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Resultado independe de classe social

Desempenho de brasileiros mais ricos fica abaixo do obtido por alunos carentes de países desenvolvidos

O desempenho dos estudantes brasileiros com melhores condições socioeconômicas no Pisa 2006 está abaixo do desempenho dos alunos mais pobres de vários países desenvolvidos.

Em relação aos pontos obtidos pela faixa mais carente dos estudantes do Brasil, eles ficam quase em último lugar se comparados com os carentes dos outros países, estando acima apenas, em matemática, do Quirguistão.

A comparação pode ser feita a partir de um gráfico elaborado pela própria Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pela elaboração e aplicação do Pisa.

Como os estudantes respondem também a um questionário com informações socioeconômicas, o relatório separou a pontuação média de 25% dos estudantes mais favorecidos e de 25% dos menos favorecidos, levando em conta o status econômico, social e cultural.

Há uma tabela para cada área avaliada no ano passado. Assim como para todos os dados divulgados, há também uma margem de erro para cada nota, que varia de 2% a 8%, dependendo do país.

Em matemática, os estudantes brasileiros que estão no topo da pirâmide social só têm desempenho melhor do que os mais favorecidos da Colômbia.

Com 424 pontos, não alcançam a média dos alunos mais ricos nem dos mais pobres dos países da OCDE, que são 537 e 425, respectivamente. Para ter uma idéia de comparação, nessa mesma prova as duas pontas da amostra francesa fizeram 556 e 441 pontos, números parecidos com os obtidos pela Rússia e Lituânia.

“Um fato conhecido é que os filhos da população com maior renda no Brasil têm uma formação pior do que muitas pessoas pobres de outros países. Esse fenômeno já é conhecido de quem estuda essa área, mas muito difícil de ser explicado”, afirma o economista Samuel Pessoa, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas do Rio.

“Por anos, o Brasil cresceu muito com muito pouco investimento em educação. Isso fez com que muitas pessoas conseguissem evoluir profissionalmente sem grande escolaridade e também com que pessoas com escolaridade, mesmo que de baixa qualidade, conseguissem comandar grande diferencial de renda no mercado de trabalho em razão da forte escassez do capital humano.”

Mais do mesmo

Em leitura e ciências, apesar de o Brasil conseguir uma pontuação mais alta, a comparação também existe e os resultados não são animadores. No caso da leitura, os alunos brasileiros mais favorecidos fizeram 444 pontos e os menos, 351. As médias dos países da OCDE ficaram em 537 e 427.

Apesar de os alunos mais ricos do Brasil ficarem acima dos mais ricos da Colômbia, Azerbaijão, Indonésia, Montenegro e Tunísia, estão abaixo dos mais pobres de Austrália, Polônia, Reino Unido e Nova Zelândia, entre outros.

No caso de ciências, os brasileiros mais ricos fizeram 443 pontos e os mais pobres chegaram a 352, também abaixo da média da OCDE, abaixo dos mais pobres entre os países líderes do ranking, e acima, na América Latina, apenas da vizinha Colômbia.

“Fiz uma análise no Pisa 2003, pegando apenas os 5% mais altos dos estudantes brasileiros, que mostrou que eles estavam abaixo das outras elites, mas não muito. O resultado não era tão ruim. Agora, pegando os 25% mais altos, no caso do Brasil, entra na amostra um número maior de alunos, o que muda o resultado”, analisa Sergei Soares, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Ressalvas

“O que chama a atenção é a ausência de mudanças”, afirma Eduardo de Carvalho Andrade, professor e pesquisador do Ibmec São Paulo, especialista em educação e desenvolvimento.

“Não surpreende a elite escolar brasileira ter qualidade educacional mais baixa do que a de outros países. Agora, se está pior do que os mais pobres desses países, isso precisa ser melhor analisado”, diz.

O pesquisador, no entanto, faz uma ressalva: “Mesmo que você considere os 25% mais pobres de vários países desenvolvidos, eles fazem parte de uma sociedade mais homogênea e não tão desigual como o Brasil.”

O Pisa é um teste para os países da OCDE, para o qual outras nações são convidadas. “Então, o fato de o Brasil aceitar e investir na participação demonstra preocupação do governo com a transparência da política educacional.”

(O Estado de SP, 5/12)


Data: 05/12/2007