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Organização inglesa publica estudo sobre C&T no Brasil

Perspectivas são “especialmente brilhantes”, afirma relatório

O panorama da inovação no Brasil está mudando rapidamente; as perspectivas nesse campo são, no momento, “especialmente brilhantes”. A constatação aparece no relatório Brazil: the natural knowledge-economy, lançado em Londres em 8 de julho.

Elaborado pela organização inglesa Demos, com a participação do CGEE, o relatório faz parte do projeto Atlas das Idéias.

O título Brazil: the natural knowledge-economy chama a atenção para uma singularidade nacional: o fato de a força da inovação no país se revelar com clareza nas atividades relacionadas aos recursos naturais – petróleo, ferro, agronegócio, com destaque para os biocombustíveis.

“O sistema de inovação do país é em grande parte, mas não exclusivamente, construído sobre seus recursos naturais e ambientais”, explica o estudo. O caminho brasileiro, de acordo com Brazil: the natural knowledge-economy, contesta a visão para a qual as economias baseadas no conhecimento ou em recursos naturais ocupam extremos opostos no espectro do desenvolvimento econômico. No Brasil, afirma a organização, “a competência crescente em ciência e tecnologia não está separada, ou em oposição, aos recursos naturais, e sim integralmente ligada a eles”.

Ao longo de seis meses, em duas visitas ao Brasil, pesquisadores da Demos realizaram extensa pesquisa de campo: mais de 100 entrevistas foram realizadas em sete estados. O relatório descreve a surpresa, para olhos europeus, dos desenvolvimentos recentes do Brasil no campo da ciência e tecnologia.

O primeiro estudo do Atlas apresentou o estado da Ciência e Tecnologia na China, Índia e Coréia do Sul. “As competências da China e da Índia são mais bem compreendidas do que as do Brasil”, diz comunidado da Demos.

“O CGEE complementou, com o conhecimento profundo que tem do ambiente de ciência, tecnologia e inovação do Brasil, a experiência de networking internacional e a competência que a Demos desenvolveu durante a primeira fase do projeto Atlas das Idéias”, afirma Lucia Melo, presidente do CGEE.

O CGEE desempenhou um papel fundamental no mapeamento da rota de entrevistas a ser seguida, identificando os atores principais e estabelecendo os contatos que proporcionaram a preparação de um extenso e realista documento sobre o cenário da CT&I no Brasil.

“Estamos muito felizes com o resultado. A publicação é excelente e apresentará ao mundo uma face do Brasil importante e pouco conhecida”. Para Fernando Rizzo, diretor do CGEE que supervisionou o estudo.

Em outubro, a tradução de Brazil: the Naturalkonwledge- economy será lançada em Brasília.

Forças
do Brasil, de acordo com a Demos

O documento salienta como forças do Brasil a estabilidade política e econômica, o crescimento da produção cientifica e do numero de doutores e mestres, o apoio federal “bem organizado, tanto financeiro quanto regulatório” à ciência e tecnologia, uma base confiável em propriedade intelectual – em que a quebra de patentes de medicamentos para a AIDS é positivamente avaliada, a posição proeminente como exemplo na mitigação dos efeitos da mudança climática conferida pelo uso de biocombustíveis, uma cultura que valoriza a criatividade, e as multinacionais Petrobras, Vale, Gerdau e Embraer.

Fraquezas

As sete fraquezas apresentadas são: desigualdades social e geográfica; “baixa taxa de conversão da base de conhecimento em inovação”; o país ser voltado para si próprio; o peso dos impostos; o problema de como transformar em riqueza o potencial valor da liderança em biocombustíveis e no tema mudança climática; sistema educacional “abaixo de seu potencial”; e o descaso por reter e atrair recursos humanos altamente qualificados.

Aproveitar as qualidades brasileiras

O relatório oferece seis recomendações ao Brasil, todas no sentido de que o país tire maior proveito das qualidades que têm. A primeira delas é ampliar a discussão sobre temas que, de acordo com a consultoria inglesa, são inevitavelmente controversos – o exemplo é a tensão entre investir em ciência básica e investir na diminuição da desigualdade.

