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Expedição à Amazônia testa tecnologias para monitoramento florestal

Um dos objetivos é entender a biodinâmica da região

Até esta terça-feira, equipe formada por cientistas do Centro de Pesquisas Renato Archer (CenPRA) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) realiza expedição ao Morro dos Seis Lagos, 70km ao norte de São Gabriel da Cachoeira (AM), a cerca de 800 km de Manaus.

A expedição contribuirá com dados para o projeto Cognitus, organizado pela Petrobras, que a visa desenvolver e implementar ferramentas cognitivas para proteger a floresta de possíveis derramamentos de óleo.

O maior objetivo da viagem é analisar a atividade de peixes elétricos nos lagos, usando robôs e sensores desenvolvidos pelo projeto.

A Petrobras extrai gás natural e petróleo da região amazônica e usa seus rios para o transporte. Procurar entender melhor a biodinâmica da floresta, ou seja, o comportamento da bacia hidrográfica na época das cheias e de seca, e evitar possíveis derramamentos de hidrocarbonetos, são os objetivos maiores do projeto Cognitus, Ferramentas Cognitivas para a Amazônia, iniciado cerca de três anos atrás.

Para atingir o objetivo de compreender melhor a biodinâmica da floresta, o projeto montou uma equipe multidisciplinar: existem pesquisadores na área de mecatrônica, que constroem robôs capazes de navegar pelos rios da região e locomover-se nas suas planícies; um segundo grupo, de nanobiotecnologia, responsável pela construção de sensores para captar as características da floresta, como temperatura, pH, umidade, presença de hidrocarbonetos, atividade elétrica etc. E, finalmente, há uma equipe composta por filósofos e estudiosos de semiótica que atuam na interpretação destes dados obtidos.

Segundo Roberto Tavares, pesquisador do CenPRA que coordena a equipe de robótica, os maiores avanços foram a obtenção de uma tecnologia totalmente nacional que atende às demandas específicas da região amazônica.

"Construímos robôs e sensores que são capazes de locomover-se por áreas inundadas, planícies, ir ao fundo dos rios, medir a erosão das áreas desflorestadas e a subida das águas, sempre coletando dados para compreender melhor a floresta.

"Tavares ressalta ainda a importância do envolvimento de pesquisadores de diversas áreas, pois isto permite que a complexidade do ecossistema seja estudada por meio dos "prismas de diferentes áreas do conhecimento".

Um dos principais objetos de estudos do projeto e da expedição é o peixe-elétrico, conhecido em línguas indígenas como poraquê.

Existem cerca de 150 espécies de peixes na bacia amazônica que utilizam sinais elétricos para analisar as características do ambiente.

Estas correntes elétricas permitem que os animais se localizem, busquem alimentos, percebam a temperatura, disputem fêmeas na época do acasalamento, defendam-se de predadores e analisem as características das águas em geral.

A equipe de pesquisadores desenvolveu robôs que captam estes sinais para a análise. Em testes de laboratório, já foram identificados dois fatores que alteram os sinais elétricos dos peixes: a temperatura e o PH da água.

"Nossa meta ambiciosa e de longo prazo é ter robôs que naveguem de forma autônoma e que captem e interpretem os sinais dos peixes", afirma Tavares.

Isto ainda não é possível, mas no futuro o pesquisador vislumbra que estes robôs poderão perceber as alterações na floresta e, no caso de um derramamento de óleo, enviem sinais por satélite para avisar do acidente ou mesmo até, automaticamente coloquem barreiras de contenção na área.

A expedição é importante para o projeto, pois servirá para acrescentar novos dados à base do Cognitus.

O Morro dos Seis Lagos é uma formação rochosa bastante peculiar na planície amazônica, tem 16km² e quase 300 metros de altura.

Os lagos são isolados hidricamente do resto da bacia amazônica e cada um tem uma cor, devido a diferentes componentes químicos.

Além disto, o Morro é rico em nióbio, um metal raro e caro, utilizado pela indústria aeronáutica, mas que não pode ser extraído, já que o local encontra-se em uma reserva indígena.

A expedição conta com robôs que medirão a atividade bioelétrica dos lagos. Será a primeira vez que tais estudos serão feitos.

Devido ao isolamento destas águas, Tavares acredita que será possível analisar os sinais elétricos dos peixes em um ambiente diferente, dando ao grupo uma nova base de dados que servirá para uma melhor compreensão da "linguagem" dos poraquês.

O exército auxiliará os pesquisadores no transporte por rio até o Morro e na instalação do acampamento. Para chegar até o local, é necessária uma viagem de um dia e meio por meio dos igarapés até a chegada à base.

Para alcançar o alto do morro o grupo ainda precisa de uma trilha de cerca de seis horas. "Diante das dificuldades, o apoio do exército é essencial, para que nós pesquisadores possamos focar só nos experimentos", conclui Tavares.

(Luciano Valente, Divisão de Comunicação do CenPRA)


Data: 22/10/2007