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Intercâmbio ajuda a melhorar formação no Brasil

Vinda de estudantes estrangeiros cresce e qualifica Ensino Superior

 

Assim como brasileiros migram para outros países para ser estudantes, docentes e pesquisadores, o Brasil também atrai profissionais que procuram aperfeiçoar e difundir seu conhecimento. Um dos pontos positivos desta união é a melhor formação do profissional nacional, que ganha em experiência, diversidade de conhecimentos e qualificação. A opinião é de Milton Bentancor, doutor em letras pela Universidad de Salvador na Argentina e professor nos cursos de Letras, Comércio Exterior e de Espanhol no Programa de Línguas Estrangeiras na UCS (Universidade de Caixias do Sul).

 

Bentancor mora no Brasil desde março de 1998 a convite de uma representante da USC em Buenos Aires, que buscava um profissional para preparar um curso de professores de espanhol em Caxias do Sul. A oportunidade, segundo Bentancor, demoraria mais tempo se fosse na Argentina, mas o resultado foi gratificante para ambos os lados, afinal o corpo docente também se especializou nesta troca de conhecimentos. "O corpo de professores do curso que leciona na UCS é formado por sete docentes, dos quais uns quatro são formados pelo curso que a faculdade oferece", diz Betancourt que completa "No fundo, o professor (estrangeiro) está trabalhando para uma melhor formação do professor nacional".

 

Para estudantes, o Brasil também se tornou destino atrativo. Algumas instituições da Europa mantêm convênio com instituições brasileiras para cursos de graduação e programas de estágio. O francês Maxime Poulet é um exemplo. Bacharel em Física pela Université Claude Bernard - Lyon I  (França) e cursando o segundo ano de Mestrado em Caracterização e Gerenciamento da Atmosfera, ele veio para o Brasil em junho deste ano para um estágio de seis semanas no IPMet (Instituto de Pesquisas Meteorológicas) da UNESP (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho) em Bauru/SP.

 

A universidade em que Poulet cursa o mestrado oferece um programa de intercâmbio aos alunos, em que é possível escolher uma das instituições conveniadas no exterior por um período de seis ou oito semanas. Durante a estadia, a universidade francesa envia dinheiro para auxiliar nos custos. Poulet tinha as opções de ir para outros países da Europa, para a China ou vir ao Brasil. Europa e China foram descartadas como opção, a primeira por ele já conhecer e a segunda por não despertar interesse. O estudante conta também quem por ter uma professora brasileira e ter conversado com ela sobre a proposta ela o ajudou em sua escolha.

 

Paris Ramirez Mira é espanhol e, assim como Poulet, veio para o Brasil por meio de um convênio entre as instituições. Após conseguir uma bolsa de estudos pela Universidad de Castilla-La Mancha o estudante veio em março ao Brasil para cursar Educação Artística na UCS. Apesar de a UCS ser a única opção do estudante, o idioma e a imagem que o Brasil têm para os espanhóis também foram motivos para despertar o interesse em conhecer o país. "A imagem é um preconceito de praia, calor, samba", diz ele. Seus amigos acham que está na praia sem fazer nada, no entanto estranha o ritmo das pessoas por ser diferente da sua cidade natal. Ele diz que as pessoas são muito individualistas, tem que combinar horário para tudo, porque todo mundo trabalha e estuda, embora o tenham dito que não é assim em todo o Brasil.

 

Mira já viveu outra experiência de intercâmbio, onde morou durante um ano na Hungria. Ele explica que dentro da Europa existem diversas bolsas de estudo o que facilita este tipo de vivência regional em detrimento da internacional. Mas, para ele, o intercâmbio na América do Sul torna-se mais fácil por causa do idioma ser semelhante. Na Europa existem idiomas diferentes e diversos dialetos, e para se comunicar é preciso falar inglês. Quanto à experiência no Brasil, o espanhol acredita que o ajude profissionalmente no futuro, além de ter mais um idioma para incluir no currículo. "Eu acho que a formação tem a ver com a experiência da pessoa", afirma Mira.

 

Em contrapartida

 

Os estudantes classificam como uma das principais dificuldades a cultura. Para Poulet, o Brasil é um lugar agradável e bem diferente da França. O clima tropical com o qual não está acostumado foi a principal dificuldade encontrada por ele em sua estadia no país. "E o idioma, é claro", completa o francês.

 

Mira não teve muita dificuldade no idioma pela proximidade entre o português e o espanhol, conseguindo se virar no chamado "portunhol". Ele diz que gostaria de trabalhar enquanto está aqui, mas como estrangeiro é mais difícil. Agora que sua bolsa está terminando ele irá procurar emprego. Mira, que iria embora na ultima sexta-feira, 15 de agosto, prorrogou o tempo de sua estadia aqui no país, e pretende ficar até fevereiro ou março. "Vai ser difícil passar o Natal longe da minha família, mas eu quero por causa do verão", diz Mira.

 

Diploma estrangeiro

 

Quando Bentancor veio para o Brasil, não encontrou maiores dificuldades. Por ter vivido muito tempo no Uruguai, onde diz ter muita influência brasileira, a adaptação foi simples. Mas ele explica que o maior empecilho veio agora com acordo de admissão de títulos acadêmicos, promulgado pelo presidente Lula no decreto nº. 5.518, de 23 de agosto de 2005, em que os títulos de doutorado que são conseguidos no Mercosul devem seriam revalidados automaticamente. No entanto, o decreto ainda não foi regulamentado, o que impede que esses processos sejam agilizados. Embora Bentancor tenha entrado em contato com sete, oito universidades, fica à espera de um contato futuro que não ocorre.

 

Segundo nota oficial divulgada pela Capes, o acordo de admissão de títulos acadêmicos não dispensa da revalidação/reconhecimento (Art.48, § 3º,da LDB) os títulos de pós-graduação conferidos em razão de estudos feitos nos demais países membros do Mercosul. Para ter validade no Brasil, todos os diplomas conferidos por estudos realizados no exterior devem ser submetidos ao reconhecimento por universidade brasileira que possua curso de pós-graduação avaliado e reconhecido pela Capes. O curso deve ser na mesma área do conhecimento e em nível de titulação equivalente ou superior (art. 48, da Lei de Diretrizes e Base).

 

A regra não vale somente para quem vem do exterior, como explica Bentancor, mas também para o brasileiro que busca uma pós-graduação no exterior. "É uma barreira para o profissional que busca cursos de pós-graduação no exterior", afirma Bentancor e completa, "está muito relacionado aos custos de uma pós-graduação, que no exterior tem custo relativamente menor que no Brasil".

 

(Portal Universia)


Data: 29/08/2008