A segunda afirma que o Brasil deve “contar uma nova história sobre a inovação” – o texto afirma que o país “precisa de confiança para escrever um novo capítulo” nessa história. “Aproveitar ao máximo a notoriedade global” trazida pelos biocombustíveis, e fazer disso uma oportunidade para “comunicar ao mundo sua força cientifica” é a terceira recomendação; organizar uma rede de apoio internacional a partir dos cientistas e empreendedores brasileiros vivendo no exterior e, finalmente, implementar com firmeza as políticas publicas já existentes completam as recomendações.

Para os estrangeiros, três recomendações

A consultoria inglesa avalia que a comunidade internacional se concentra muito na floresta amazônica e ignora a extensão e a diversidade da ciência e da inovação no Brasil; que o país tem potencial para cooperar e contribuir por ter desenvolvido novas formas de fazer ciência.

Em particular para a Grã Bretanha, a consultoria sugere que consolide os resultados do recente “Ano da Ciência” encetado em colaboração. Para a Demos, “muitas áreas de inovação”, de seu país, “poderiam ser beneficiadas”.

Um sumário de Brazil, a knowledge natural- economy

O estudo, um caderno de 160 páginas, estrutura-se em uma Introdução e sete capítulos: Mapeamento, Pessoas, Lugares, Empresas, Cultura, Colaboração, Prognóstico. Há também um anexo com a lista de instituições visitadas.

Introdução

Kirsten Bound, a pesquisadora de campo principal e autora do relatório, chama a atenção inicialmente para o desconhecimento internacional sobre as atividades brasileiras em ciência e tecnologia – de Santos Dumont à produção científica, do avião Ipanema, da Embraer, movido a etanol, à força do sistema de pós-graduação; e propõe a definição da economia brasileira como baseada no conhecimento sobre os recursos naturais.

“O sistema de inovação do país é em grande parte construído sobre seus recursos naturais e ambientais”, propõe a pesquisadora, para manifestar que o caminho brasileiro contesta a visão segundo a qual as economias baseadas no conhecimento ou em recursos naturais situam-se como dois extremos no espectro do desenvolvimento econômico.

“No Brasil, a competência crescente em ciência e tecnologia não está separada, ou em oposição, aos recursos naturais, e sim integralmente ligada a eles”, afirma a Introdução.

Mapeamento

O segundo capítulo, Mapping, apresenta a economia brasileira, delineia brevemente a história da ciência e tecnologia no país, descreve o sistema de inovação brasileiro, detacando as instituições federais, as leis de inovação e de incentivos fiscais, o Plano de Ação em Ciência e Tecnologia e a Política de Desenvolvimento Produtivo.

Ao falar do financiamento, apresenta os números do dispêndio em pesquisa e desenvolvimento em relação ao PIB e compara os investimentos federais aos estaduais. Também alinha os dados sobre publicações cientificas, produção das principais universidades e patentes. Finalmente, destaca áreas de pesquisa: biocombustíveis, pesquisa em biodiversidade, nanotecnologia e pesquisa em células-tronco.

Pessoas

No capítulo seguinte, sobre recursos humanos, o relatório aponta a necessidade de aumentar a quantidade de cientistas trabalhando na indústria. Também sugere a necessidade de atrair os brasileiros altamente qualificados que estejam trabalhando no exterior, embora reconheça a importância da presença deles em grandes centros de pesquisa, como colaboradores para os cientistas no Brasil. Chama a atenção também para a necessidade de diminuição da desigualdade social.

