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Artigo - Os agraristas e a revolução de Caio Prado Jr: duas leituras indispensáveis (Parte I)

Os agraristas e a revolução de Caio Prado Jr: duas leituras indispensáveis (Parte I)

Wagner Braga Batista

 

Duas recentes publicações retomam temáticas de suma importância para o debate político no Brasil e na América Latina: a questão agrária e os caminhos da transição democrática no Brasil. Os dois livros, “Agraristas políticos brasileiros”, co-editado pela Fundação Astrojildo Pereira, pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural- NEAD/MDS e pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura- IICA e “Caio Prado Jr : Dissertações sobre a revolução brasileira”, Fundação Astrojildo Pereira e Editora Brasiliense, são do mesmo autor. Trata-se de Raimundo Santos, estimado colega que lecionou no Departamento de Sociologia e Antropologia, bem como no Programa de Pós-graduação de Sociologia Rural, do Centro de Humanidades. Á época, contribuiu largamente com a crônica campinense, escrevendo regularmente em jornais locais, e com a imprensa sindical, produzindo acuradas análises sobre o movimento docente e o processo de democratização da universidade brasileira. Suas considerações sobre os efeitos da instrumentalização e da divisão do movimento sindical ainda merecem nossa atenção. Seus prognósticos anteciparam evidencias recentes de desgastes e perda de credibilidade de entidades de classe.

 

Sem se despojar da percepção dos movimentos históricos de longa duração e de uma visão abrangente da realidade social, conseguiu detectar particularidades da cultura política campinense, retratando-a em sucintos estudos que ainda são de grande atualidade analítica. Sob esse viés, identificou no microcosmos do Calçadão da Cardoso Vieira peculiaridades da sociedade civil campinense.

 

A trajetória de sua chegada à Paraíba não foi amena. Após 8 anos de exílio, durante os quais doutorou-se em Ciência Política, na Universidade Autônoma do México, Raimundo Santos recuperou seus direitos civis com a anistia e retornou ao Brasil. Em 1980 integrou-se ao corpo docente da UFPB, onde irá lecionar até 1989.

 

A UFPB enfrentava uma situação atípica. Convém lembrar que o reitorado, para superar dissensões internas entre grupos conservadores, adotara postura liberal, então incomum. Para suplantar o ranço oligárquico, o autoritarismo e a pressão de forças conservadoras, o Reitor abriu as portas da UFPB, permitindo que banidos, exilados e ex-presos políticos fossem contratados pela instituição sem apresentar atestados ideológicos ou de bons antecedentes, documentos exigidos em várias instituições públicas. Nessa leva, vieram prestimosos companheiros que muito contribuíram para sedimentar um novo perfil para a UFPB. Não seria temerário afirmar que sua presença em Campina Grande permitiu que o campus II, da UFPB, e algumas de suas unidades tivessem grande visibilidade no cenário acadêmico nacional e internacional.

 

Em Campina Grande, Raimundo Santos, profundamente ligado às lutas democráticas e de trabalhadores rurais, pode dar continuidade a estudos e ensaios que se consubstanciariam posteriormente em várias publicações. Professor diligente e assíduo na universidade, caracterizou-se pela constante disponibilidade para exercer atividades nada gratificantes e gratificadas. Atividades, via de regra, negligenciada por seus pares. Absteve-se de ocupar cargo ou função executiva, porém participou ativamente do Conselho Editorial, da UFPB e de publicações ainda em estágio seminal no Centro de Humanidades. Auxiliou enormemente no processo de consolidação do Programa de Pós-graduação de Sociologia Rural, que completará 30 anos de existência, bem como da Associação de Docentes local.

 

Hoje Raimundo nos brinda com mais dois livros. Recuperam a reflexão e a intervenção política no meio rural exercitada pelo Partido Comunista Brasileiro- PCB no período que precede e se segue ao golpe militar de 1964.

 

Com a autoridade de quem vivenciou diretamente esse processo, oferece-nos sínteses e apreciações laboriosas, indispensáveis na atual conjuntura na qual florescem movimentos sociais com diferentes orientações programáticas.


Data: 07/12/2007