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Um país menos desigual

Ganho subiu 7,4% para trabalhadores mais pobres e caiu 0,6% entre ricos. Concentração se agravou no Centro-Oeste

Um Brasil menos desigual, com trabalhadores mais protegidos. Foi assim que a maior pesquisa nacional de condições de vida encontrou o país ano passado.

O IBGE lançou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007, mostrando ainda forte avanço do saneamento; menos analfabetos; mais crianças e menos jovens nas escolas; e internet atingindo mais computadores.

- Apesar da queda expressiva do grau de concentração, é preciso pensar em novas políticas públicas para dar maior velocidade à redução da desigualdade - disse Eduardo Nunes, presidente do IBGE.

No mercado de trabalho, a situação melhorou em geral. A queda de 2,4% na desigualdade de renda foi a maior desde 1990 - ano do confisco do governo Collor, com empobrecimento geral. O Índice de Gini, que mede o grau de concentração - sai de zero e, quanto mais perto de um, pior -, caiu de 0,540 para 0,528 de 2006 para 2007.

A distribuição melhor, com um aumento de 6% no número de empregados com carteira assinada, mostra uma mudança estrutural. O número de pessoas trabalhando cresceu 1,6% e o rendimento médio real (descontado o efeito da inflação) subiu 3,2%, para R$956 mensais. Excluindo-se o Norte rural, que passou a ser pesquisado em 2004, o rendimento ficou em R$960.

A valorização foi menor que as de 2006 e 2005, mas encerra o terceiro ano seguido de ganho para os trabalhadores. São 15,6% desde o início da recuperação. O salário, porém, é menor que os R$1.003 de 1998. O desemprego caiu de 8,4% para 8,2%, o menor desde os 7,8% de 1997.

- O mais significativo é quebrar essa estrutura da distribuição de renda. Está se quebrando uma inércia de décadas - disse Lauro Ramos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Centro-Oeste: salário puxado por profissionais liberais

A explicação matemática para queda da desigualdade está nas pontas. Os 10% mais pobres viram seu rendimento engordar 13,4%. Para o 1% mais rico, houve queda de 0,6%. Entre os 10% que ganham mais, a alta limitou-se a 0,38%.

- Pela primeira vez, num momento de recuperação da economia e alta dos rendimentos, vemos a desigualdade cair - afirmou Claudio Dedecca, economista da Unicamp.

O fenômeno nordestino de aumento da concentração de renda visto em 2006 se transferiu, em 2007, para o Centro-Oeste, onde o Índice de Gini subiu de 0,541 para 0,551. Segundo Sonia Rocha, do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), o Centro-Oeste tem atraído muitos profissionais liberais, que ganham mais. Cimar Azeredo, gerente da integração da Pnad e da Pesquisa Mensal de Emprego, acredita que o aumento do emprego agrícola na região, que paga menos, pode ter influído.

Shirley Barbosa, geógrafa do Ibama, comemora o bom momento do funcionalismo público em Brasília, com reajustes de salários e mais acesso a bens. O mineiro Vanderley Alves da Silva, radicado em Brasília, trocou o emprego de motoboy por um negócio de vendas de marmitas, e viu sua renda dar um salto no último ano: de R$800 para R$2.400 por mês:

- Tenho chance de crescer mais. Foi só vencer o medo.

A situação se inverteu no Nordeste, que agora teve a maior queda na concentração:

- Uma queda nunca vista em qualquer série histórica de desigualdade - observou Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Em Rio Grande (RS), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou:

- Com muito orgulho eu posso dizer para vocês que melhoraram todos os indicadores sociais: melhorou a renda, o número de empregos, o crescimento da indústria e a perspectiva deste país. Eu poderia dizer que melhorou a auto-estima do povo e nossa perspectiva de futuro.

(O Globo, 19/9)


Data: 19/09/2008