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Ministério da Educação enfrenta o desafio de formar professores

Estimativas apontam que 34% dos alunos de licenciaturas não completam o curso; baixo salário é o principal obstáculo

A formação de professores, ponto de partida para melhorar o ensino básico, está diante de uma encruzilhada: como atrair jovens talentos e preparar bons profissionais se a carreira do magistério paga mal e a evasão é alta nas universidades?

O Ministério da Educação (MEC) não tem estatísticas precisas, mas estima que 34% dos universitários que ingressam nas licenciaturas (que formam professores de ensino fundamental e médio) não completam o curso no tempo previsto. Em física e química, áreas que mais sofrem com a falta de docentes nas escolas, a taxa de insucesso atinge 69% e 52% respectivamente. Os dados são de 2005.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), maior instituição do país mantida pelo MEC, oferecia até o ano passado apenas 40 vagas anuais de licenciatura em química. Este ano, criou uma unidade em Macaé para 25 alunos por semestre; na estréia, sobraram duas vagas. A diretora do Instituto de Química da UFRJ, Cássia Curan Turci, diz que a evasão beira 30%, mas vem caindo.

Segundo ela, metade dos formados se torna professor, o que significa que a outra metade acaba buscando outras atividades. Os baixos salários levam grande parte dos docentes a ter mais de um emprego.

Cássia levou um susto ao saber que uma de suas alunas recebe R$ 3 por hora para lecionar numa escola particular de São Gonçalo, o equivalente a R$ 480 mensais por uma jornada de 40 horas, sem gratificações.

O resultado é um só: ingressa no curso quem não consegue passar no vestibular de carreiras mais disputadas.

- Vou ser sincera: em geral, são pessoas que tiveram mais dificuldades na vida e precisam trabalhar durante o dia. Mas temos alunos muito bons que acreditam que a educação é o melhor caminho para o Brasil - diz a diretora.

Na UnB, apenas três com licenciatura em física

Na Universidade de Brasília (UnB), 19 alunos da turma noturna concluíram a licenciatura em física no último semestre. É quase metade das 32 vagas oferecidas quatro anos antes.

No curso diurno, o interesse pela licenciatura é ainda menor: somente três alunos foram habilitados a lecionar, enquanto nove optaram pelo bacharelado, que abre caminho para pesquisa ou trabalho na indústria, ou seja, 12 graduados num total de 26 vagas.

- Quem faz física não tem chance de fazer um curso de Direito. As pessoas que estão enchendo o estacionamento da UnB são de classe média alta e vão para o Direito, a medicina. Na Física são aqueles sonhadores - diz o diretor do Instituto de Física da UnB, Antonio Cleves Nunes.

O coordenador da licenciatura em Física da UFRJ, João José Souza, informa que 60% dos egressos que fizeram concurso para professor da rede estadual foram aprovados em janeiro.

Por e-mail, a professora Susana de Souza Barros resumiu o que considera necessário para atrair jovens ao magistério: - Uma carreira mais valorizada pela sociedade e pelas autoridades, com salário justo e condições de trabalho adequadas. Especialmente, que um professor possa se dedicar a uma única escola.

 

(O Globo, 24/8)


Data: 25/08/2008