topo_cabecalho
Estação Ciência, Cultura e Artes, de Oscar Niemeyer, reforça atrativos de João Pessoa

O Altiplano de Cabo Branco, área onde já se nota sinais de expansão na capital paraibana rumo ao litoral sul, deve ganhar um novo impulso de crescimento, com a inauguração da Estação Ciência, Cultura e Artes, projetada por Oscar Niemeyer, prevista para esta quinta-feira, 3 de julho

Localizada na região onde João Pessoa finca o marco de Ponto Extremo Oriental das Américas (Ponta do Seixas), a nova atração coroa com os traços de um dos maiores arquitetos da atualidade uma área mantida como Zona Especial de Preservação, o Parque do Cabo Branco, que ainda guarda resquícios da Mata Atlântica.

A cidade espera que, com este novo equipamento, onde foram investidos R$ 33,5 milhões com apoio do Ministério de Ciência e Tecnologia, o turismo cultural e de eventos seja potencializado.

Com mais de 8.571 metros quadrados, o projeto Estação Ciência, Cultura e Artes tem a finalidade de difundir atividades científicas, artísticas e culturais de João Pessoa. Dos cinco prédios que compõem o complexo, a torre/mirante é a principal delas: erguida sobre um espelho d'água, tem dois pavimentos suspensos apoiados numa base única.

A torre concentra uma estação científica, hall de exposições permanentes e temporárias, um restaurante, café e terraço panorâmico com visão de 360 graus para toda a natureza que a cerca (leia-se a paisagem harmônica da orla de João Pessoa, protegida por lei da construção dos espigões).

Até setembro, a 1ª Mostra de Arte Contemporânea Paraibana comemora o período de inauguração do complexo. No primeiro andar da torre, 36 obras em pintura, cerâmica, fotografia, gravura e desenho de artistas paraibanos ficarão em exibição.

O
prédio do auditório, que tem capacidade para 501 pessoas, também ganha destaque na construção. Tem acesso independente, e está destinado à realização de eventos culturais variados, sem interferir em outras atividades da área.

No hall de entrada do auditório estará exposto em caráter permanente a painel "O Reinado do Sol", do artista plástico paraibano Flávio Tavares, criado especialmente para o ambiente. A obra mostra em alegorias a história da fundação da capital e conquista da Paraíba.

"Ela sai do histórico para a fantasia. É uma alegoria. Pega do Cabo Branco, que representa o paraíso, onde o sol nasce, até o Varadouro, que é a reunião das etnias", observou Tavares.

"Há também uma mesa inspirada em Oswald de Andrade, que é o banquete da antropofagia. Faz referência ainda à 'Jangada de Pedra', de Saramago, representando a Península Ibérica que trouxe tudo de bom e também de ruim", explica o artista.

Elaborado em óleo sobre tela, o mundo imaginoso de Flávio Tavares foi resumido em 9 metros de comprimento por 3 metros de altura. O artista dividir a produção do trabalho em cinco blocos. Foram dois meses para concluir a empreitada. Do lado esquerdo do painel, está retratada a praia do Cabo Branco, passando pelo Varadouro e lembrando, à direita, o Jacaré -(que fica no município vizinho de Cabedelo, mas que reúne centenas de turistas diariamente para ouvir o sol se por ao som do "Bolero", de Ravel).

No centro do quadro, Tavares pintou uma grande nau, atracada dentro da cidade, comandada por Ariano Suassuna. Essa composição, segundo o artista, lembra a tradição dos velhos carnavais pessoenses - Nau Catarineta. Na parte central inferior do painel, há uma mesa com vários elementos que simbolizam a antropofagia como opção do povo digerir a própria cultura e história.

"Para mim é um momento muito significativo. Pessoas de todo País e do mundo vão visitar o Estação Ciência. O painel vai abrir muitas portas para a arte plástica paraibana. Fiz uma profusão de assuntos para dar margem à discussão da cultura da gente", justificou Tavares.

Na parte superior central do quadro, o artista compôs uma figura feminina, vestida de sol, que representa a criação. O mesmo céu que a sustenta nos primórdios da fundação da cidade, formado por figuras bíblicas do bem e o mal, termina por se fundir bem abaixo, com o contemporâneo Parque Sólon de Lucena (considerado um dos principais cartões-postais da capital paraibana).

Ciganos, sarracenos, negros, mouros, portugueses, espanhóis, índios, franceses, holandeses se propagam por todo painel. Alguns grupos estão em tamanhos diferentes e em situações fantasiosas. Outros símbolos que se detecta na obra são o escritor José Lins do Rêgo - pintado como referência ao desenvolvimento da cana-de-açúcar; Augusto dos Anjos, que resgata a alma poética do passado. Manuel Caixa D'água, caminhando pela boemia, também compõe o cenário.

A popular e folclórica 'Vassoura' (Isabel Bandeira), montada em seu conhecido cavalo branco, que tantas vezes povoou de irreverência o dia-a-dia dos pessoenses no século passado, também está presente.

Ao ar livre, o anfiteatro vai abrigar atividades espaço aberto, com palco, camarim e banheiros. Acomoda 300 pessoas sentadas. Na parte posterior do terreno, fica a ala de serviços e onde deverão funcionar também uma loja de suvenires e uma lanchonete. Há ainda um bloco destinado à administração e manutenção do complexo, além do estacionamento. Para o prefeito Ricardo Coutinho (PSB), muito mais que um cartão-postal, a Estação Ciência é um espaço voltado para o bem comum e para o desenvolvimento da educação.

"É um lugar de inclusão social que coloca João Pessoa em situação privilegiada". Ele lembra que o complexo arquitetônico que está apto a receber 500 visitantes por dia vai beneficiar, principalmente, os 65 mil alunos da rede municipal de ensino.

(O Globo Online, 1º/7)


Data: 01/07/2008