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Artigo - Lula “chique” e Obama “baiano”

Amauri Fragoso de Medeiros

 

Atualmente, estamos assistindo o colapso financeiro dos EUA e do sistema financeiro mundial. O maior declínio do comércio na recente história mundial ocorre enquanto se observa que todos os pressupostos de auto-regulação e estabilização dos mercados são comprovadamente falsos e ultrapassados.

 

No entanto, o nosso deslumbrado presidente afirmou no ano passado: "Lá, a crise é uma tsunami". "Aqui, se ela chegar, vai chegar uma marolinha que não dá nem para esquiar".

 

Os empregadores dos Estados Unidos cortaram 663 mil empregos em março, levando a taxa de desemprego para 8,5%, maior desde 1983. Desde o início da recessão em dezembro de 2007, a economia já perdeu 5,1 milhões de empregos, sendo cerca de dois terços nos últimos cinco meses. O Rio de Janeiro já apresenta índices de 19% de desemprego, a Embraer luta na justiça para manter a demissão massiva de seus funcionários o BNDES é acionado para socorro, cortes de verbas no orçamento de 2009, e a classe trabalhadora é “aconselhada” pelo presidente ex-sindicalista a não exigir aumento de salários! A economia do Brasil está sofrendo. Seu produto interno bruto caiu em 3,6% no último trimestre, a pior queda entre os países latino-americanos. O país perdeu 654.946 empregos em dezembro de 2008 e mais 101.748 empregos em janeiro, segundo o Ministério do Trabalho. Além disso, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirma que aproximadamente 51 milhões de empregos podem desaparecer, significando que 230 milhões de pessoas em todo o planeta podem ficar desempregadas.

 

Enquanto isto, Lula, que já foi chamado de presidente "Teflon" pelo New York Times, o presidente mais popular do mundo, um líder que sobreviveu a escândalo atrás de escândalo apenas para ver seu índice de aprovação subir a novas alturas, atualmente em queda. Não pára de emitir suas opiniões: A crise econômica foi causada "por comportamentos irracionais de gente branca com olhos azuis, que antes pareciam saber de tudo, e, agora, demonstram não saber de nada".

 

A crise não é uma marolinha, a crise não tem olhos azuis e cor branca e não depende do bom ou do mal governante. A análise de economia tomando com referência a cor da cútis e dos olhos é no mínimo uma declaração racista. Aliás, quem não lembra da campanha presidencial em 1989 quando Mirian, mãe da filha de Lula, usada por Fernando Collor, afirmou que Lula tinha trocado ela por Dona Mariza devido aos olhos azuis. O leão come carne porque é carnívoro, já nos ensinava Marx e o capitalismo não é  invenção das mentes malvadas de homens brancos de olhos azuis, como quer fazer parecer nosso astuto e performático presidente para tentar defender o indefensável. O capitalismo é sim um modo de produção que tem leis de funcionamento próprias, que independem da etnia e da bondade de cada governante.

 

A crise econômica é reconhecida nos círculos oficiais, mesmo nos mais conservadores e são recomendadas soluções que desmentem o mito neoliberal da auto-regulação pela “mão invisível” do mercado. A intervenção estatal torna-se mais clara, evidenciando sua função de gestor dos negócios da burguesia através da utilização massiva dos recursos públicos para socorrer o grande capital.

 

Não sou economista, porém, acho que devemos trabalhar sempre com o pressuposto e também nunca esquecemos que a economia não é independente da política. E assim, a política econômica adotada pelo Estado carrega sempre uma opção de classe (política e ideológica) e que dentro do sistema capitalista, esta opção não é pela classe trabalhadora.

 

Segundo Dércio Garcia Munhoz, Economista, Professor Titular do Departamento de Economia da UNB até 1996, a crise  não surgiu de forma repentina. Quando desde o início do milênio multiplicavam-se nos Estados Unidos os financiamentos hipotecários a famílias de duvidosa capacidade de pagamento, sem necessidade de comprovação de renda e ainda com cláusula matreira de juros mais baixos nos primeiros anos de contrato. Afinal, os empréstimos dos bancos americanos, que em meados dos anos 1990 alcançavam em torno de US$ 40 bilhões anuais, no início do novo século já chegavam a US$ 180 bilhões anuais, saltando rapidamente para US$ 550 bilhões em 2004 e US$ 700 bilhões estimados em 2006. Multiplicados por vinte em apenas dez anos, os novos empréstimos de retorno incerto, que na metade dos anos 1990 representavam aproximadamente 3% do total de financiamentos hipotecários nos Estados Unidos, em 2006, vésperas da recente arrancada, superavam 25% dos novos contratos. Mais uma vez, recorro ao velho Marx, o crédito é um meio que o capital dispõe para alargar o mercado além dos seus limites.

 

Um milhão de residências foram retomadas em 2008 e custaram ao Tesouro americano em torno de US$ 250 bilhões apenas para socorrer os bancos de primeira linha (os que financiam as hipotecas), descontadas as perdas das demais instituições afetadas, e inclusive seguradoras, que o governo vem socorrendo numa autêntica operação tapa buracos.Todavia, uma alternativa, segundo o professor Décio seria  subsidiar as famílias financeiramente incapazes, e com um programa de reocupação das casas abandonadas. O que inclusive é mais racional. Custa muito menos doar mil ou mil e quinhentos dólares por mês a um devedor, durante duzentos e cinqüenta meses futuros, que a alternativa de entregar ao banco de imediato algo como US$ 250 mil por financiamento “apodrecido”. Enquanto a alternativa do subsídio às prestações mensais de um milhão de famílias teria um custo anual inferior a US$ 20 bilhões anuais.

 

Ao final da reunião do G20  essa semana, novamente, presidente volta a opinar sobre a crise. Lula disse em entrevista que ninguém deve ter medo de "cara feia". "Se o Cassius Clay (boxeador) tivesse medo de cara feia, tinha perdido para o Foreman naquela luta no Zaire (em 1974). Eu me considero o Cassius Clay dessa crise, quero dar uma muqueta nessa crise". Isto me faz lembrar alguém que disse que ia dar um tiro na inflação.

 

Depois de tudo, em parceria com a grande mídia, tenta fazer com a população brasileira acredite num vídeo do Obama apertando a mão dele e dizendo: "Esse é o cara". "Eu amo esse cara. Ele é o político mais popular da Terra." E Obama conclui: "É porque ele é boa-pinta", disse o americano, como se fosse um amigo dos velhos e bons tempos das fábricas em São Bernardo. E o deslumbrado ainda comenta para mídia brasileira: "se você o encontra na Bahia, acha que é baiano": "O Obama tem a cara da gente". E foi mais longe: quase disse que era torcedor de Obama desde criancinha: "Torço para ele desde quando ele era pré-candidato”.E parar finalizar afirmou: “Você não acha chique o Brasil emprestar dinheiro para o FMI? Não é uma coisa soberana?". Que pérola! Não tenho dúvidas que ele não saiba o que é ser soberano.

 

Triste fim do Governo Lula, para o PT e seus eixos de sustentação. Sugiro uma próxima equipe econômica formada por  Chiquinho Scarpa, Bruno Chateaubriand, Vera Loyala, Narcisa Tamborindeguy, Ricardo Mansur Filho entre outros famosos “chiques” do Brasil.

 

 

Amauri Fragoso de Medeiros é professor da Unidade Acadêmica de Física da UFCG


Data: 03/04/2009