topo_cabecalho
Cursinhos já se adaptam e trocam vestibular por Enem

Nova seleção também exigirá preparo, preveem especialistas

Saem os cursinhos pré-vestibular, entram os cursinhos pré-Enem. A mudança é a primeira consequência direta da proposta do Ministério da Educação (MEC) de substituir o vestibular pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Alguns cursinhos que preparam alunos para o vestibular tradicional já têm um "departamento" especializado em Enem, já que ir bem no Exame interessa a todos, independentemente das alterações sugeridas.

Para os estudantes, nota boa é passaporte para o Universidade para Todos, o ProUni, programa do governo que financia os estudos. E as escolas também têm interesse no bom desempenho dos alunos, principalmente os colégios privados, já que é por meio do Enem que o MEC faz o ranking das instituições de ensino.

- Muda o foco. Se o aluno era preparado para um tipo de prova, o vestibular, agora vai passar por um outro tipo de preparação - afirmou o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp), Benjamin Ribeiro da Silva.

Com 14 anos de experiência na Cooperativa do Saber, tradicional cursinho pré-vestibular de Campinas (SP), o coordenador pedagógico André Ricardo Bellinati diz que a mudança para o pré-Enem será natural, porque os alunos continuarão sendo selecionados: - A troca do vestibular pelo Enem vai fazer com que os cursinhos saiam em busca de alunos, porque vai continuar havendo a seleção.

Em Itapetininga, interior de São Paulo, a Itapecursos já dá cursinho pré-Enem. O curso de ensino à distância tem sete CDs com conteúdo pedagógico e custa R$ 39,90. Em um dos CDs há um link para o site da empresa, através do qual os alunos podem interagir com os professores.

Também há aulas presenciais em Itapetininga, a cerca de 170 quilômetros de São Paulo.

- O mercado está crescendo. Com o Enem, e depois o ProUni, tem muita vaga e tem muita gente conseguindo entrar na universidade. Agora, os cursinhos vão trocar de nome. Em vez de pré-vestibular vão se chamar pré-Enem, como a gente já faz - conta o vendedor Luciano Lima da Costa, da Itapecursos.

Conforme avaliação do professor Benjamin da Silva, os cursinhos já não são tão rentáveis quanto no passado. Além disso, observa, muitas escolas privadas já se adaptaram para que o aluno não precise fazer um cursinho pré-vestibular: - Praticamente toda escola tem seu terceirão, o terceiro ano do ensino médio em período integral, com o conteúdo regular e o conteúdo do vestibular.

Dados sobre cursinhos são escassos. A concorrência acirrada faz com que os empresários do setor não revelem números.

No Sieeesp estão filiados apenas 90 desses estabelecimentos.

- Ainda temos um problema sério, a falta de regulamentação. Um pré-vestibular não é uma escola de ensino fundamental nem de ensino médio, não tem padrão - reclama Bellinati.

As mudanças no ingresso na universidade são classificadas como "interessantes" pelo diretor de graduação do Ibmec São Paulo, Sérgio Lazzarini. Ele aponta algumas preocupações. Afirma que o novo Enem deve ser uma prova que separe os alunos com diferentes habilidades. E propõe que o resultado esteja disponível em tempo hábil para não atrapalhar o processo de seleção das universidades: - No Ibmec São Paulo o processo de seleção começa em novembro.

Nesse mês já teríamos de ter o resultado do Enem.

O professor Marcelo Macedo Corrêa e Castro, que integrou a comissão de avaliação de provas do vestibular da UFRJ, prevê mais problemas que avanços: - O Enem poderia ser um exame para também levantar questões e avaliar o ensino para fazer políticas públicas.

 

(O Globo, 12/4)


Data: 13/04/2009