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Pesquisa analisa a pobreza e as desigualdades na América Latina

O trabalho, desenvolvido desde 2005, resultou na organização do livro "Produção de Pobreza e Desigualdade na América Latina" , lançado neste ano

Com tantos avanços tecnológicos, científicos, de produção alimentar e saúde, por que a pobreza ainda ocupa local de destaque na conjuntura social dos países da América Latina? Não foram poucos os estudos científicos que se debruçaram sobre o tema da pobreza, que a identificaram e descreveram. Porém, não será apenas analisando a pobreza que se criarão meios para erradicá-la definitivamente, é preciso compreender outros fatos inerentes à pobreza e que ajudam a mantê-la onde está.

Para dar continuidade à longa tradição de pesquisa nessa área, o sociólogo e pesquisador 1B do CNPq, Antonio David Cattani, e Alberto D. Cimadamore, da Universidad de Buenos Aires, desenvolveram uma parceria com dois grupos de trabalho da Asociación Latinoamericana de Sociologia (ALAS), os grupos número 19, de Reestruturação Produtiva, Trabalho e Dominação Social, e 9, de Desigualdade, Vulnerabilidade e Exclusão Social, junto com o Programa CLACSO-CROP (Consejo Latinamericano de Ciencias Sociales e o Comparative Research Programme on Poverty, vinculado ao Conselho Internacional de Ciências Sociais). Essa parceria integrou a pesquisa de desenvolvimento do Projeto Sociologia das Desigualdades Socioeconômicas, apoiado pelo CNPq, que resultou na organização do livro Produção de Pobreza e Desigualdade na América Latina , lançado neste ano.

O trabalho, desenvolvido desde 2005, começou com a mesa-redonda sobre Trabalho, produção de pobreza e desigualdade na América Latina e no Caribe, no contexto do XXV Congresso da ALAS, ocorrido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, consolidando a parceria com pesquisadores de diversos países da América Latina. Na seqüência, ocorreram oficinas e uma apresentação pública organizada no Instituto de Investigações Gino Germani, da Faculdade de Ciências Sociais, Universidade de Buenos Aires.

O primeiro resultado desse trabalho foi a publicação do livro que reúne oito artigos de pesquisadores participantes desta parceria, nos quais se analisam as possibilidades de diminuição da pobreza na América Latina correlacionada à diminuição das desigualdades.

Desigualdades e pobreza

Entre os países latino-americanos, além da geografia e a origem latina, a pobreza e a injustiça social são características comuns e históricas.

Segundo Cattani, muitas pesquisas sobre pobreza foram realizadas nos últimos anos, a maioria no sentido de identificá-la, de estabelecer critérios e conceitos para adoção de políticas públicas, mas raramente correlacionando a pobreza e uma de suas mais terríveis e permanentes facetas nas sociedades latino-americanas: a concentração de renda.

Ao se abordar o tema da desigualdade, principalmente em um país como o Brasil, uma questão fundamental é a distribuição de renda.

Segundo dados apresentados pelo pesquisador em seu projeto, menos de 1% da população rica brasileira detém o equivalente à renda de 40% da população mais pobre. Enquanto o país está entre as doze maiores economias, é o terceiro colocado no planeta entre os países com a pior distribuição de riquezas.

Cattani afirma, em sua pesquisa, que é impossível separar a pobreza deste fato, e para verdadeiramente tentar entendê-la e superá-la, é necessário considerar as dimensões relacionais entre o "pólo riqueza" e o "pólo pobreza."

A partir da correta compreensão do fenômeno de construção, produção e reprodução da pobreza e desigualdade nesses países será possível encontrar maneiras de mudar esse quadro.

Solução

Diante de um quadro de produção e crescimento da pobreza e desigualdade, o sociólogo afirma que "com esse livro, queremos colocar em lugar de alta visibilidade os processos e agentes responsáveis, afirmando a necessidade de se romper com o círculo vicioso que retroalimenta a pobreza com a desigualdade, consolidando-as no tempo".

Mas, para isso, os pesquisadores buscaram identificar a natureza dos processos dessa produção/construção que estão em curso, os perpetradores e suas vítimas, descartando soluções, chamadas por eles de messiânicas, as afrontas à democracia, os remendos filantrópicos e as ações empresariais e governamentais, que "sob a lógica do mercado concorrencial, produzem e reproduzem mais pobreza e desigualdade", expõe Cattani.

E para finalizar o livro, em seu artigo, o pesquisador Cattani sustenta a tese de que "é necessário recuperar-se a dimensão relacional entre o pólo pobreza e o pólo riqueza, pois a brecha social que existe entre os dois pólos vem aumentando como resultado de processos convencionais de extração de mais-valia, mas também como conseqüência de estratégias empresariais tornadas possíveis pela desmedida na concentração de renda".

E completa afirmando que a riqueza substantiva garante privilégios e impunidade, bem como assegura transferências permanentes de recursos dos trabalhadores para segmentos cada vez mais restritos que permanecem estrategicamente escondidos do olhar crítico das Ciências Sociais.

"Buscar soluções para o problema da pobreza e da desigualdade que atinge todo o continente latino-americano é o imenso desafio", finaliza.

Prêmio Jovem Cientista de 2007

Em consonância a esse desafio, o CNPq também está buscando soluções para reduzir as desigualdades sociais. Traçando um caminho por meio da educação, a XXIII edição do Prêmio Jovem Cientista, traz como tema Educação para reduzir as desigualdades sociais.

O prêmio incentiva os estudantes e jovens pesquisadores a buscar novas alternativas, para temas que afetam diretamente a população brasileira, e estará premiando, em 2007, estudantes do Ensino Médio, de Graduação, estudantes já Graduados, seus orientadores e Instituições de Ensino, que apresentarem projetos que trazem propostas para a redução das desigualdades sociais, por meio da educação.

Uma parceria entre CNPq, Eletrobrás, Fundação Roberto Marinho e Gerdau, o prêmio receberá inscrições até o dia 21 de dezembro de 2007.

Outras informações pelo endereço http://www.jovemcientista.cnpq.br/.

(Assessoria de Comunicação do CNPq)


Data: 22/10/2007