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Federais já adotam diferentes critérios de seleção

Antes de discutir substituição do vestibular pelo Enem, parte das instituições criou programas de avaliação seriada

Em meio ao alvoroço provocado pela proposta do Ministério da Educação de substituir o vestibular tradicional por um novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ganham evidência as universidades federais que já adotam diferentes formas de seleção.

Pelo menos 13 delas utilizam o atual Enem como um dos critérios de ingresso, indica balanço preliminar da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

Os chamados programas de avaliação seriada, em que os alunos do ensino médio fazem três testes, um ao final de cada ano do ensino médio, também já são realidade para milhares de estudantes.

Na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), 100% das vagas são destinadas ao sistema seriado. Na Universidade de Brasília (UnB), 25%; e na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, 20%.

O próprio vestibular também vem ganhando novas feições. É o caso da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde as questões são todas discursivas, isto é, não há provas de múltipla escolha.

O levantamento da Andifes deverá ser concluído amanhã. À tarde, a entidade promove reunião entre o ministro da Educação, Fernando Haddad, e seus 59 reitores.

O encontro marcará o início da negociação em que o MEC tentará convencer as instituições a aderir ao novo Enem já neste ano, com a aplicação do teste em outubro.

Ciente de que o leque de processos alternativos é variado e podem alimentar resistências ao exame nacional, Haddad garante que a adesão não significará o fim dos demais sistemas.

- Este exame nacional não inibe outras iniciativas que as universidades queiram oferecer. Elas podem combinar o Enem com outras formas de ingresso - afirma o ministro.

Presidente da Andifes mantém tom cauteloso

Do lado dos reitores, há uma predisposição favorável à ideia. Mas, enquanto alguns já apoiam a iniciativa com entusiasmo, outros mantêm um pé atrás. O presidente da Andifes, Amaro Lins, dá o tom cauteloso:

- A grande virtude desta proposta é que ela é aberta.

Lins, que é reitor da Universidade Federal de Pernambuco, tem dúvidas quanto aos aspectos operacionais, como o processamento das inscrições em cada instituição. A proposta do MEC é que candidatos de todo o país façam o novo Enem na mesma data. Quem tirar as notas mais altas poderia ingressar em qualquer instituição federal.

Para Haddad, a possibilidade dará maior mobilidade aos estudantes. Alunos que fizerem a prova em Manaus, por exemplo, poderão matricular-se na UnB, na UFRJ ou nas federais de qualquer estado, desde que tenham nota para isso.

O presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Ismael Cardoso, elogia a proposta, mas defende maiores investimentos em assistência estudantil, no caso de o vestibulando optar pela mudança de cidade:

- Não adianta passar e não ter condições de viajar.

Independentemente do resultado do encontro de amanhã, a Andifes planeja fazer um seminário sobre o novo Enem nas próximas semanas. Antes disso, segundo Amaro Lins, será difícil dar uma resposta ao MEC.

UFRJ defende adoção do novo Enem já este ano

O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Aloisio Teixeira, quer que o novo Enem seja aplicado já neste ano para selecionar os calouros de 2010. Se depender dele, a UFRJ não hesitará em aderir à iniciativa:

- Sou mais do que a favor, abracei entusiasticamente a proposta.

Para Teixeira, a realização de um exame nacional em substituição aos vestibulares será o passo mais importante das últimas décadas na área da educação. O pulo do gato, raciocina ele, está na ligação direta entre os conteúdos cobrados para ingresso nas universidades e o que é ensinado nas escolas.

- Está se abrindo caminho para uma mudança radical, que golpeia a indústria do vestibular e permite um reforço constante da escola de nível médio - diz Teixeira.

A reitora da Unirio, Malvina Tania Tuttman, é outra entusiasta.

Ela lembra que a Unirio preenche 50% das vagas com base no atual Enem. Portanto, não haveria problema em ampliar o percentual para 100%:

- Temos que iniciar já e ir aprimorando.

Federal de Uberlândia acha precipitado mudar este ano

O reitor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Alfredo Júlio Fernandes Neto, é favorável à mudança, mas não de imediato. Ele defende uma transição de três anos:

- Acho muito precipitado fazer neste ano. Será um transtorno para as escolas, um desastre para os jovens. É como se mudássemos a regra de um esporte no meio do campeonato.

A Federal de Uberlândia preenche metade de suas vagas por meio de um programa de avaliação seriada, com testes ao final de cada ano letivo do ensino médio.

É o mesmo processo adotado desde 1995 na federal de Santa Maria (UFSM). O reitor da UFSM, Clóvis Silva Lima, conta que 923 escolas são cadastradas no Programa de Ingresso ao Ensino Superior.

Quando o teste detecta problemas de aprendizagem, docentes da universidade ministram oficinas e preparam material didático para o ensino médio. Mesmo que venha a aderir ao novo Enem, o reitor de Santa Maria não cogita abandonar a avaliação seriada:

- Eu gostaria de manter e ampliar o Peies.

Para o reitor da Universidade Federal do ABC, Adalberto Fazzio, o exame nacional proposto pelo MEC será um avanço, mas ainda distante do ideal. A melhor solução, segundo ele, seria aplicar um novo Enem seriado, a exemplo dos programas da UFSM, da UnB e da UFU, com uma prova ao final de cada série do ensino médio.

- Acabaria a história desses vestibulares malucos - diz Fazzio.

 

(O Globo, 5/4)


Data: 06/04/2009