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Capacitação inadequada de professor explica fraco rendimento de aluno

Para especialistas, falta de ensino experimental também prejudica ensino

A falta de infra-estrutura para aulas práticas e experimentação e a capacitação inadequada dos professores do ensino fundamental ajudam a explicar o fraco desempenho dos estudantes brasileiros de 15 anos avaliados pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), de acordo com especialistas ouvidos pelo Globo.

O Brasil ficou em 52º lugar em uma lista de 57 países que participaram da avaliação, considerada pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) a mais abrangente e rigorosa pesquisa para esse segmento.

Para o secretário regional da seção Rio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e diretor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Adalberto Cardoso, o país não vai mal apenas no ensino de ciências, mas em toda a educação fundamental.

— Há um descolamento no nível de qualidade do ensino fundamental em ciências, comparado ao nível da educação superior e da pesquisa científica no Brasil, área em que o país tem se destacado em relação aos vizinhos latinoamericanos — afirmou.

Secretário da SBPC critica baixos salários

Cardoso criticou os salários pouco atrativos e a qualificação inadequada dos professores que lecionam no ensino fundamental.

— O mesmo professor que dá aulas de geografia, matemática e português também leciona ciências. Muitas vezes esse profissional não está capacitado adequadamente para isso. Esses professores vão reproduzir o que está nas cartilhas, cujo conteúdo nem sempre é o que está sendo produzido e descoberto no mundo científico. Como os salários são péssimos, não é atrativo.

Ex-presidente do SBPC e professor da Universidade Federal do Espírito Santo, o físico Ennio Candotti faz uma dura crítica à metodologia de ensino de ciências para crianças e jovens de até 15 anos. Para ele, o método privilegia o conhecimento teórico em detrimento do ensino experimental.

— Ciência é, antes de mais nada, exercício prático em oficinas e laboratórios. Nosso ensino é muito livresco, teórico. Isso atrapalha muito a aprendizagem. A ciência deve estar associada ao fazer, à experimentação. A criação de centros e museus de ciências, como o Ciência Viva, no Rio, ajuda muito. São projetos que familiarizam os jovens com conceitos científicos que não podem ser apenas explicados em sala de aula. Eles precisam ser vistos, tocados e realizados.

Entre os estudantes dos países da América Latina, os brasileiros ficaram à frente apenas da Colômbia, em 53º no ranking. O Chile foi o país latinoamericano mais bem avaliado, na 40ª posição.

Precariedade do ensino prejudica pesquisa científica A precariedade do ensino de ciências prejudica o desenvolvimento de pesquisa científica e tecnológica no Brasil, segundo o professor Candotti.

Ele afirma que nos países desenvolvidos o ensino experimental possui uma atenção especial e recebe grande investimento do governo:

— É como querer aprender a jogar futebol ouvindo alguém explicar como se faz. Dificilmente teríamos bons jogadores se não houvesse campos de futebol em todos os cantos. A comparação é a mesma. Precisamos transformar os 10 mil campos de futebol em campos de ciência. Se cada escola tiver o seu campo, os meninos vão brincar e aprender.


(O Globo, 1º/12)


Data: 03/12/2007