topo_cabecalho
Espanha retém mais 2 alunos brasileiros

Itamaraty cogita retaliar país europeu e estuda estabelecer cota diária de espanhóis "inadmitidos" ao chegarem ao Brasil. Os mestrandos Patrícia Rangel e Pedro Luiz Lima, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio, estavam em trânsito para Lisboa

A polícia espanhola reteve ontem (5/3), no aeroporto internacional de Barajas, os alunos de mestrado brasileiros Patrícia Rangel e Pedro Luiz Lima, ambos do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), que estavam em trânsito para Lisboa.

Alertado por telefonemas de professores do instituto, o cônsul do Brasil em Madri, embaixador Gelson Fonseca, entrou imediatamente em contato com o chefe da delegacia do aeroporto e ainda lhe enviou um fax, responsabilizando-se pela veracidade da informação de que os dois seguiriam imediatamente para Lisboa.

Foi inútil. O policial alegou que os jovens não cumpriam os requisitos estabelecidos para a entrada na Europa (não apenas na Espanha) e ainda estavam "fazendo arruaça", depois de terem sido levados para a sala em que ficam detidas as pessoas cuja entrada é negada.

Fonseca comunicou o fato ao embaixador José Viegas, que telefonou para o Itamaraty, sugerindo a convocação imediata do embaixador da Espanha no Brasil, Ricardo Peidró, que, de fato, se apresentará à diplomacia brasileira hoje (6/3).

Uma das idéias em cogitação no Itamaraty, conforme a Folha apurou, é retaliar da mesma maneira, ou seja, estabelecer uma cota diária de espanhóis que são "inadmitidos" ao chegarem ao Brasil.

É a terminologia oficial para substituir "expulsos", na medida em que tecnicamente não pode haver expulsão de quem nem conseguiu entrar no país. Além dos dois estudantes, havia cerca de 30 outros brasileiros retidos em Barajas, mas o consulado não conseguiu saber se todos haviam chegado ontem mesmo ou se parte deles viera nos vôos da véspera e estava aguardando a decisão das autoridades policiais.

Depois do contato com o delegado no aeroporto, o cônsul Fonseca recebeu cópia do cartaz no qual figura o nome do simpósio em Lisboa de que participariam Patrícia e Pedro Luiz, o 4º Congresso da Associação Portuguesa de Ciência Política, que começa hoje.

É ainda possível que os dois sejam liberados para viajar hoje, pois as decisões dos policiais que fazem o controle de imigração são altamente aleatórias e, além disso, irrecorríveis. O caso dos mestrandos do Iuperj reproduz literalmente a situação da física Patrícia Camargo Magalhães, 23, que pretendia participar de um congresso científico em Lisboa, mas foi mandada de volta ao Brasil em fevereiro, após 53 horas presa no aeroporto de Madri, onde parou apenas para pegar outro avião para Portugal.

No caso de ontem, os mestrandos levavam, segundo a polícia, apenas 250 euros cada um, quando o que se exige são 70 euros para cada dia de permanência. Além disso, Patrícia e Pedro Luiz não puderam comprovar que iam de fato a um congresso.

Também hoje o embaixador Viegas entrará em contato com o Ministério espanhol de Relações Exteriores, para dizer que as autoridades policiais precisam mostrar mais sensibilidade, sob pena de criar uma situação que "será cada vez mais difícil de resolver".

(Folha de SP, 6/3)


Data: 06/03/2008