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Cresce empreendedorismo por oportunidade

Para especialistas, motivação para o setor indica qualificação

 

Empreendimentos brasileiros motivados por oportunidades, pela primeira vez, superaram a criação de novos negócios por necessidade. A mudança da motivação ao empreendedorismo no Brasil ficou comprovada na nona edição do GEM (Global Entrepreneurship Monitor) desenvolvida pelo IBPQ (Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade) em parceria com o SEBRAE (Serviço de Apoio às Pequenas e Médias Empresas). O estudo mostrou que, em 2008, de cada brasileiro que abriu sua empresa por necessidade, dois fizeram por oportunidade.

 

Com cerca de 9,78 milhões de pessoas apostando no setor por vislumbrar uma brecha no mercado, a taxa de empreendimentos por oportunidade alcançou 8,03%. Já o índice das pessoas que empreendem para sobreviver, que mobiliza no País 4,81 milhões de brasileiros, atingiu 3,95%. Os dados rompem com a tradição que já perdurava mais de oito anos. "Em 2001, a proporção era de 8,5 empreendimentos por necessidade, contra 5,7 negócios por oportunidades", compara o gerente do SEBRAE, Enio Pinto.

 

Apesar de o índice ainda estar muito aquém do registrado em países desenvolvidos, Pinto assegura um avanço significativo no desenvolvimento do empreendedorismo brasileiro. "Nos Estados Unidos, há 6,86 empreendedores por oportunidade para cada um por necessidade", cita ele. Na França, a proporção é ainda maior: há 8,35 franceses que abrem um negócio pela oportunidade para um que o faz por necessidade.

 

Na opinião do gerente do SEBRAE, essa mudança demonstra um amadurecimento dos empreendedores brasileiros. "Há também um reconhecimento do setor, como uma alternativa produtiva e rentável ao tradicional emprego de carteira assinada", acredita. Para Pinto, esse prestígio também está sendo incorporado nas teorias econômicas. "Muitos especialistas, inclusive, já apontam o empreendedor como força motora da propriedade econômica", completa.

 

O aumento da abertura de negócios por oportunidade, segundo o economista da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Marcelo Néri, é reflexo de uma possível melhora na qualidade do empreendedorismo no Brasil. "Essa motivação favorece a prática de empreendimentos mais planejados e consistentes", enfatiza.

Assim como Neri, o diretor técnico do SEBRAE, Luiz Carlos Barboza, também aposta na melhora do setor e relaciona essa tendência à situação favorável da macroeconomia e, ainda, ao aumento de políticas públicas e privadas voltadas à capacitação dos futuros empreendedores brasileiros. "Mas há ainda muito que se fazer para que alcancemos os índices internacionais", acredita.

 

Ranking mundial

 

Apesar dos resultados positivos do setor, a abertura de novos negócios no Brasil sofreu leve queda em 2008. A taxa de empresas iniciais no País, segundo GEM 2008, caiu de 12,72%, em 2007, para 12,02%, em 2008. O panorama brasileiro rendeu ainda a queda de quatro posições no ranking mundial de empreendedorismo. Saltou da nona para a 13ª colocação.

 

Pela primeira vez desde que a pesquisa foi iniciada no Brasil, em 2001, o País ficou fora do grupo das nações com maiores taxas de empreendedores. "O fato não está necessariamente relacionado à piora do desenvolvimento do setor brasileiro", enfatiza o analista GEM/IBQP, Paulo Bastos Jr.. De acordo com ele, a mudança se deve principalmente à inclusão de sete países no conjunto de participantes da pesquisa GEM 2008. "Entre os novos pesquisados estão Angola, Macedônia e Egito, que estão entre os dez primeiros lugares da lista", completa.

 

Países

TEA 2008
(%)

Posição
(43 países)

Estimativa de
Empreendedores

Maiores Taxas

Bolívia

29,82

1

1.192.000

Peru

25,57

2

4.358.000

Colômbia

24,52

3

6.571.000

Angola

22,71

4

1.342.000

República Dominicana

20,35

5

1.012.000

Média dos 5 primeiros países

24,59

 

2.895.000

Brasil

12,02  

13 

14.644.000

Menores Taxas

Dinamarca

4,04

39

138.000

Romênia

3,98

40

583.000

Alemanha

3,77

41

1.950.000

Rússia

3,49

42

3.298.000

Bélgica

2,85

43

167.000

Média dos 5 últimos países

3,63

 

1.227.200

FONTE: Pesquisa GEM 2008.

 

Mas, a posição da atividade empreendedora brasileira se analisada sob a ótica dos países que integram o G-20 - grupo das 20 maiores economias do mundo - é mais significativa. Com o recorte comparativo, o Brasil fica na terceira colocação, perdendo apenas da Argentina e do México. Entre os argentinos a taxa de empresas iniciais é de 16,5%, contra o índice de 13,1% conquistado pelos mexicanos. A Rússia registrou o menor rendimento, com 3,49% da população realizando alguma atividade empreendedora.

 

Países

TEA 2008
(%)

Posição
(43 países)

Estimativa de
Empreendedores

Argentina

25,57

7

4.006.000

México

29,82

11

8.412.000

Brasil

12,02  

13 

14.644.000

Índia

25,57

15

76.045.000

Estados Unidos

24,52

16

20.546.000

Coréia

22,71

19

3.286.000

Grécia

20,35

23

673.000

África do sul

4,04

33

2.006.000

Turquia

3,98

34

2.705.000

Reino Unido

3,77

35

2.274.000

França

3,49

36

2.221.000

Japão

2,85

38

4.267.000

Itália

3,49

41

1.703.000

Alemanha

2,85

43

1.950.000

Rússia

2,85

43

3.298.000

Países G-20
Países GEM

8,42
10,48

42

148.036.000
186.202.000

FONTE: Pesquisa GEM 2008.

