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Artigo - Educação a distância: educação restritiva?

Wagner Braga Batista

 

O Jornal Nacional, da TV Globo, exibirá entre os dias 27 de abril e 1° de maio do corrente, uma série de reportagens alusivas à educação a distância no Brasil. Em que pese a abordagem simplificadora, típica do formato de jornalismo da emissora, não deixa de ser uma oportunidade para que pedagogos e leigos tenham contato com essa temática e reflitam sobre essa modalidade de educação.

 

Reflexões dessa natureza e proposições mais balizadas sobre a educação a distância na universidade pública são exigências do momento presente. Tratada com desdouro, a educação a distância transita entre hemisférios opostos, ora sendo depreciada como instrumento de privatização e degradação do ensino, ora valorizada como galinha dos avos de ouro de empresários que lucram com sua alta taxa de rentabilidade financeira. Arriscamo-nos a argumentar que essas imagens desqualificam a educação a distância e não fazem jus às suas virtualidades. Portanto, esses reducionismos não contribuem para que seja escrupulosamente examinada e utilizada na esfera pública.

 

A educação a distância tem sido sumariamente rejeitada por parte considerável de educadores. A nosso ver, por uma compreensão equivocada que mistura deformidades provocadas pela sua utilização restritiva com potencialidades dos métodos pedagógicos e recursos técnicos que a viabilizam. Essas duas dimensões devem ser examinadas separadamente como o joio e o trigo. De um lado, pode ser vista como uma modalidade educacional que  pode expandir e melhorar o ensino publico e gratuito porém está sujeita a apropriação restritiva, que privatiza, diferencia padrões de qualidade e constrange virtualidades da educação. Se examinada por esse prisma, podemos identificar excelentes cursos, como também a tendência ao barateamento e aligeiramento da educação, oferecida como ensino compensatório para amplos contingentes populacionais, privados desse direito no devido tempo. Por outro lado, subsiste a apologia das novas tecnologias da educação. Nesse discurso a pedagogia fica subordinada ao primado técnico. Estabelece-se uma disjunção entre dimensões inseparáveis do processo de ensino aprendizado, os recursos técnicos e o patrimônio pedagógico. Ou então, uma postura retrograda que refuta incondicionalmente as novas tecnologias da informação. A nosso ver, não resta dúvida de que a conjugação de novas metodologias pedagógicas com recursos técnicos mais avançados exponencializa a educação e favorece o trabalho pedagógico. Portanto, o objetivo dos que militam no campo da educação não é ampliar o fosso, mas buscar a adequada compatibilidade entre as possibilidades técnicas e os avanços pedagógicos.

 

Se compararmos as dificuldades de interação enfrentadas pelos agentes do ensino/ aprendizado, professores e alunos, há poucos anos atrás com as inúmeras possibilidades de acesso à comunicação direta e a fontes de pesquisa e de conhecimento na atualidade, torna-se difícil sustentar que as novas tecnologias da informação podem acarretar prejuízos à educação. Contudo, a educação não deve estar limitada apenas à incorporação e uso de novas tecnologias. Essa condição necessária, porém insuficiente, por si só não melhora a qualidade, nem democratiza o acesso à educação. Gera anomalias no âmbito da educação, permitindo que técnicos sem formação pedagógica administrem programas educativos. Além do mais alimenta a cristalização de barreiras socioeconômicas excludentes, em nome da utilização de novas tecnologias.

 

A analise das condições reais de ensino / aprendizado indica que o uso das novas tecnologias da informação é insuficiente para “democratizar a educação”. Políticas públicas que assegurem o acesso às novas tecnologias, franqueiem o conhecimento de suas inúmeras possibilidades e assegurem a continuidade da educação são indispensáveis.

 

Partimos do pressuposto de que o acesso à educação e aos meios que a propiciam não pode sofrer discriminações. Promovida como um direito social, a educação não estará sujeita a constrangimentos, permitindo que todos possam usufruir dos seus benefícios.

 

Advertimos para as implicações do pressuposto ingênuo de que choques tecnológicos modificam estruturas sociais seculares. As barreiras existentes no campo da educação são semelhantes aquelas observadas no domínio socioeconômico. No sistema social em que vivemos, o acesso e a utilização de bens materiais e culturais é sempre precedido por relações sociais restritivas e excludentes.

 

Portanto, devemos superar o ceticismo e examinar criticamente os meios que estão ao nosso alcance. Devemos lutar pela sua apropriação social. Demonstrar empenho no sentido de evitar que contingentes a margem de processos educacionais ou a mercê do ensino pago, tornem-se reféns de programas compensatórios. Ter em vista as novas tecnologias da informação e a sistemática capacitação pedagógica para que a universidade pública, recorrendo à educação a distância, possa cumulativamente melhorar e ampliar o ensino público, gratuito e de qualidade.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 27/04/2009