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Universidades privadas pedem apoio do BNDES

Setor quer uma linha especial de financiamento, com recursos públicos e condições melhores que as praticadas hoje

Levantamento feito pelo sindicato das Universidades privadas de SP aponta que 41,5% das instituições terão um volume menor de novos alunos (ingressantes) neste ano em relação ao ano passado. Segundo a entidade, a redução é reflexo da crise econômica.

Será a primeira vez desde 1996 que as escolas privadas do Estado sofrerão tal redução, se for confirmada a diminuição (a ser oficializada com a tabulação do Ministério da Educação).

"Nosso alunado é formado em sua maioria de aluno-trabalhador. Em qualquer problema de desemprego, dele ou de algum integrante da família, ele desiste do curso superior", afirma o presidente do Semesp (sindicato das instituições particulares), Hermes Figueiredo.

De acordo com o IBGE, o número de desempregados na região metropolitana de SP aumentou 32% entre dezembro e janeiro.

A pesquisa do Semesp foi respondida por 266 instituições, 69,5% do total de SP. Apenas 26,8% afirmaram que terão mais ingressos neste ano. "A redução é preocupante. Menos alunos hoje significa menos alunos por quatro ou cinco anos [duração dos cursos]", disse o pesquisador Oscar Hipólito, do Instituto Lobo e ex-diretor do Instituto de Física da USP de São Carlos.

"A diminuição [dos novos alunos] desestrutura a instituição, pois muitos dos gastos são constantes. E, ao tentar cortar as despesas, pode haver perda de qualidade. Muitas, por exemplo, mandam embora os professores mais preparados, que têm melhores salários."

BNDES

Para tentar atenuar os efeitos da crise, o Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular solicitou ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) uma linha especial de financiamento, com recursos públicos, para a área.

As instituições pedem recursos com taxas menores do que as do mercado, tanto para capital de giro (manutenção dos cursos) quanto para investimento (ampliação e modernização da infraestrutura). O banco já possui uma linha para financiar o investimento, mas o fórum pleiteia condições melhores. Já a linha para capital de giro seria inédita.

Segundo Hermes Figueiredo, o presidente do Semesp, desde que começou a crise econômica, no final do ano passado, as Universidades têm encontrado dificuldade para fazer empréstimos bancários. E, quando conseguem, afirma, as taxas estão altas (foram de uma média de 1,5% ao mês no ano passado para 2% a 3% neste ano).

"Estamos com menos alunos, menos crédito e a inadimplência subindo. Precisamos de recursos para evitar, por exemplo, demissão de professores."

O banco não se manifestou ontem sobre a solicitação das Universidades privadas.

"Falta de qualidade"

Antes mesmo da crise econômica, o ensino superior já passava por dificuldades pelo fato de o número de vagas ter crescido nos últimos anos muito mais que a demanda.

Entre os anos de 1997 e 2007, o número de instituições de ensino superior privadas do Estado passou de 266 para 496 (aumento de 86,5%). Já o total de alunos no ensino médio teve queda -de 1,8 milhão para 1,7 milhão.

Para Carlos Monteiro, consultor em ensino superior, o setor passa por dificuldades porque não conseguiu se estruturar para permitir a permanência nas salas de aula da classe C, público disputado hoje por muitos cursos de graduação.

"A falta de qualidade em muitas instituições afasta o aluno. Um problema maior é a falta de opções de financiamento para quem tem dificuldade para pagar os estudos. São problemas estruturais. A crise financeira é apenas mais um problema."

Consultores divergem sobre financiamento

O consultor Ryon Braga, da Hoper Consultoria, concorda com uma linha especial de financiamento para as Universidades particulares. "O governo já diminuiu o IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] dos automóveis. Também pode ajudar a educação."

Já o consultor Carlos Monteiro diz que o governo tem a "obrigação" de criar essa linha, "pois foi o setor privado quem assumiu a maior parte da educação superior em razão da ausência das vagas públicas".

O pesquisador Oscar Hipólito discorda: "Prefiro financiamento para os alunos. Assim, você garante que o recurso vai para onde deve ir".

"A maioria das instituições é familiar, sem reserva de caixa para aguentar a crise. Achamos ser justo que nós, que representamos 4 milhões de alunos, recebamos uma linha do BNDES, como tantos outros setores", disse Hermes Figueiredo, um dos representantes do fórum das instituições, que pediu a ajuda ao BNDES.

A Folha apurou que o Ministério da Educação, que será consultado pelo BNDES, recomendará que haja condições para os empréstimos: que os recursos sejam liberados só para instituições com boas notas nas avaliações de ensino ou que apresentem, detalhadamente, onde gastarão a verba. A pasta quer evitar desvio de recursos para outro fim.


(Folha de SP, 26/2)


Data: 26/02/2009