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Um país inteiro de mudança

Ilhas Maldivas vão comprar terras no exterior para fugir da elevação do nível do mar

O novo presidente da República das Maldivas, Mohamed “Anni” Nasheed, assumiu o cargo ontem anunciando uma medida extremamente drástica mas que dá a exata noção da ameaça que a elevação do nível do mar representa à nação: realocar o país inteiro. Boa parte das quase 1.200 ilhas que compõem o país fica a apenas 1,5 metro acima do mar.

A capital, Malé, foi em grande parte alagada logo após a tsunami de 2004. Por isso, o plano do novo governo é reverter parte da verba arrecadada com o turismo para um fundo cujo principal objetivo seria investir em áreas mais seguras para a sua população.

— Vamos investir em terra no exterior — disse Nasheed, o primeiro presidente democraticamente eleito do país. — Não queremos terminar em campos de refugiados.

Nasheed contou já ter sondado alguns países e encontrado receptividade à idéia entre eles. Territórios hoje pertencentes ao Sri Lanka e à Índia estão sendo considerados porque os países têm cultura, culinária e clima similares. A Austrália também está sendo sondada.

Em entrevista à BBC, o porta-voz da Presidência, Ibrahim Hussein Zaki, explicou por que o governo precisa agir rapidamente: — Aquecimento global e outras questões ambientais são motivos de grande preocupação para o povo das Maldivas. Estamos a cerca de um metro e meio do nível do mar.

Qualquer elevação pode ter um efeito devastador para a população e ameaça sua própria sobrevivência.

Elevação de ao menos 60 centímetros é estimada

Localizadas no sul da Índia, as Maldivas até então conhecidas como destino turístico passaram a ganhar o noticiário internacional depois de apontadas como um dos países mais ameaçados pelo aquecimento das temperaturas do planeta e a conseqüente elevação do nível dos mares. Outras nações insulares enfrentam ameaças semelhantes.

É o caso de Tuvalu, no Oceano Pacífico, cujo ponto mais alto alcança apenas cinco metros, e Kiribati, entre outras.

O último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU estima que o nível do mar pode aumentar 60 centímetros até 2100, com o derretimento das camadas de gelo e a expansão da água do mar pelo calor. E o próprio painel, além de outros especialistas em clima, alerta que a elevação pode ser ainda maior se nada for feito para conter o aquecimento.

As Maldivas são fundadoras da Aliança dos Pequenos Países Insulares que, desde 1992, vem pressionando os países ricos a reduzirem emissões de gases do efeito estufa, relacionadas ao aumento das temperaturas.

O país é particularmente vulnerável às enchentes não só por ser o mais baixo do mundo, mas também porque sua população apresentou um aumento considerável nos últimos 20 anos, passando de 200 mil pessoas para 400 mil. Malé, a extremamente populosa capital de menos de dois quilômetros quadrados, é cercada por muros de contenção do mar, construídos com a ajuda do Japão.

 

(O Globo, 12/11)


Data: 12/11/2008