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Plano de inclusão não altera perfil da USP

Após dois anos do Inclusp, índice de alunos egressos da rede pública fica em 23,5%; em 2006, taxa era de 21,2%

 

A lista de aprovados da Fuvest divulgada no início do mês mostra que o programa de inclusão da Universidade de São Paulo (USP), o Inclusp, pouco mudou até agora o perfil dos convocados para matrícula. Em 2008, o índice de ingressantes que estudaram em escolas públicas foi de 23,5%; em 2007 eram 23,7%. Este foi o segundo ano do Inclusp, que dá bônus de 3% na prova a alunos da rede estadual, municipal ou federal. Antes do início do programa, em 2006, o índice era de 21,2%.

 

Os números se referem aos aprovados na primeira chamada da Fuvest, que tinha 10.402 nomes. Os dados estão no site oficial da entidade. O Estado já havia mostrado em novembro a queda no número de inscritos no vestibular provenientes de escolas públicas. Eles representavam 32,8%, o menor porcentual desde 2002. Procurada, a USP informou que só se pronunciará após realizar estudos que levem em conta as matrículas finais. Algumas dezenas de aprovados normalmente não aparecem para matrícula, e a Fuvest divulga mais três listas.

 

Os números mostram também poucas mudanças com relação à cor dos convocados. Apesar de o Inclusp não dar pontos específicos para negros, acreditava-se que ele pudesse beneficiá-los, já que a maioria estuda em escolas públicas. No entanto, o número de negros e pardos permanece por volta dos 12% em 2006, 2007 e 2008.

 

'A USP insiste no erro. No ano passado já ficou claro que o Inclusp não havia incluído os alunos pobres e negros', diz um dos coordenadores da ONG Educafro Cleyton Borges, que mantém cursinhos para estudantes carentes. Por causa dos resultados do primeiro ano do Inclusp, a entidade fez uma denúncia ao Ministério Público, que finaliza um inquérito sobre a eficácia do programa. Segundo a promotora responsável pela investigação, Érika Pucci da Costa Leal, não houve aumento de aprovados entre a população de baixa renda. 'Entre as famílias que têm renda abaixo de R$ 1.500, até diminuiu o número de ingressos.'

 

De acordo com ela, a investigação pode resultar numa ação civil pública que recomende mudanças à universidade com relação ao programa.

 

Mudança histórica

 

O Inclusp foi a maior mudança nos 30 anos de história da Fuvest. Preocupada com os movimentos crescentes pela maior inclusão de alunos carentes, a universidade - que sempre se posicionou contra o sistema de cotas - resolveu beneficiar com pontos os alunos de escolas públicas. Historicamente, eles representavam 20% dos aprovados. Na época do lançamento do programa, a reitora Suely Vilela declarou que o objetivo era aumentar esse índice para 50%.

 

Houve confusão na divulgação dos primeiros resultados do Inclusp. A USP chegou a anunciar um aumento de 20% no número de aprovados com esse perfil. Meses depois, os números foram revistos e, em agosto, a pró-reitoria de graduação informou que 26% dos ingressantes em 2007 tinham estudado em escolas públicas. Esse número se referia às matrículas finais, feitas depois de todas as listas de convocados.

 

A coordenadora pedagógica do Cursinho da Poli, Alessandra Venturi, elogia o Inclusp, mas acredita que ainda é difícil atrair o vestibulando de escola pública para a USP. A maioria dos estudantes do cursinho tem esse perfil. 'A auto-estima deles é muito baixa. Muitos acham que não vão conseguir e sequer participam da prova.' Além disso, ela diz que é clara a falta de preparo do estudante que terminou o ensino médio público. 'Montamos aulas básicas de matemática e português e elas lotam de alunos', conta. 'Eles não vêem ao cursinho para revisar, vêem para aprender o que não aprenderam.'

 

Fernanda Makyama da Silva, de 18 anos, não pôde fazer cursinho preparatório e enfrentou a Fuvest com o que aprendeu em toda sua vida escolar na rede pública. Apesar do bônus de 3%, não passou nem para a segunda fase de Odontologia. 'As perguntas são muito difíceis de entender', afirma. Ela diz que não se anima a tentar de novo a Fuvest. 'Percebi que não tenho preparo. Vou fazer uma faculdade particular, que é mais fácil de entrar.'

 

(O Estado de SP)


Data: 19/02/2008