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Pesquisadora da UFCG participa de curso de capacitação em Israel

Atividade é fruto de acordo entre os governos brasileiro e israelense e visa à implantação de novas tecnologias no programa de revitalização do rio São Francisco

 

Separados por mais de 10 mil quilômetros de distância e com diferenças culturais tão grandes quanto a disparidade entre o tamanho de seus territórios, Brasil e Israel enfrentam problemas bastante parecidos quando o assunto é gestão de recursos hídricos. Assim como o nosso Semi-árido nordestino, todo o território israelense - cuja área é ligeiramente menor que o estado de Sergipe -, sofre com a escassez d’água.

 

“Essa carência forçou Israel a tratar de forma massiva suas águas residuárias e a se tornar um dos países mais desenvolvidos do mundo em tecnologia agrícola e aproveitamento de recursos hídricos”, explica a professora Vera Antunes, da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da UFCG.

 

Ela integrou um grupo de 22 engenheiros brasileiros que esteve recentemente em Israel participando do curso de Capacitação Regional em Recursos Hídricos. Durante duas semanas, eles viveram em kibutzim (cooperativas agrícolas), onde se aperfeiçoaram em novas técnicas de reutilização de água e aproveitamento agrícola desenvolvidas pelos israelenses.

 

O curso foi a primeira ação do acordo de cooperação firmado em outubro de 2007, entre o governo brasileiro, através do Ministério da Integração Nacional, e o Centro de Cooperação Internacional do Ministério de Relações Exteriores do Estado de Israel.

 

O objetivo é avançar na implementação de projetos no âmbito do Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e do Parnaíba, através do desenvolvimento, no Brasil, de cursos de extensão, pós-graduação, capacitação e de reciclagem sobre o uso e reuso de água na agricultura, tecnologias poupadoras e combate à desertificação.

 

“A viagem de estudos permitiu um conhecimento bastante abrangente das práticas de uso de esgotos tratados em larga escala na agricultura”, afirmou a pesquisadora. “Foi muito proveitosa também na discussão do aproveitamento desta experiência na revitalização da Bacia do Rio São Francisco, contribuindo na minimização dos impactos ambientais decorrentes da disposição desses efluentes na bacia hidrográfica, ao mesmo tempo em que se aproveita o potencial fertilizante dessas águas na produção agrícola”, observou.

 

Ela disse que o reuso de águas em Israel passou a ter grande importância na oferta hídrica para a agricultura há pelo menos duas décadas. “Atualmente, utilizam-se 75% das águas servidas, com perspectiva para ampliar este percentual para 95% até 2020. Lá, a água chega a ser reutilizada quatro vezes em diferentes aplicações, devido às técnicas de purificação e de reaproveitamento”, destacou.

 

“Na UFCG, estamos desenvolvendo projetos sobre este tema há pelo menos 10 anos, projetos estes que já deram origem a várias teses, dissertações, trabalhos de iniciação científica e de conclusão de curso. No momento, estamos implantando uma Unidade Piloto, em parceria com a Agencia Nacional de Águas (ANA)”.

 

Segundo Vera Antunes, o aproveitamento de esgotos tratados para irrigação é plenamente possível no Brasil, “desde que se entenda o contexto no qual eles são praticados e se forneçam as condições necessárias para tanto. Estas não devem se pautar apenas nos aspectos tecnológicos e sim considerar o nível educacional e organizacional dos agricultores e a infra-estrutura de apoio à produção, incluindo o papel da extensão rural”.

 

Aliás, um dos pontos destacados pela engenheira foi o alto nível educacional dos agricultores israelenses, que permitiu que estes não apenas aplicassem avançadas técnicas de produção, mas também chegassem a desenvolvê-las, como foi o caso da concepção do sistema de irrigação por gotejamento. “Os agricultores de lá contam com o apoio de extensionistas agrícolas muito capacitados, geralmente com curso de doutorado, experientes e articulados com as universidades e centros de pesquisa”, disse.

 

Outro fato considerado positivo pela pesquisadora é a elevada organização dos agricultores. “A grande maioria dos trabalhadores rurais israelenses está organizada em diferentes tipos de colônias ou cooperativas agrícolas. Em todas elas, a atividade é planejada detalhadamente, desde a seleção da cultura até sua comercialização, geralmente destinada ao mercado internacional”.

 

Durante o curso, as atividades de natureza teórica foram desenvolvidas no Kibbutz Shefayim, localizado às margens do Mediterrâneo, a cerca de 15 km de Tel Aviv. As aulas práticas aconteceram em diversos locais da região da Galiléia, do deserto do Negev e do Mar Morto, e incluíram visitas a locais de captação de águas superficiais e subterrâneas, tubulações e unidades de tratamento de esgotos sanitários.

 

“Visitamos também a maior usina de dessalinização de água do mar do mundo, localizada nas proximidades da usina termoelétrica de Ashkelon”, completou a professora, que também aproveitou a viagem para apreciar a arquitetura bem característica dos bairros árabes e judeus, “apesar de estranhar a imensa quantidade de jovens portando metralhadoras”, finalizou.

 

Legenda: O sistema de distribuição de água residuária tratada em Israel tem a tubulação de cor roxa e cartazes em três idiomas, avisando que a água não serve para consumo humano.

 

(Kennyo Alex - Ascom/UFCG)


Data: 25/07/2008