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Catálogo virtual reúne a vida de 30 mil espécies

Brasil fica de fora da 1ª fase da Enciclopédia da Vida, que entrou ontem (26/2) na internet. Projeto que deverá custar até US$ 100 milhões é uma ferramenta importante para o desenvolvimento de políticas de conservação

As estimativas recentes da perda de biodiversidade planetária ajudam a pintar o sombrio quadro da extinção: cerca 12% das aves, 23% dos mamíferos e 32% dos anfíbios já sumiram do mapa. Portanto, o lançamento da Enciclopédia da Vida, realizado ontem (26/2) nos EUA, antes de tudo é a consolidação de uma ferramenta importante para que políticas de conservação da flora e da fauna mundial possam ser colocadas em prática.

O projeto, que vai durar pelo menos até 2017 e poderá custar US$ 100 milhões, consiste em uma espécie de "Wikipédia" dos seres vivos. Desde ontem, no site oficial da iniciativa (http://www.eol.org), 30 mil páginas -uma para cada espécie- já estão disponíveis gratuitamente para internautas.

E a biologia parece ter mesmo apelo. Ontem o site teve problemas técnicos por excesso de tráfego: 11,5 milhões de acessos em cinco horas e meia. Apesar de apenas 24 páginas já estarem totalmente completas, em dez anos o grupo internacional que desenvolve o projeto -25 instituições lideradas por 13 cientistas- espera atingir a marca de 1,8 milhão de espécies catalogadas.

"Esse é um projeto inovador, o início de um longo processo. O Brasil, como um país megadiverso, não poderia ficar à margem de iniciativas como essa", disse à Folha o pesquisador Vanderlei Perez Canhos, membro do projeto Catálogo da Vida, um dos que foram usados como subsídio para a montagem da lista usada pela Enciclopédia da Vida.

Segundo Canhos, que é diretor-presidente do Cria (Centro de Referência em Informação Ambiental), o Brasil poderá participar do projeto da enciclopédia no futuro. "Mas é bom lembrar que temos muito por fazer. Não dispomos nem de uma lista da espécies da flora brasileira", afirma Canhos.

O mentor da Enciclopédia da Vida é o biólogo americano Edward Wilson. A partir de recomendações explícitas do cientista, a Fundação MacArthur investiu US$ 10 milhões no projeto. A Fundação Alfred P. Sloan também entrou no circuito e colocou mais US$ 2,5 milhões na enciclopédia.

"Esse projeto não é apenas a criação de um sumário de tudo aquilo que já sabemos sobre os seres vivos da Terra. Ele também vai acelerar a descoberta de uma vastidão de relações que ainda permanece desconhecida", disse Wilson em um comunicado à imprensa.

Fluxo epidêmico

Após reunir parte do conhecimento científico taxonômico gerado pelo menos nos últimos 250 anos, a Enciclopédia da Vida, segundo seus organizadores, poderá ter uma série de aplicações úteis.

Os dados reunidos de forma eletrônica, por exemplo, poderão contribuir para o mapeamento do fluxo das epidemias causadas por insetos. O mosquito da febre amarela é um dos bichos que estão com dados detalhados no site.

Cada página, além de fotos e links, apresenta informações ecológicas e taxonômicas das espécies. O visitante pode também saber se aquele determinado organismo está ou não ameaçado de extinção. De acordo com James Edwards, secretário-executivo do projeto, a enciclopédia também terá uma importância óbvia para o aprendizado.

Estudos sobre espécies invasoras, um grande problema ecológico em várias regiões do mundo, inclusive no Brasil, e pesquisas sobre levantamentos taxonômicos de grandes áreas também poderão ser facilitados pela nova ferramenta. "O site deverá unir interesses acadêmicos e da população em geral", disse Edwards.


(Folha de SP, 27/2)


Data: 27/02/2008