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Universidades não se importam com o mercado, diz reitor

Postura sofre críticas durante lançamento do portal Innoversia

 

O padre Jesus Hortal, reitor da PUC-Rio, afirmou nesta sexta-feira, 3 de abril, que as universidades brasileiras não se preocupam em transformar suas pesquisas em produtos e patentes. O acadêmico fez o alerta durante o lançamento do Innoversia, o portal de inovação do Universia. Essa postura das universidades foi o assunto central do painel "Inovação: como fomentar a relação universidade-empresa". "As universidades sempre produziram pesquisa, mas sem se preocupar com produto ou patente", resumiu Hortal.

 

José Alberto Aranha, diretor do instituto Genesis e coordenador do programa de empresa júnior da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), ilustrou o problema com dados. Segundo ele, desde 2007, o Brasil ocupa a 15° posição mundial de indexação de artigos em publicações acadêmicas. No entanto, isso não se reflete em inovação tecnológica efetiva. Ou seja, o País não consegue transformar o conhecimento produzido em produtos e serviços disponíveis no mercado. Nas palavras de Aranha, o grande desafio da inovação é o trabalho em sintonia entre todos os atores envolvidos nesse processo, como empresas, laboratórios e consumidores.

 

A especialista em recursos humanos da Vale, Dayse Gomes, criticou a falta de alinhamento entre o que é oferecido pelas IES (Instituições de Ensino Superior) e as demandas de mercado. "Se a articulação entre empresas e universidades não existir, vamos continuar a formar profissionais para mercados que não existem", criticou ela. Dayse citou a falta de cursos de engenharia ferroviária, especialidade demandada pela Vale, para exemplificar o problema.

 

A maneira como os currículos de graduação são elaborados foi alvo do moderador do painel, professor doutor Jorge Audy, pró-reitor de pesquisa e graduação da PUC-RS, para destacar mais um aspecto do problema. Segundo ele, nem sempre, ao olhar para o passado é possível prever as demandas do mercado sem a ajuda das empresas. "Quando conseguirmos ter a sensibilidade do mercado dentro dos laboratórios, as distâncias entre a pesquisa e a inovação serão reduzidas", aposta Aranha.

 

E a necessidade por inovação já atinge diversos aspectos organizacionais. O aviso foi dado por Dayse. "Falando não apenas de inovação tecnológica, mas nas relações também. É o momento de pensar em novas soluções, pois são os indivíduos - e não as empresas - que fazem a inovação", afirmou ela. Dayse cita o exemplo da Vale em Moçambique, onde, para dar andamento aos projetos, foi necessário intenso trabalho de qualificação das pessoas da região. Assim, em parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), o processo começou em 2008, mas a exploração dos minérios só será feita em 2010. "Por mais saúde financeira que uma empresa tem, é inviável arcar com toda a estrutura de laboratórios de pesquisa. Por isso, os convênios são fundamentais", declarou ela.

 

Papel do governo

 

Quem chamou a atenção para a atuação do governo nesse cenário foi o chefe do departamento de novos negócios da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), Renato Marques. "O governo tem de tomar parte do risco e do custo das inovações. E é aí que entra a Finep", disse ele. E a ajuda, para Marques, não pode ser apenas financeira. "Por isso, trabalhamos com o conceito de capital inteligente", explicou ele ao citar como formas de apoio o oferecimento de uma rede de contatos, ferramentas para análise de riscos ou para estabelecimento de governança corporativa.

 

Junto com Marques no segundo painel do dia - "Modelos de incentivo à inovação" - estava Pedro Paulo Longuini, integrante do comitê executivo do Santander, que abordou a questão da organização empresarial para o processo de inovação. Ele afirma que há a necessidade de criação de uma área de inovação nas empresas para que o processo seja centralizado. Ao citar o exemplo do banco, ele conta que foi criado um modelo que não depende de "gênios", mas que conta com um time para a criação de novos produtos e serviços.

 

Para exemplificar a importância das equipes no processo de inovação, Longuini citou o caso do "Papa-pilha", instalado nas agências do Banco Real. Segundo ele, o sucesso do produto esbarrou no limite da capacidade de reciclagem da fábrica que é parceira no projeto e nos altos custos de logística. Por isso, a proposta voltou para a área de inovação para ser reelaborada com base nos novos dados do mercado.

 

Innoversia

 

O objetivo do novo portal é reunir as 1.100 universidades ibero-americanas que fazem parte da rede Universia para incentivar a inovação tecnológica a partir da interação entre empresas e universidades. "O Innoversia é o meio digital para atender as demandas de empresas por inovação. Na outra ponta, teremos as universidades para produzir essa inovação", explicou a diretora de relacionamento e conteúdo do Universia Brasil, Monica Miglio, durante a apresentação do seminário de lançamento do portal. O reitor da PUC-Rio, padre Jesus Hortal, comemorou a iniciativa. "A indústria tem necessidade de inovação e a universidade tem capacidade de produzir inovação. Por isso, essa parceria é muito bem vinda", saudou o reitor.

 

(Portal Universia)


Data: 03/04/2009