Lugares

Desigualdade também é tema do capítulo quatro, Places. Depois de apresentar dados gerais sobre diferenças regionais brasileiras, o relatório destaca hotspots: No Sudeste, São Paulo (definido com “um outro país”, onde, quando se trata de C&T, “não apenas gasta e produz mais, como gasta e produz exponencialmente mais”); Rio de Janeiro (“conhecido pelas praias e pelo fio dental, mas também um dos mais fortes centros de ciência e tecnologia do país”); Minas Gerais (em que o destaque é a cidade de Santa Rita do Sapucaí); no Sul, Curitiba e Florianópolis; no Nordeste, o estado de Pernambuco; no Norte, a cidade de Manaus. Também Brasília recebeu menção especial no relatório.

Empresas

Três empresas são destacadas no estudo: Petrobras, Embrapa e Natura; Vale, Gerdau e Embraco são também mencionadas como “heróis feitos em casa”. O texto lamenta que sejam poucas as empresas que inovam; e apresenta três “fatores históricos” que explicariam a “performance de inovação desapontadora”: o fato de a estrutura da economia ser dominada por pequenas empresas familiares; a política de substituição de importações dos anos 60-70-80; as conseqüências do período de instabilidade econômica e política.

Estabelecido o diagnóstico, o texto avalia como positivas as políticas e estratégias do governo; observa que há incertezas no quadro regulatório e na implementação. Finalmente, em resposta a uma questão sobre as perspectivas para o aparecimento de mais empresas inovadoras de grande porte, o relatório chama a atenção, positivamente, para incubadoras, para o aumento da disponibilidade do capital de risco; do lado negativo, para a dificuldade para a abertura de firmas e a falta de uma cultura de empreendedorismo.

Cultura

O capítulo sobre cultura traça um quadro contraditório do ideário dos brasileiros no Brasil. Com base, principalmente, em dados da organização norte-americana Pew Research, a Demos descreve o país como conservador e despreconceituoso; preocupado com a preservação do meio ambiente; mais partidário do que contrário à globalização; de opinião favorável à ciência.

A diversidade étnica e cultural da população é destacada no relatório como fonte de criatividade – vantajosa para a criação de inovações. O relatório também menciona como positivas algumas iniciativas de inclusão social.

No parágrafo final, a consultoria avalia que a cultura brasileira, sua diversidade e criatividade, combinada com a singularidade de ter desenvolvido um sistema de inovação baseado em seus recursos naturais, pode fazer do país um lugar em que “a vasta maioria da população veja a si própria como contribuindo para um futuro mais inovador, próspero e sustentável”.

Colaboração

As dificuldades para a pesquisa conjunta internacional em biodiversidade, resultado da inexistência de legislação clara para o acesso aos recursos genéticos e biológicos, abrem o capítulo sobre Colaboração.

No entanto, o relatório reconhece que a colaboração internacional cresce a uma taxa “saudável” ainda que, de acordo com os dados apresentados, venha existindo uma redução leve no número de artigos publicados resultantes de cooperação entre cientistas brasileiros e estrangeiros.

Com base em dados da National Science Foundation, a agência de financiamento à pesquisa dos EUA, o relatório afirma que a colaboração dos cientistas brasileiros é maior com os norte-americanos, embora ligeiramente menor do que a mantida com os países da União Européia tomados em conjunto.

O relatório detalha as relações de cooperação entre o Brasil e os EUA, França, Alemanha, Japão; Reino Unido e União Européia. Também informa sobre a cooperação sul-sul, classificada como “uma nova onda surgindo no Brasil”; e salienta as parcerias com países africanos e com a China, em assuntos como pesquisa em agricultura e doenças infecciosas.

Adicionalmente, o texto diferencia a posição do Brasil em relação àquela da Índia e da China – enquanto os dois últimos são retratados como uma ‘ameaça’, o Brasil é visto como “uma potencia mais ocidental”.

Conclusão

A autora menciona, para finalizar, dois versos do Hino Nacional que a seu ver retratam dualidade que marca a trajetória de nosso país: o primeiro, que constata ser o Brasil “gigante pela própria natureza”; e o segundo , “O teu futuro espelha essa grandeza”, que só o tempo poderá confirmar.

(Com informações do Notícias CGEE)


Data: 09/07/2008