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Grupo cria material para invisibilidade

Laboratório liderado por físico chinês projeta estrutura de liga de metais capaz de desviar a trajetória da luz "para trás"

Quando a personagem Mulher Maravilha apareceu em gibis pela primeira vez pilotando um avião invisível, em 1942, a tecnologia para anular a imagem de um objeto ainda era algo impensável. Um estudo publicado ontem, porém, mostra que a tarefa já é possível em pequena escala. Construir aquela aeronave -que saiu dos quadrinhos para se tornar o sonho dos militares- pode ser agora só uma questão de tempo.

Projetando um material especial que é capaz de desviar raios de luz de uma maneira inusitada, um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia liderado pelo chinês Xiang Zhang obteve pela primeira vez um objeto capaz de dobrar a luminosidade "para trás".

Essa propriedade, chamada pelos físicos de refração negativa, não existe em nenhum tipo de material comum, e para criar algo assim foi preciso construir uma rede de liga metálica com estrutura precisa na escala de nanômetros, ou milionésimos de milímetro.

"Nós fizemos mesmo o primeiro objeto tridimensional com refração negativa para luz visível, mas não é muito grande", disse Zhang à Folha, em referência a uma grade de poucos nanômetros produzida em seu laboratório e descrita em estudo na revista "Nature".

A refração negativa já havia sido atingida em outros experimentos, mas apenas para outros tipos de radiação que não se aproximam muito da luz, como as microondas. Tanto a luz quanto as microondas são compostas de ondas eletromagnéticas. Fazer materiais para manipular a luz, porém, é muito mais difícil, porque o comprimento das ondas visíveis ao olho humano é bem menor que o das microondas.

Mas o avanço da nanotecnologia parece ter dado conta do recado. O novo material, porém, ainda está um bocado distante de poder servir como matéria-prima para um avião invisível. É caro, trabalhoso, frágil, impraticável para grande escala e, por enquanto, funciona só para luz vermelha. Mas nada disso desanima Zhang. "A tecnologia está aí", diz. "Agora é questão de as pessoas quererem despender mais esforço e dinheiro para produzir algo de um tamanho grande."

Antes de os militares realizarem seu sonho de produzir aviões invisíveis, porém, os materiais com refração negativa devem ganhar uso em aplicações científicas, como na produção de supermicroscópios.

"Se você usa um material natural, como um vidro, para fazer lentes, há um limite para a resolução da imagem que se quer obter, e esse limite é da ordem do comprimento da onda de luz", explica Zhang. Por essa razão, os microscópios ópticos, que são práticos para biologia, ainda não conseguem lidar bem com imagens menores que 700 nanômetros -o comprimento da onda de luz vermelha. A expectativa é que o novo material possa resolver esse problema.

(Folha de SP, 12/8)


Data: 12/08/2008