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Doutores se multiplicam e interessam às empresas

Mercado busca pesquisadores em informática, petróleo e agronegócio

O doutorado, etapa que forma profissionais para uma carreira ligada à inovação e à pesquisa, atrai cada vez mais alunos -e a atenção das empresas. Em 1987, formaram-se no país 1.005 doutores. Vinte anos depois, eles já eram 9.919 -e 49.668 doutorandos.

"Nossos doutores se colocam prioritariamente na universidade, pois há uma carência enorme no ensino superior", diz Armando Corbani Ferraz, 61, pró-reitor de pós da USP.

Apesar de a maior parte permanecer nas universidades, cresce a absorção por empresas, apontam especialistas. Um alvo são os centros de pesquisa e desenvolvimento das companhias, afirma Roberto Lobo, ex-reitor da USP e consultor em ensino superior. "Mas não são muitas as que têm centros competitivos", analisa.

Investimentos em pesquisa e desenvolvimento crescem desde 2004, após a Lei de Inovação estabelecer incentivos à pesquisa, lembra Naldo Dantas, 40, coordenador do comitê de interação universidade-empresa da Anpei (Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras).

"Universidades públicas passaram a direcionar mais as pesquisas para o mercado, e cresceu fortemente a alocação de doutores em organizações."

Segundo Dantas, pesquisadores são aproveitados em áreas como informática, petróleo, agronegócios e energia.

Marcelo Lavall, 29, gerente das divisões de engenharia e óleo e gás da empresa de recrutamento Michael Page, explica que o doutorado é um diferencial em setores como engenharia e geologia, mas só se aliado à experiência profissional. "Quem emendou o doutorado no mestrado e o mestrado na graduação pode ser visto como muito acadêmico", ressalta.

"A percepção de uma deficiência no currículo transforma o doutorado em uma tentativa de minimizar falhas na graduação, mas essa não é a função dele", complementa Maria Lúcia de Souza Formigoni, 52, pró-reitora de pós-graduação e pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Doutorado direto

Por exigir familiaridade com pesquisa, o doutorado costuma recrutar quem já fez mestrado. "Nem sempre é necessário. Dependendo da qualificação do estudante, ele pode entrar no doutorado direto", diz Ferraz.

Em outras áreas, o caminho pode ser ainda mais abreviado. "Há jovens que fizeram doutorado antes da faculdade", diz César Camacho, 65, diretor do Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada). Ele diz que o caminho natural é fazer o mestrado antes, mas pode acontecer de estudantes mais jovens serem descobertos em olimpíadas de matemática, por exemplo.

(Folha de SP, 1/2)


Data: 02/02/2008