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Para Lula, sem investir em C&T, país não dará salto de qualidade

Presidente falou sobre o Plano de Ação 2007-2010: Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento na edição desta segunda-feira do programa de rádio Café com o presidente

Leia trechos da entrevista:

- As áreas de ciência, tecnologia e inovação vão receber um reforço nos próximos três anos. Como vai funcionar esse plano? Quais são as prioridades dele?

Nós apresentamos um plano que prevê investimentos entre 2007 e 2010, de R$ 41 bilhões. Um pouco mais, mas arredondando, R$ 41 bilhões. Esse programa tem quatro prioridades. Primeiro, expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. As metas: ampliar e fortalecer a parceria com estados e municípios e aumentar o número de doutores titulados por ano. Segunda prioridade: promoção da inovação tecnológica nas empresas. Metas: aumentar a razão entre os gastos em pesquisa, desenvolvimento e inovação privado de 0,51% do PIB [o Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas no país] para 0,65% do PIB até 2010 e, ainda, estruturar o sistema brasileiro de tecnologia. Terceira prioridade: pesquisa, desenvolvimento e inovação em áreas estratégicas, como tecnologia da informação, biocombustíveis, agronegócio, insumos para a saúde e energia nuclear. E a quarta prioridade: ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento social. Tudo isso tem como meta atingir, até 2010, o investimento de 1,5% do PIB em pesquisa, desenvolvimento e inovação.

 

Só para ter uma idéia de comparação, em 2006 o investimento nessas áreas foi de 1,02% do PIB. Portanto, é um momento extraordinário, um momento importante. Certamente, o Brasil daqui para a frente vai, cada vez mais, colocar dinheiro em ciência e tecnologia, porque todos nós hoje temos consciência de que sem fazer investimentos em ciência e tecnologia, nós não daremos o salto de qualidade que precisamos dar para competir nesse mundo cada vez mais inovado, cada vez mais tecnológico e cada vez mais competitivo. Então, o Brasil precisa produzir coisas importantes. Por exemplo, o Brasil hoje fabrica avião, e só fabrica avião porque investimos em tecnologia um tempo atrás. Hoje, nós estamos colhendo o produto de ter uma empresa altamente sofisticada e competitiva como a Embraer [a Empresa Brasileira de Aeronáutica].

- Quer dizer: vai aumentar a participação da indústria no setor de inovação e, com isso, vai melhorar a competitividade do Brasil lá fora também, presidente?

Certamente, porque o que nós queremos é colocar mais valor agregado nos produtos que nós fabricamos. Ou seja, o Brasil não pode ser um país que tenha uma base forte nas suas exportações de produtos in natura, de grãos, de minério de ferro. É importante que a gente transforme isso em produtos sofisticados para que a gente possa ganhar mais dinheiro com as nossas exportações.

- O Brasil sempre teve problema de evasão de pesquisadores para o exterior por conta de falta de apoio. Como fica essa situação da pesquisa no Brasil? Vai melhorar essa situação para os pesquisadores?

Vai melhorar, porque a ciência, tecnologia e inovação são instrumentos fundamentais para o desenvolvimento e crescimento econômico do país, para geração de emprego e melhorar a vida de todos os brasileiros. Nós temos alguns dados da produção científica e de cérebros no Brasil que são importantes. O Brasil hoje tem mais de 80 mil pesquisadores doutores. Só no ano passado, quase 10 mil doutores foram formados. A produção científica no Brasil vem crescendo. Ela representa hoje 1,9% do total mundial. O que nós estamos fazendo? Algumas ações para melhorar isso. Primeiro, reajuste para as bolsas de mestrado de doutorado de 20% a partir de março de 2008. As bolsas de mestrado passam de R$ 940 para R$ 1.200 e as de doutorado, de R$ 1.340 para R$ 1.800. Vamos investir R$ 6,5 bilhões em bolsas de estudo entre 2007 e 2010. Aumento no número de bolsas do CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] dos atuais 95 mil para 155 mil. Uma coisa extraordinária no lançamento desse plano foi como fizemos esse plano.

- Foi difícil, presidente?

Olha, eu diria que o Brasil nunca teve um plano do Estado brasileiro. Agora, nós poderemos dizer em qualquer parte do mundo que o Brasil tem um programa de ciência e tecnologia pronto, acordado com todo o segmento da sociedade, com pesquisadores, com empresários, com professores. Conseguimos juntar todos os ministros que tinham alguma coisa de ciência e tecnologia, empresas públicas brasileiras. Ou seja, porque antes era assim, a Petrobras tinha o seu, o Ministério da Educação tinha o seu, o Ministério da Saúde tinha o seu, agora, nós juntamos tudo num programa do Estado brasileiro.

 

Quando se fala de ciência, tecnologia e inovação, nós precisamos ver isso como investimento que vai trazer retorno, não apenas na produção de novos cientistas, mas vai trazer retorno do ponto de vista de melhorar a vida do povo brasileiro, melhorar a indústria brasileira, melhorar a qualidade do nosso produto. Portanto, fazer com que o Brasil se torne mais senhor da situação em ciência, tecnologia e inovação.

 

(Jornal da Ciência da SBPC – 27.11.07)


Data: 27/11/2007