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Obesidade avança no Brasil

Em três décadas, país teve aumento de 255% da forma grave do excesso de peso

O impacto da obesidade no Brasil é maior do que o imaginado. A obesidade mórbida - a forma mais severa de excesso de peso, associada ao risco de numerosas doenças - teve um aumento de 255% nas últimas três décadas no país.

Uma pesquisa inédita revelou que o Brasil tem pelo menos 609 mil obesos mórbidos entre a população de 20 anos ou mais. De 1974 a 2003, esse número cresceu 255%, como mostrou a dissertação de mestrado da médica Isabella Vasconcellos de Oliveira, elaborada na Universidade de Brasília (UnB).

Usando dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE, realizada entre 2002 e 2003, o estudo indicou que 0,64% da população brasileira adulta sofria da doença naquele período. O percentual é menor do que os 4,9% registrados nos Estados Unidos, mas alto o suficiente para demonstrar que é preciso investir em campanhas de prevenção.

É o que afirma a pesquisadora da UnB orientadora da dissertação, Leonor Maria Pacheco Santos. Segundo ela, o alto número de obesos mórbidos deixa claro que é inviável enfrentar o problema apenas com cirurgias de redução de estômago. De 1999 a 2006, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou apenas 10.365 operações, ao custo de R$ 32 milhões. Em 2006, isoladamente, foram 2.517 (R$ 8 milhões).

- Não é pela cirurgia que vamos conter a epidemia. É pela prevenção - diz Leonor.

Ela é também coordenadora-geral de Avaliação e Monitoramento do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, pasta responsável pelo Bolsa Família.

Leonor diz que o Brasil vive uma situação aparentemente contraditória: de um lado, tenta reduzir a desnutrição principalmente no semiaacute;rido; de outro, luta contra a obesidade. O pior é que os mais pobres são justamente as maiores vítimas do excesso de peso.

- Parece uma incoerência que as pessoas de baixa renda tenham excesso de gordura. Isso ocorre por conta da má alimentação, rica em gorduras, frituras, biscoitos. Convivemos com dois mundos: resquícios de população desnutrida que morre de diarréia e doenças infecciosas e a maioria, que tem como causa principal de morte as doenças cardiovasculares - diz Leonor.

A classificação da obesidade mórbida leva em conta a altura e o peso. Uma pessoa de 1,70 metro, por exemplo, será considerada obesa mórbida se pesar 116 quilos ou mais.

Nesse caso, ela terá índice de massa corporal (IMC) igual ou maior do que 40. A cirurgia bariátrica, como é chamada a redução de estômago, é recomendada a partir desse índice.

Obesos que sofrem de diabetes ou hipertensão e têm IMC igual ou maior do que 35 também podem se submeter à operação. Leonor enfatiza que a cirurgia envolve riscos.

Segundo ela, em 1% dos casos os obesos morrem em decorrência da cirurgia. Antes é preciso fazer tratamento com psicólogo e nutricionista. Isabella, que apresentou a dissertação em dezembro e foi aprovada no mestrado em Ciências da Saúde, informa que não havia estimativa precisa do número de obesos mórbidos no país. A POF coleta dados de altura e peso da população, mas faltava alguém calcular os casos de obesidade.

- A informação estava oculta dentro do banco de dados do IBGE - diz Isabella.

Em 1989, a prevalência da doença era de 0,33% entre a população adulta, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição; em 1974 e 1975, de 0,18%, conforme o Estudo Nacional de Despesa Familiar (Endef).


(O Globo, 12/2)


Data: 12/02/2008