 

De cada 100 brasileiros em idade adulta, 12 realizam alguma atividade empreendedora. Essa proporção, segundo Pinto, é próxima à média histórica que o Brasil alcançou nos últimos oito anos. De 2001 a 2008, a taxa de empreendedores em estágio inicial média brasileira foi de 12,72%, que de acordo com a pesquisa foi 75% mais alta do que a média de todos os outros países participantes do estudo. "Isso demonstra a estabilidade que o setor vem conquistando. Além do mais, comprova que o empreendedorismo já faz parte do perfil do país", diz o gerente do SEBRAE.

 

Qualidade x quantidade

 

A relação quantitativa, no entanto, ainda gera muitas polêmicas em relação a sua verdadeira contribuição. "Nem sempre, os índices de crescimento quantitativo do setor se refere a uma qualidade", alerta Néri. Segundo ele, a grande maioria dos países que possuem grandes índices de pobreza chefia os rankings de empreendedorismo. "A Bolívia, por exemplo, além da liderança na pesquisa, assume a mesma posição nos estudos sobre informalidade", cita.

 

Na opinião do economista, na maioria das vezes, o empreendedorismo é uma alternativa à pobreza. "Quando há a opção, os brasileiros ainda escolhem o caminho da carteira assinada", acredita. Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil está na 52ª colocação entre os países que possuem o maior número de pessoas que pretendem abrir um negócio nos próximos 12 meses. "Nessa pesquisa foram consideradas 100 nações", alerta Néri.

 

A relação da pobreza com o empreendedorismo também pode ser vista no cenário nacional. "O estado que mais empreende é o Piauí. São Paulo e o Distrito Federal - mais desenvolvidos - aparecem no fim lista", aponta Néri. "O empreendedorismo é um bom recurso para o combate da pobreza de um país", acrescenta.

 

A proporção de novos negócios no país, segundo ele, deve ser ainda maior com a crise. "Com o aumento do desemprego, muitas pessoas vão acabar demandando nessa direção", acredita Néri, que afirma não ser uma solução boa para o setor. "Não que o vínculo do empreendedorismo com a pobreza seja ruim. Isso porque o crescimento quantitativo por si só não é bom, ele precisa estar acompanhado do desenvolvimento qualitativo."

 

Para que haja a combinação entre qualitativo e quantitativo, o economista recomenda três estratégias: "Não é preciso proteger o pobre do mercado, mas dar acesso a eles aos mercados. É preciso ainda ter boas condições de financiamento para microempreendimentos e, por fim, investir na educação dos futuros empreendedores brasileiros", pontua Néri. "Esse é o passaporte para a entrada no mercado", completa.

 

Dados preocupantes

 

O empreendedorismo, que está em fase de desenvolvimento no país, ainda precisa enfrentar alguns desafios para conseguir crescer mais e conquistar os patamares esperados. Dentre esses desafios, o GEM 2008 aponta a inovação, que parece estar longe de se tornar uma realidade nas empresas brasileiras.

 

Apesar de 68% dos empreendedores acreditarem na importância de lançamentos inovadores, apenas 3,3% dos entrevistados dizem que seus produtos trazem alguma novidade para seus potenciais consumidores. "O que comprova que os brasileiros querem inovação, mas que as empresas não conseguem atendê-lo", diz Pinto.

 

Entre os países que participaram da pesquisa em 2008, o Brasil possui uma das mais baixas taxas de lançamentos novos e de uso de tecnologias disponíveis há menos de um ano no mercado. Considerando os empreendimentos iniciais, o Brasil ocupa o 42º lugar, ou seja, a penúltima colocação no ranking. Quando avaliados os negócios estabelecidos, o Brasil pula para a 38ª colocação.

 

A situação brasileira é bastante precária, inclusive se comprada à dos países vizinhos. No Chile, 36,4% dos empreendimentos iniciais lançam produtos. A Argentina e o Uruguai mantêm o índice de 30%, enquanto o Peru atinge 29%. Para os empreendimentos já estabelecidos, as posições se alteram, mas todas essas nações permanecem à frente do Brasil. O Chile ocupa a primeira posição da pesquisa, com 37% de empreendedores lançando produtos novos. A Argentina tem 28% e o Peru, 21%.

 

O intra-empreendedorismo - conceito relacionado aos funcionários que adotam atitudes empreendedoras na empresa em que atuam - também é outro fator preocupante. A característica, já valorizada pelo mercado de trabalho, ainda é muito incipiente no Brasil. Segundo a pesquisa, apenas 0,6% dos brasileiros afirmam ter uma atitude intra-empreendedora.

 

De acordo com o presidente do SEBRAE, Paulo Okamotto, esse é um dos principais objetivos da pesquisa. "Precisamos, sim, traçar um Raio-X do empreendedorismo no Brasil. Só assim será possível traçar políticas públicas que favoreçam o real desenvolvimento do setor", afirma. O próximo passo, segundo ele, é que os diversos agentes do universo empreendedor se unam para atacar todas as deficiências constatadas. "Tanto o SEBRAE, como o governo e as instituições que atuam com micro e pequenas empresas precisam trabalhar para disseminar a cultura da inovação para os empreendedores e empregados", orienta.

 

Conheça na íntegra o GEM 2008 e faça um comparativo ao resultado dos anos anteriores:


- GEM 2008
- GEM 2007
- GEM 2006

 

(Portal Universia)


Data: 18/03/2009