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Artigo - Solidariedade a Luiz Couto

Por Wagner Braga Batista

 

No final dos anos 70, a igreja católica paraibana destacou-se no cenário político nacional e internacional. Essa projeção deveu-se à obstinada participação da igreja na solução de problemas que atingiam diretamente setores mais desfavorecidos da população. Sua atenção a agricultores, a favelados, a menores de rua, a encarcerados, a mulheres ultrajadas ou abandonadas por seus companheiros, que premidos por condições inóspitas, viajavam para o sudeste em busca de emprego, as chamadas viúvas da seca, contribuiu para emancipação de segmentos mantidos à margem da sociedade. Essas iniciativas deram relevo à ação social da igreja católica na Paraíba. Reverteram uma tendência da instituição eclesial no tocante à relação com as oligarquias locais e às causas conservadoras. Destacaram inúmeros padres, frades e freiras, irmãs de caridade, seminaristas, que desse modo deram sentido a sua vocação religiosa. Quando recuperamos essas inesquecíveis ações, não podemos deixar de citar, também, a conduta dos bispos de Cajazeiras, D. Marcelo Carvalheira, de Guarabira, e de D. José Maria Pires, de J. Pessoa, num quadro de intensa repressão ditatorial, e, mais recentemente, D Luiz Fernandes, em Campina Grande, numa outra conjuntura mais permeável a essas iniciativas.

 

Uma tônica dessas ações foi a defesa incondicional dos direitos humanos.

 

Na Paraíba mortes e violações ocorriam a céu aberto. Intimidavam personalidades e entidades da sociedade civil responsáveis por coibir tais crimes. Poucos profissionais liberais, advogados, jornalistas, professores, entre outros, intercederam em defesa  de segmentos e populares sob constante ameaça.  Setores da Igreja Católica não se deixaram intimidar.

 

Convém rememorar que foi graças à pregação em púlpito, feita por diversos párocos, que a população campinense reverteu o inicial sentimento de simpatia pelos horrendos crimes do grupo Mão Branca, no início dos anos 80.

 

Essas ameaças à cidadania não cessaram.  Continuam a existir frente à vertiginosa expansão do narcotráfico e à proliferação de esquadrões da morte, travestidos sob diversos matizes. Infelizmente reduzem-se as vozes que investem contra essas práticas criminosas.

 

É nesse cenário que avulta o extraordinário desempenho de um homem. De forma corajosa vem investigando e denunciando ações dessa natureza em vários fóruns. Recorrendo a mídia ou de corpo presente não arrefeceu na sua luta em defesa da população oprimida e de minorias com pouco ou nenhum espaço nos meios de comunicação. Sua peregrinação não cessa. Na Paraíba, em bairros e comunidades de periferia, em municípios e logradouros do litoral ao sertão, bem como em vários quadrantes do Brasil. Incansável em defesa dos direitos humanos.

 

As últimas vezes que o vi, fazia-se acompanhar de uma escolta da Polícia Federal por conta das ameaças e riscos a sua integridade física.

 

Contudo, sua performance não se limita a essa esfera de atuação. Profundamente vinculado aos movimentos populares tem se colocado a frente de suas causas em condições as mais adversas. Esse reconhecimento é indispensável, uma vez que podemos ter inclinações e posturas divergentes, porém não podemos deixar de externar publicamente o inequívoco compromisso de Luiz Couto com a defesa intransigente dos direitos humanos, dos oprimidos e, porque não dizer, dos valores da cristandade.

 

Diante do exposto, dois fatos causaram-nos profunda estranheza.

 

O primeiro,  a conduta do Arcebispo de João Pessoa . dom Aldo Pagotto, suspendendo  o padre Luiz Couto de suas funções sacerdotais. O motivo alegado foi a defesa do uso de preservativos, de homossexuais e do fim da obrigatoriedade do celibato. Ouso presumir que foram outras as motivações. Acompanhando orientações conservadoras assumidas com a ascensão do cardeal  Ratzinger, D Aldo também abraça a perspectiva de debelar os setores da igreja mais identificados com os setores oprimidos da população. Como consequência perpetra o estigma lançado aos homossexuais e o obscurantismo frente à condição de milhões de seres humanos. Homens e mulheres que não podem exercer sua sexualidade com plenitude, seja por doenças transmissíveis, seja pelo maior obstáculo, a pobreza. A falta de condições materiais mínimas que impõe intransponíveis barreiras para que os pobres possam gestar e criar seus filhos com dignidade.

 

Causa espécie Sua Eminência criticar a instrumentalização de instituições, pois ao mesmo tempo em que pune o sacerdote, sacramenta a utilização indevida do poder público, ao emitir opiniões, deveras questionáveis, sobre a conduta do ex-Governador Cassio Cunha Lima.

 

O segundo fato é o inexplicável silencio e a omissão das universidades paraibanas.

 

Inicialmente, porque Luiz Couto é professor licenciado da UFPB. Foi Diretor do centro de Educação, membro do Conselho Universitário e participe do Reitorado do Professor Neroaldo Pontes. No tocante à UFCG foi um dos parlamentares que mais contribuiu com emendas parlamentares para seu reconhecimento e sua edificação.

 

A sociedade civil paraibana e as suas universidades estão em débito de solidariedade com Luiz Couto.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG.


Data: 04/03/2009