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Diretor de prova que reprovou Brasil vê progresso no ensino

Entre os pontos positivos estão sistemas de avaliações -como Saeb-, diz Andreas Schleicher. No país para um seminário, diretor do Pisa (exame mundial de aprendizagem) diz que desafio é atrair bons profissionais para as escolas

 

Apesar de ocupar as últimas colocações nos rankings internacionais de ensino, o Brasil mostra progressos na educação, afirma o diretor do Pisa (exame mundial de aprendizagem), Andreas Schleicher.

 

Schleicher, 44, que é alemão, diz que um dos pontos positivos do país são os diversos sistemas de avaliação (atualmente há a Prova Brasil e o Saeb, ambos federais, e exames estaduais, como o Idesp, em SP). Segundo ele, esses são instrumentos importantes para direcionar as políticas públicas.

 

O diretor do Pisa, porém, afirma que o país ainda precisa avançar em diversos aspectos. Um deles é conseguir atrair para a carreira docente os melhores profissionais da sociedade.

 

No último resultado do Pisa, divulgado em dezembro passado, o Brasil ficou em 53º em matemática, entre 57 países -posição semelhante também em leitura e ciências.

 

Veja a entrevista


Por que o Brasil obteve resultados tão insatisfatórios na avaliação do Pisa?

 

A condição social do Brasil é mais complicada do que a de outros países avaliados, como Japão e Coréia do Sul. Os avanços são claros, mas ainda insuficientes. Na América Latina é o que mais mostrou progresso.

 

O crescimento econômico aumenta a distância entre os mais educados e os menos educados e por isso a urgência para melhorar as bases da educação nunca tinham sido tão importantes como agora. O principal desafio brasileiro é o de atrair bons profissionais para as escolas e investir mais em educação.

 

O sr. esperava melhores resultados do Brasil no Pisa?

 

O Brasil melhorou seus resultados desde 2000, o que traz expectativas positivas. Antes da avaliação, não sabíamos nada em relação à educação daqui e agora temos acesso a essas informações. Desde então, o país demonstrou capacidade de desenvolvimento e se tornou mais competitivo em relação a outros países. O Brasil é um dos países que provou que o progresso é possível.

 

Então o Brasil está no caminho certo para progredir?

 

Em muitos aspectos, sim. O Brasil foi o primeiro país não-membro do OCDE (organização que reúne os países ricos, que aplica o Pisa) a aceitar o desafio de se avaliar. Mesmo sabendo que seria injusta a comparação com países desenvolvidos, o Brasil encarou a realidade e, a partir dos resultados, partiu para políticas mais concretas.


Um bom exemplo disso foi o novo indicador do Estado de São Paulo na semana passada [o Idesp, que avalia as escolas com base no resultado dos alunos em uma prova estadual e índices de evasão e repetência]. O Brasil tem vantagem porque conta com diversas formas de avaliação. E, com esses resultados, tem uma base melhor de informações para direcionar suas políticas públicas. Contextualizar as escolas é fundamental para que esses resultados signifiquem transformação.

 

E quais são os caminhos para a transformação?

 

Investir mais em educação, mas ter em mente que o dinheiro sozinho não garante sucesso. Se o objetivo é trazer profissionais mais qualificados para as salas de aula, é preciso oferecer a eles boas condições de trabalho e salários competitivos. Alguns países tiveram experiências positivas com as tentativas, como o Japão; outros não. Os bem-sucedidos foram os que investiram no triângulo pais, alunos e professores. Especialmente no bom ambiente de trabalho para os docentes. O que se vê hoje nas escolas é um ambiente que lembra a era industrial, no qual os trabalhadores das fábricas exercem tarefas sem análise crítica. É cada vez mais difícil para um sistema educacional do século 19 atrair estudantes do século 21.

 

Como o crescimento econômico está ligado à educação?

 

Sem educação há pouca perspectiva de crescimento econômico. Essa ligação nunca foi tão forte como nos dias de hoje. Pode-se afirmar, por alto, que um ano a mais de educação aumenta entre 3% e 6% o PIB (Produto Interno Bruto) de um país.


No Brasil, o bom momento econômico beneficia aqueles com maior grau de educação. Os demais não se beneficiam da globalização, simplesmente param no tempo. O foco deve ser quem vai inventar a próxima inovação tecnológica e não quem vai produzi-la. A educação é o motor do progresso.

 

(Folha de São Paulo)


Data: 23/05/2008