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Unificação de vestibulares das federais divide reitores

Proposta partiu do ministro da Educação em reunião na Andifes

 

A idéia de unificar os vestibulares das universidades federais não encontrou consenso entre reitores dessas instituições. A proposta veio do ministro da educação, Fernando Haddad, durante reunião na Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) no último dia 11 de março. De acordo com Haddad, os vestibulares, como organizados hoje, forçam o Ensino Médio a privilegiar a memorização do conteúdo sem promover o aprendizado necessário para a formação e desenvolvimento do raciocínio. A proposta do ministro é criar, a partir de acordo com os reitores das universidades, um processo de seleção unificado para todo o País a ser testado nos vestibulares para o ano letivo de 2010, que serão aplicados este ano.

 

O reitor da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Naomar Monteiro de Almeida Filho, aprova a proposta do ministro. "É um avanço na forma de selecionar estudantes. Vamos incorporar um processo bem sucedido em outros países. O Brasil já estava atrasado nesse ponto", acredita ele. Também favorável ao projeto, o reitor da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), Valmar Corrêa de Andrade, diz que o principal benefício da proposta seria o fato do candidato não segurar vagas de outros alunos. "Hoje, o estudante pode prestar vários vestibulares. Se aprovado em mais de um, tem de optar por uma instituição, mas segura a vaga na universidade preterida", afirma.

 

Apesar de alguns concordarem com a mudança no processo de seleção, o reitor da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Zaki Akel Sobrinho, não acredita que o projeto possa ser adotado tão cedo e defende mais esclarecimentos. Para ele, o tema ainda está em fase preliminar. "Haddad fez essa provocação aos reitores com a finalidade de que todos pensassem em maneiras de mudar o processo de seleção. A UFPR já passou por mudanças para melhorar o vestibular com a finalidade de escolher alunos mais bem preparados", declara ele.

 

Akel Sobrinho acredita, ainda, que o novo processo pode interferir na autonomia das universidades. "Não cabe ao MEC (Ministério da Educação) impor tais regras, cada universidade avalia a melhor maneira de escolher seus estudantes. As mudanças propostas só poderão ser implantadas após conversas que detalhariam o processo; ainda há muito para discutir sobre o tema", defende Akel Sobrinho.

 

Almeida Filho concorda que a medida pode mexer na autonomia das universidades. Entretanto, o reitor da instituição baiana acredita ser uma mudança necessária. "Esse novo processo pode interferir na autonomia de cada instituição, mas se a proposta é um avanço comparado aos vestibulares brasileiros, então seria interessante que todas as universidades se integrassem", opina ele. Para Almeida Filho, esta seria uma situação parecida com a do Reuni (Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais). "O programa de expansão não foi imposto. Os reitores se reuniram e discutiram a viabilidade da adoção", diz ele.

 

Andrade ressalta que, no caso da UFRPE, foi decidido que os vestibulares seriam diferentes. "O processo seletivo da sede da instituição, em Recife, é diferente da prova que os candidatos do interior do estado prestam. Com isso, a prova se adapta à realidade de cada um dos candidatos", analisa ele.

 

Mesmo sem apoiar as mudanças, o reitor da UFPR afirma que não haveria dificuldades em adotá-las desde que fossem esclarecidos todos os pontos. "É necessário conversar com o MEC e com a comunidade para ouvirmos as opiniões do que seria melhor para a instituição", explica Akel Sobrinho. O reitor garante ainda que não haverá nenhuma alteração no vestibular deste ano da UFPR.

 

Proposta de unificação

 

A proposta ventilada pelo ministro da Educação define que a prova unificada teria o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) como a primeira fase, com a segunda a ser elaborada com ajuda do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). "A seleção realizada de forma unificada tende a deixar o processo mais rígido e a selecionar estudantes mais preparados", aponta o presidente da Andifes, Amaro Lins.

 

Com o modelo unificado, segundo Haddad, o estudante poderá se beneficiar mais da expansão das federais. Como o processo seletivo seria o mesmo para ingresso em qualquer uma das instituições, um aluno do Nordeste, por exemplo, poderia estudar numa instituição no Sul do País. No total, são oferecidas 227 mil vagas para ingressantes em todo o Brasil nas federais.

 

"O viável para o processo de seleção de 2010 é que esse tipo de avaliação seja usado apenas para alguns cursos, a fim de testar se funcionaria melhor comparado ao vestibular comum", aponta Andrade. A proposta de Haddad é que os primeiros cursos a usar o novo tipo de vestibular fossem os de licenciaturas, que geralmente têm menos concorrentes.

 

O reitor da UFRPE partilha da idéia do ministro da educação em fazer o novo processo com cursos pouco procurados. "Há cursos de áreas como Física, que tem poucos inscritos. O vestibular distribuído dessa maneira poderia estimular o interesse dos candidatos", defende Andrade.

 

(Portal Universia)


Data: 24/03/2009