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Projeto da UFCG avalia resultados da reforma psiquiátrica

Implantação do serviço reduziu em mais de 81% as internações, diz estudo

 

Segundo o Ministério da Saúde, 3% da população geral sofre com transtornos mentais severos e persistentes, 6% apresenta transtornos psiquiátricos graves decorrentes do uso de álcool e outras drogas, e 12% necessita de algum atendimento em saúde mental, seja ele contínuo ou eventual.

 

Implantada em 2001, a reforma psiquiátrica no Brasil foi criada com o objetivo de acabar com o tratamento desumano dispensado aos portadores de transtornos mentais, erradicando a internação em hospitais psiquiátricos especializados e transferindo o atendimento para sistemas mais humanizados, especialmente nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),

 

Considerada um enorme avanço no tratamento psiquiátrico de todo o País, a reforma apresenta resultados bastantes positivos também no interior da Paraíba. É o que comprova uma pesquisa coordenada pela professora Francisca Bezerra de Oliveira, do Centro de Formação de Professores (CFP) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus Cajazeiras.

 

O projeto, desenvolvido em conjunto com a estudante Joana Celine Costa e Silva, intitula-se Doença Mental e (Re) Inserção Social: uma relação possível?, e tem como referência a atuação do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Cajazeiras.

 

Na ideologia do Ministério da Saúde,o CAPS é um órgão criado para atender pessoas com transtornos mentais em regime aberto; estimular a manutenção e contratos terapêuticos. De acordo com os primeiros levantamentos, desde a implantação do serviço, o número de internações diminuiu em mais de 81%, considerando-se a quantidade anteriormente obrigada a freqüentar de forma contínua e/ou por períodos longos, os hospitais psiquiátricos da região ou das grandes cidades paraibanas.

 

Números

 

Foram pesquisados, de agosto de 2007 a julho de 2008, 105 pacientes, os quais responderam questionários e comprovaram, com depoimentos, a eficiência desse novo modelo de tratamento. Durante este período, dos usuários entrevistados, apenas 23,24% precisaram ser internados. Os demais obtiveram êxito com o tratamento do CAPS. 

 

Do contingente observado, 63% eram mulheres e 37% de homens. Perceber-se ainda que a população alvo desta pesquisa é constituída por 60% de usuários solteiros e 32% casados, sendo que um percentual mínimo, 6% e 2%, se aplica respectivamente a separados e viúvos.

 

No tocante ao número de atendimentos, o serviço atende atualmente, aproximadamente, a 400 usuários mensalmente, sendo 300 atendidos em regime ambulatorial. No período pesquisado foram realizados 10.839 atendimentos, sendo que o maior número de procedimentos corresponde às ações desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem (enfermeiro e técnicos de enfermagem) e pelo psiquiatra.

 

Projeto será apresentado no ENIC

 

O projeto da UFCG, aprovado pela segunda vez pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (PIBIC), para o exercício 2008/2009, foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) do Centro de Saúde de Tecnologia Rural da UFCG, com o parecer favorável, e será apresentado no Encontro de Iniciação Científica (ENIC), que acontecerá em Campina Grande, em outubro próximo.

 

“Esta pesquisa provoca uma reflexão de como as práticas desenvolvidas pelo CAPS possibilitam articulações com projetos da sociedade e viabilizam a (re) inserção social dos usuários, tratando-se de um estudo exploratório, com abordagem quantitativa e qualitativa”, esclarece Francisca Bezerra.

 

Os resultados, segundo a professora são frutos das atividades realizadas pela equipe multidisciplinar, com a ajuda da comunidade, familiares e amigos. “Todo o trabalho é a soma de um esforço em conjunto desses segmentos”, frisa. Entra as ações promovidas estão oficinas de autocuidado com higienização das unhas, couro cabeludo e barba, esclarecimento da manutenção da higiene e prevenção de doenças oportunistas, psicoterapia individual, reunião com familiares e supervisão clínico-institucional.

 

Estágios supervisionados de alunos do curso de graduação em Enfermagem, curso técnico em Enfermagem e atividades lúdicas, a exemplo do teatro de fantoches, também têm ajudado na recuperação.  

 

Promoção de trabalho e geração de renda serão estimuladas

 

Na pesquisa, embora o CAPS tenha realizado um excelente trabalho com os portadores de transtornos mentais, a participação do usuário em projetos de articulação com a sociedade que visam à sua (re) inserção social é ainda pouco intensa e seu vínculo com esse processo paulatino de participação e responsabilização é frágil.

 

Uma das idéias da pesquisadora é, através dos resultados, apresentar caminhos que possam estimular a integração desse público em postos de trabalho e geração de renda, acabando com a ociosidade e o sentimento de inutilidade de muitos.  “Devemos ter em mente que essas pessoas são capazes de exercer muitas atividades e lhes dar uma oportunidade”.

 

Segundo Francisca, infelizmente, o doente mental ainda é considerado pela maioria da população, como um ser “fora de si”, irresponsável, incapaz ou bizarro. “Isso deve ser esquecido, em face aos resultados obtidos com a mudança na política da reforma psiquiátrica, baseada na exclusão dos hospitais psiquiátricos, que só implicavam em altos custos ao SUS e poucos resultados no tratamento dos doentes”, disse.

 

“Foi a partir da reforma psiquiátrica, cujas discussões foram iniciadas na década de 90 e implantadas em 2001, que o esse tipo de doente passou a ser visto como um ator social importante, com pleno direito à cidadania, à autonomia e a um tratamento de qualidade de base comunitária”, enfatiza a professora.

 

A pesquisa, que foi aprovada novamente no PIBIC – exercício 2008/2009, está na segunda etapa, com 20 usuários intensivos e semi-intensivos.

 

(Rosângela Araújo – Ascom/UFCG)


Data: 22/08/2008