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Internet pode ser parceira dos professores

Docentes contam como a rede mundial ajuda seus alunos

 

Alunos que participam de programas de inclusão digital têm maior facilidade no aprendizado. A constatação é feita por professores acostumados a lidar com alunos que não têm acesso à Internet. De acordo com eles, a rede, além de facilitar o acesso à informação, ainda estimula a pesquisa. Os professores concordam que a Internet é um meio rápido para encontrar qualquer tipo de informação, inclusive para trabalhos universitários. Há alunos, no entanto, que não têm acesso à rede de suas casas e por isso não dominam a tecnologia. Eles acabam dependentes de programas de inclusão digital promovidos por diferentes entidades. Alguns deles encontram sua oportunidade de acesso na universidade.

 

"Com acesso a Internet, o aluno passa a escrever e compreender melhor os textos. Uma vez inserido no ambiente on-line, ele vai querer mostrar aos colegas que tem boa escrita e boa base de conhecimentos. O estudante evita o erro e isso é um benefício indireto que a Internet proporciona", afirma o diretor do Instituto Universidade Virtual da UFC (Universidade Federal do Ceará), Mauro Pequeno. Quem concorda e confirma a explicação de Pequeno é o professor de Tecnologia Aplicada à Educação da UnB (Universidade de Brasília), Gilberto Lacerda Santos. Segundo ele, o contato com a rede ajuda os estudantes no processo de aprendizado. "Os estudantes ficam aptos a manejar as tecnologias e, de maneira geral, isso os estimula a ampliar seus conhecimentos", declara Santos.

 

Tão importante quanto os benefícios que a rede proporciona, é o próprio acesso a ela. Por isso, Pequeno destaca a importância de haver programas que insiram os jovens na cultura das mídias. "Atualmente temos a maioria das salas de aula que utilizam a metodologia tradicional e poucas aulas com uso das mídias tecnológicas. Porém, a tendência é que em alguns anos a situação seja invertida: a maioria das aulas será feita com o uso desses equipamentos", arrisca o diretor.

 

Um sinal desta possível tendência se revela nas próprias atividades em sala de aula. Isso porque, os trabalhos e atividades solicitados pelos professores em sala fazem com que os alunos busquem informações na Internet. "Encontrar dados on-line é mais rápido. Nas escolas e universidades públicas ainda há menos pesquisas pedidas que dependam da Internet por, em muitos casos, haver poucos computadores disponíveis para os alunos", aponta Pequeno. Essa carência estrutural é apontada por Santos quando ele diz acreditar ser importante que a universidade ofereça infra-estrutura e participe do processo. "Os jovens conseguem vencer as barreiras da exclusão rapidamente se a universidade dispõe da infra-estrutura necessária", afirma.

 

E quem imagina que os alunos excluídos digitalmente são isolados dos outros estudantes na sala de aula, está enganado. De acordo com Santos, a solidariedade é comum e os alunos costumam ajudar uns aos outros. "Os jovens que têm computador em casa geralmente ajudam os alunos que não sabem lidar bem com a tecnologia", garante. Segundo ele, apenas com a ajuda de colegas de sala que tenham contato com a Internet, é possível para o estudante entender o básico. "Os programas acrescentam muito e auxiliam o aprendizado do estudante com o manejo apropriado do equipamento", diz Santos.

 

Credibilidade da informação

 

Mas antes de abusar do uso da Internet como fonte de informação, é preciso lembrar que nem tudo o que está no ambiente on-line merece credibilidade. Professores ressaltam que não se pode confiar em toda informação disponível na rede. Muitas das buscas realizadas podem tornar-se improdutivas por falta de qualidade do conteúdo. "Buscar dados pela Internet é apenas uma ferramenta mais rápida para encontrar informações. Todos os programas de inclusão digital devem ensinar o jovem a fazer um bom uso da tecnologia que lhe é disponibilizada", afirma a professora do departamento de História da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Regina Helena Alves da Silva.

 

Na dúvida quanto à qualidade da informação, Regina diz que os estudantes podem encontrar os mesmos temas que estão na internet a disposição numa biblioteca. Dessa forma os estudantes podem ficar mais seguros quanto ao conteúdo que pretendem usar em seus trabalhos. "As informações que existem publicadas na Internet vêm de dados facilmente encontrados em livros, nas bibliotecas das universidades", pontua a professora.

 

Outro aspecto que desperta dúvidas quanto eficiência da internet como fonte de informação é sua possível má utilização. Por causa da facilidade com que o conteúdo é oferecido muitos alunos copiam textos dos colegas ou de qualquer site da Internet, sem ligar para a procedência da informação. "Os estudantes deveriam realizar pesquisas em sites confiáveis no assunto abordado. Jogar as palavras-chaves do que procuram em qualquer página de pesquisas pode trazer resultados que não têm credibilidade", alerta Regina. Além de correr riscos quanto à precisão dos dados, podem cometer o erro de plagiar trabalhos existentes.

 

Professores podem contribuir

 

Quando os professores oferecerem uma aula com maior conteúdo que envolva mídias tecnológicas, os alunos excluídos digitalmente correm o risco de ficar para trás. "Se eles não têm o domínio da tecnologia, não conseguirão acompanhar as aulas, podem até se sentirem num mundo desconhecido", afirma Pequeno. Segundo ele, alguns professores deixam de abordar as novas tecnologias em sala por não a entenderem. "Há muitos professores que também não dominam facilmente a tecnologia. Por isso, sua aula se dá de forma tradicional, sem aguçar a curiosidade dos alunos quanto ao manejo de computadores, um conhecimento necessário aos estudantes, por estarem presentes em praticamente todas as empresas", explica Pequeno.

 

De acordo com o diretor do Instituto Universidade Virtual, o primeiro passo é procurar programas destinados a incluir o professor digitalmente e treiná-los para utilizar os meios tecnológicos em sala de aula. "Professores que já dão aulas podem procurar programas que os ensinem a usar a Internet e outras mídias tecnológicas de uma forma didática. Mas o ideal é que daqui em frente os professores já saiam da graduação com esse conhecimento. Para isso, as universidades devem rever a estrutura de suas licenciaturas", acrescenta Pequeno.

 

Santos concorda com a opinião de Pequeno e acredita que há meios corretos para que o docente estimule seus alunos a aprender a usar as mídias digitais disponíveis. "O professor pode estimular alunos excluídos a conhecerem as tecnologias. Para isso, é preciso que sejam promovidas situações adequadas para o uso da tecnologia digital na educação", diz Santos.

 

Segundo Santos, as situações adequadas se dão quando o professor pode ilustrar o que fala com o uso da tecnologia. "Se o professor faz tópicos de sua aula no computador e projeta para a sala, por exemplo, não será uma contribuição para o aluno. Mas se ele der uma aula que fale sobre outro continente e, com o uso da Internet, mostre um mapa para ilustrar cada detalhe explicado, é a maneira certa de despertar a curiosidade do aluno. Dessa forma, ele vai querer procurar o site usado pelo professor para se aprofundar no assunto", exemplifica Santos.

 

(Portal Universia)


Data: 11/07/2008