 1961, implicou em grandes privações para a população civil (ver Bloqueo: la guerra contra Cuba”( Daniel Desalons, 2005, 72min)) Teve como contrapartida a aproximação crescente com os países do leste europeu e a busca de articulação com países e movimentos revolucionários que procuravam romper com a escalada intervencionista norte-americana e com a instalação de regimes ditatoriais no terceiro mundo.

 

O empenho em disseminar a ação revolucionária não era recente. A preparação de  combatentes de outros países já vinha sendo realizada desde o início dos anos 60. Em 63 Guevara apóia a formação de movimento revolucionário dirigido por Ricardo Masetti. Seus integrantes serão dizimados pela repressão, no norte da Argentina.

 

Tendo em vista a revolução continental, em março de 1966, chega à Bolivia o grupo de cubanos que articulado com dissidentes do PCB irá constituir as bases da guerrilha em Ñacahuazú. Guevara aportará na à área de implantação da guerrilha nove meses depois.

 

A fase de preparação e de consolidação das bases guerrilheiras foi precocemente interrompida com os primeiros confrontos com tropas do exercito, em março de 1967.

 

 A estratégia de cerco e aniquilamento à guerrilha tem início logo após as primeiras escaramuças. Em abril de 1967, irá se aprimorar com a intervenção direta de assessores norte-americanos, provocando a divisão da guerrilha em duas colunas. Após vários embates e vitórias da guerrilha, uma das colunas  será aniquilada na travessia do Rio Grande, em agosto de 67.

 

O cerco à guerrilha implicou em que seus componentes tivessem que se deslocar constantemente em condições extremamente adversas. Sem apoio popular, em terreno inóspito e sem víveres, viram-se submetidos a contínuo fustigamento das tropas do exército. No intervalo de poucos meses, foram melhor preparadas e adaptadas à realidade.

Como veremos a seguir, Guevara será capturado e assassinado. Seus companheiros remanescentes continuam na luta.

 

Mantêm-se sob cerco intenso de três divisões do exercito boliviano num território de perímetro reduzido. Essa passagem da guerrilha boliviana é pouco lembrada. O enfrentamento realizado pelos poucos sobreviventes. Há dois importantes registros dessa luta de resistência: Entre leyendas, (Rebeca Chavez, 1988, 27 min) e 4 de outubro de 1997, (Rebeca Chavez, 1988, 33 min).

 

Nesses documentários, Leonardo Tamayo Nuñes,Urbano, Harry Villegas Tamayo, Pombo e Dariel Alarcon Ramirez, Benigno relatam como romperam o cerco das tropas bolivianas.Bastante debilitados e alguns com ferimentos graves, os guerrilheiros enfrentaram situações extremamente adversas. Sofrendo duras privações, sem dormir, com fome e sede mantiveram-se em alerta constante. A árdua jornada teve em Urbano um sustentáculo, escalando várias vezes o mesmo para carregar companheiros. Por fim, durante uma noite, numa investida arrojada projetaram-se sobre acampamento das tropas do exercito, gerando confusão e pânico entre os soldados, incapazes de incapazes de identificar os guerrilheiros durante o tiroteio.. Essa manobra imprevista permitiu que atravessassem as linhas e pudessem avançar na direção da zona urbana.

 

Depois de 15 confrontos, cinco sobreviventes mantiveram-se abrigados na choupana de um camponês até a recuperação dos feridos. Harry Villegas,”Pombo”, Dariel Alarcón, “Benigno”, Leonardo Tamayo, “Urbano”, Guido Alvaro Peredo Leigue, “Inti Peredo” e David Adriazola Darío”.Urbano e, deslocaram-se até Cochabamba para providenciar a remoção de todos.

Após duas tentativas conseguiram sair da área sob cerco, chegando à fronteira do Chile em fevereiro de 1968. Foram recebidos pelo Senador Salvador Allende e a seguir repatriados para Cuba.

 

Inti Peredo continuou sua luta na Bolivia e foi morto em 1969.


Data: 08/10/2007