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Prepare a mochila

Saiba tudo sobre o projeto de Mobilidade Acadêmica Brasil, que permite ao universitário passar uma temporada numa federal de outro estado

 

Você, universitário, já pensou em passar uma temporada em outra universidade? Já deu uma olhada em currículos de diferentes instituições para conferir se as disciplinas que estuda são as mesmas em Manaus ou em Porto Alegre? Se sim, não descobriu uma matéria que você adoraria cursar? Pois, agora, o sonho poderá se tornar realidade. O Ministério da Educação (MEC) vai lançar um programa para promover intercâmbio de estudantes entre universidades federais. O projeto piloto do Mobilidade Acadêmica Brasil (MAB) começará em agosto.

 

Para a primeira experiência, serão selecionados 1,1 mil estudantes de cursos de licenciatura em exatas e engenharias (confira quadro abaixo). Cada uma das 55 instituições federais participantes do programa vai oferecer 20 vagas. Segundo o secretário de Educação Superior do MEC, Ronaldo Mota, até o ano que vem, a expectativa é de que mais cursos de graduação estejam incluídos no projeto. Segundo ele, as carreiras foram escolhidas por conta da estrutura curricular. Os currículos nessas áreas são similares em todo o país, o que facilita a aplicação do projeto na prática.

 

Incentivar os alunos a passar por uma experiência de intercâmbio deve ser tarefa de todas as federais. Quando assinaram os contratos do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), elas assumiram esse compromisso com o governo. Mota ressalta que, na Europa e nos Estados Unidos, as experiências de mobilidade acadêmica são um sucesso. “Não podemos só formar mais. Temos de formar melhor. Esse tipo de experiência ensina os estudantes a vencer desafios, ter criatividade e conviver com o diferente. No modelo social e econômico em que vivemos, conhecimento teórico e capacidade técnica não bastam”, analisa.

 

No projeto piloto, somente os universitários que já concluíram os dois primeiros anos do curso poderão se candidatar às vagas. Eles deverão procurar os coordenadores das graduações para manifestar o interesse no intercâmbio. Juntos, os dois vão refletir sobre as instituições e as disciplinas que o jovem gostaria de cursar. Depois, o estudante apresentará propostas à universidade escolhida. Se o pedido for aceito, ele terá a garantia de que os créditos cursados fora da instituição de origem serão aproveitados.

 

As universidades terão autonomia para definir os critérios de aceitação dos alunos e as matérias que serão oferecidas. Porém, o MEC não quer que os programas das disciplinas sejam comparados entre as instituições. As diferenças não devem impedir a participação dos estudantes e, sim, facilitá-la. “É importante que os jovens brasileiros tenham contato com outros ambientes, grupos de pesquisa e professores. Queremos diminuir a burocracia para promover a mobilidade dos estudantes”, destaca o secretário da Sesu. No futuro, o programa deverá ser aberto também a professores.

 

Para estimular os alunos, o ministério vai conceder bolsas de estudos aos participantes do projeto. Serão R$ 350 por mês. A expectativa do MEC é que as universidades consigam oferecer vagas nos prédios de moradia estudantil aos estudantes. O dinheiro será repassado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O edital de abertura do MAB será divulgado nos próximos dias.

 

Boa receptividade

 

Os estudantes-alvo do programa do MEC ficaram contentes com a novidade. Os alunos da engenharia civil da Universidade de Brasília (UnB) Vitor Hugo Marçal, 23, Bernardino Ribeiro Gonçalves, 25, Marcelo Victor Barbosa da Silva, 23, e Henrique Eijun Oshiro Yamagushi, 23, gostariam de passar pela experiência. “Não me importaria com o reconhecimento dos créditos. Acho que o mais interessante é cursar disciplinas diferentes das oferecidas pela universidade para ampliar os horizontes”, enfatiza Vitor Hugo.

 

Bernardino acredita que os estudantes teriam a chance de se especializar melhor em algumas áreas. “O aluno poderia procurar instituições que dão ênfase a conteúdos do interesse dele”, comenta. Marcelo torce para que as instituições façam um acordo a respeito do aproveitamento de créditos. “A garantia da validação tem que ficar clara”, pondera. Na opinião dos jovens, as bolsas de estudos serão fundamentais para estimular a participação dos estudantes.

 

Marília Bomtempo, 23, gostaria de se candidatar às vagas. Para ela, a experiência será enriquecedora para os currículos dos jovens. “O mercado de trabalho para os engenheiros exige que muitos se mudem de cidade. Quem já tiver passado pelo intercâmbio poderá se adaptar mais fácil à realidade”, avalia.

 

Sandra Satie Oliveira Hirano, 23, teme que o período fora da universidade de origem do estudante implique atraso na conclusão do curso.

 

Boas idéias

 

O secretário ressalta que o modelo do MAB será baseado em experiências bem-sucedidas já existentes, como o Programa de Mobilidade Acadêmica Regional em Cursos Acreditados (Marca), que promove o intercâmbio entre estudantes de países do Mercosul. A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) também possui um programa de mobilidade desde 2003, que conta com a participação de 52 instituições.

 

Há diferenças entre as regras da Andifes e do MEC . Para participar do programa da Andifes, os alunos — de qualquer área — precisam ter concluído o primeiro ano do curso e só podem ter reprovado, no máximo, uma vez por semestre ou ano letivo. Há um coordenador responsável pelo convênio em cada instituição conveniada, que analisa o pedido de matrícula nas disciplinas. Os estudantes podem ficar fora da universidade de origem por um ano, no máximo. Os créditos feitos durante o período do intercâmbio têm de ser aproveitados pelas instituições obrigatoriamente.

 

A coordenadora da iniciativa da Andifes, Malvina Tuttman, reitora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), estima que 1,5 mil universitários participem do programa. Para ela, as instituições não conseguem atender a demanda dos jovens porque esbarram em limitações financeiras. Malvina acredita que o programa do governo federal fortalecerá a essência das propostas. “A mobilidade acadêmica possibilita aos estudantes uma formação mais humanista e cidadã”, defende.

 

(Correio Braziliense)


Data: 31/03/2008