topo_cabecalho
Opinião - Che Guevara: cinema e imagem - Parte 7

Che Guevara: cinema e imagem - Parte 7

Wagner Braga Batista

 

A propósito da reportagem de Veja.

 

Em 1997, a tônica da Veja era outra. Apresenta outro perfil para o agente da CIA, atualmente seu interlocutor preferencial. Então salientava a busca da notoriedade e a apropriação indébita dos poucos pertences de Guevara: “... seu fuzil avariado, a carteira, dois relógios Rolex de aço, o cachimbo, a caneta com que escreveu seu diário de campanha, tudo foi rapinado. O cubano exilado Félix Rodríguez, veterano da CIA e coordenador da execução a frio de Che, roubou-lhe o fumo e a imagem -- fez questão de ser retratado ao lado da presa, minutos antes de seu fuzilamento.” ( O Triunfo final de Che, Revista Veja, URL: http://veja.abril.com.br/090797/p_088.html acessado em 2 de outubro de 2007

Atualmente, todos esses fatos são omitidos para traçar uma fisionomia distorcida de Guevara. A conjuntura, os protagonistas desse processo histórico são embotados pela ênfase em supostas deformidades de caráter de Guevara. Sob esse viés, seus executores prestaram um serviço relevante à História.

 

Se os autores dessa reportagem se mantivessem atentas à realidade, poderiam atribuir a frieza e a insensibilidade a outros protagonistas.

 

Por ironia da história, médicos cubanos hoje prestam relevantes serviços à população boliviana. Um dos seus pacientes, o sargento Teran, executor de Guevara, curado da cegueira.  Apresentando-se incógnito, o sargento Teran foi um dos beneficiados por um serviço público que hoje alcança indistintamente a todos na Cuba socialista. Beneficiado por um programa que poderia ter a amplitude de uma política social.

 

Apesar da indignação, a médica que fez a cirurgia ressalva: “... teria tratado o ex-militar mesmo sabendo a sua identidade. «É nosso dever, nossa obrigação. E, depois, o Che acaba de ganhar outra batalha» Bolívia: cubanos restituem a visão a militar que matou o Che Diário Digital URL:http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=297527 acessado em 2 de outubro de 2007.

 

Como as duas faces de uma moeda, a mística e a desmistificação, podem ser expressão de um mesmo fenômeno. Guevara não se pretendeu um homem excepcional, diferente de outros homens. Como socialista, procurou se forjar como um homem novo, apto a enfrentar os desafios de uma sociedade centrada em valores mais edificantes e solidários.

 

Os fabricantes de mitos, tendem a ruir com suas mitologias. Falsos iconoclastas cultuam o ranço e o ódio próprio daqueles que não conseguem divisar horizontes mais amplos para humanidade. Suas metas não ultrapassam os estreitos limites impostos pela ideologia, pela ganancia e pela selvageria do capitalismo.

 

Nessa inflexão, a  farsa é cultivada como uma moeda de troca, com a qual parcela considerável da mídia semeia e capitaliza falsas imagens e convicções.

 

A desfiguração não é gratuita, é parte de um esforço de diluir ou denegrir o potencial crítico que a imagem de Guevara encerra. Na atualidade, o resgate dos valores subjacentes a essa imagem surge como um libelo contra as desigualdades e injustiças, sinaliza a necessária luta em defesa dos povos e minorias oprimidas. Além do mais, a data de seu assassinato deve ser rememorada como um momento de reflexão e de resistência por todos que voluntaria ou involuntariamente contribuem para preservar a soberania do povo cubano, um exemplo para os países da América Latina e para o mundo.


Data: 10/10/2007