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Computador nas escolas só dá resultado com internet, diz estudo

Acesso à rede garantiu 5,6 pontos a mais a alunos na prova de matemática do Saeb, avaliação oficial do governo

 

Escolas que usam computadores sem conexão à internet não ganham em desempenho, chegando a baixar suas médias em avaliações oficiais. O que melhora o aprendizado é o acesso à web.

 

Levantamento realizado por Roberta Bioi e Fabiana de Felício, técnicas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação (Inep/MEC), com base em dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), concluiu que ter computadores conectados à rede eleva em 5,6 pontos o resultado dos alunos.

 

Já simplesmente manter laboratórios de informática influencia negativamente os resultados, chegando a diminuir a média das escolas. “(Há) relação negativa entre a existência de laboratório de informática na escola e o desempenho escolar médio em matemática”, indica a pesquisa. O problema é que, embora o governo federal tenha programado a implantação de laboratórios de informática em todas as escolas públicas do País até 2010, nem todos estarão ligados à rede mundial.

 

O estudo do Inep foi feito levando-se em conta turmas de 4ª série do ensino fundamental que fizeram as provas de matemática. Foram consideradas apenas as escolas que participaram do Saeb nas provas de 1999, 2001 e 2003. O Saeb faz, a cada dois anos, avaliações de português e matemática da 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio. Desde 2005, o MEC aplica a prova a todos os alunos das três séries de todas as escolas do País.

 

Os resultados da pesquisa do Inep estão sendo usados pela Secretaria de Educação a Distância (Seed) do MEC para defender o programa de informática do governo federal nas escolas. “Laboratórios conectados à rede, professores capacitados e conteúdo educacional para ser usado como material pedagógico, isso muda a sala de aula”, afirma o secretário de Ensino a Distância, Carlos Eduardo Bielschowsky.

 

Ainda assim, ele discorda da relação entre o uso de laboratórios sem acesso à internet e queda no desempenho. Para o secretário, a diferença não é significativa, apesar de haver uma queda de cinco pontos no rendimento. “É muito pouca diferença. Tenho certeza que os laboratórios ajudam. É preciso alfabetizar os alunos na informática”, defendeu.

 

Entre 2005 e 2006, o MEC comprou equipamentos para mais 10,6 mil escolas, todas de ensino médio e nas zonas urbanas. No total, hoje, o governo atende 40% dos alunos das escolas públicas - a prioridade foi dada para as escolas maiores, que têm mais estudantes. A partir deste ano, entraram no programa também as escolas rurais e de 5ª a 8ª série. Já foram comprados equipamentos para 20 mil escolas, que serão instalados até a metade de 2008. Até o final de 2009, o número deverá chegar a 500 mil novos computadores, de acordo com o secretário - o suficiente para equipar cerca de 50 mil escolas.

 

A conexão com a rede, porém, o mais importante segundo a pesquisa, é mais difícil. Hoje, 43% dos municípios só têm conexão com a internet através de linha discada, e muitas apenas com conexão interurbana.

 

Cerca de mil municípios não teriam internet nem mesmo através de linha discada. O governo estuda uma forma de fazer esse investimento, usando fibra ótica e redes sem fio e de rádio, mas o custo é alto. “É uma tarefa difícil”, reconhece Bielschowsky. “Mas é uma tarefa que o próprio presidente chamou para si.” No discurso de posse do 2º mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mencionou a informatização das escolas públicas como uma de suas prioridades.

 

Uma das idéias é usar os recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), um imposto de 2% sobre o valor das contas de telefone, tirado da receita das empresas de telefonia para ser usado na informatização das escolas. Até o ano passado, o Fust tinha mais de R$ 3 bilhões parados porque os governos - tanto o atual como o passado - não conseguiram chegar a uma conclusão sobre qual seria a melhor forma de usá-lo. A receita anual do Fust está hoje, de acordo com o governo, em R$ 600 milhões.

 

O problema é que a lei que criou o Fust prevê apenas o investimento para levar internet com linha discada às escolas. O ministro da Educação, Fernando Haddad, quer agora mudar a legislação para incluir a internet por banda larga. Mas a discussão avançou pouco.

 

(O Estado de São Paulo)


Data: 07/11/2007