Artigo - Tributo ao professor Wagner Braga Batista
Maria das Graças de Lucena Barbosa
A propósito da homenagem feita pelo professor Bráulio Maia Junior, ao professor Wagner Braga Batista, em artigo (13-04-09) veiculado nesta página, quero dizer que, a considero justa, oportuna e merecida; Ainda que se trate, de uma expressão de amizade entre os dois professores; O que, aliás, louvo, admiro e aplaudo.
Esse meu posicionamento prende-se a duas argumentações básicas fundamentais.
A primeira, mais geral e abrangente, é a de que os testemunhos ali contidos são a meu ver, verdadeiros tesouros para a memória do movimento docente, que, aliás, atravessa uma aguda crise de desmantelamento, desesperança e desmotivação;Sendo assim, o fato de se invocar a memória de seus líderes (ainda mais em vida) de épocas gloriosas poderá fazer renascer de uma certa forma, a chama da esperança e trazer de volta um pouco da auto-estima os professores que vem sendo gradativamente solapada nesses últimos anos.
A segunda, de caráter mais específico e pessoal, refere-se ao meu desejo de me unir ao coro do professor Bráulio, e render um tributo ao glorioso líder dos tempos áureos do movimento sindical docente.
Não sou amiga, do grande líder, mas quero prestar-lhe minha homenagem como antiga sindicalizada, antiga conselheira (das diversas diretorias que o professor foi presidente), bem como representante do meu departamento nas diversas comissões e comandos de sucessivas greves em que esteve à frente do nosso sindicato.
O professor Wagner Braga Batista foi um líder lúcido, firme e forte. Imagem bem à altura dos tempos memoráveis do movimento sindical e de suas históricas e inesquecíveis greves (décadas de 80-90) que culminarem em conquistas inegáveis para toda categoria docente.
Eu diria que o professor foi um líder onipresente (ele estava em toda parte). Aliás, essa era uma de suas características mais marcantes, parecia incansável: estava nos corredores, nas escadas, nas cantinas, nas esquinas dos blocos do nosso campus, nas assembléias dos professores (departamentais), dos funcionários, dos estudantes, nas salas de aula, nos ambientes dos professores, nos movimentos sociais e na política da nossa cidade (petista dedicado foi um dos responsáveis pela implantação da sede do PT, na nossa cidade, bem como candidato a vereador por esse mesmo partido na década de 90). Empunhou todas as bandeiras do movimento sindical docente de maneira ardorosa e incansável sempre em sintonia com as bases, ano após ano a fio. Era sedento de informação: queria receber e queria repassar informações, e, por isso, era muito comum a sua presença nas assembléias departamentais, falando, conclamando, mobilizando todos os professores.
“Cobrava” muito do conselho de representantes das suas consecutivas diretorias (eu que o diga). Aliás, eu diria que nessa época os conselhos funcionavam realmente no sentido de se constituírem verdadeiros elos entre departamentos (bases) e o sindicato.
Quando havia greve, circulava com desenvoltura pelas diversas comissões (mobilização, finanças, exceção, imprensa...), e, se necessário, criticava, ”cobrava” esbraveja, “brigava”... sem meias palavras. Era realmente um líder de uma autenticidade invejável. O comportamento era o mesmo em eventos correlatos.
Nas assembléias docentes pedia a palavra incontáveis vezes, (até ser impedido). De verbo solto e inflamado arrancava invariáveis vezes, calorosos aplausos das assembléias lotadas de estudantes e professores.
Por esse comportamento inquieto e apaixonado o grande líder “arrebanhou” muitos seguidores, mas por outro lado, alimentou a “sanha” de muitos “inimigos”.
Comumente era “cunhado” de radical, autoritário e centralizador, o que rendeu discussões “homéricas” e infindáveis, com torcedores e adeptos de diversas facções e lados.
Possuía uma incrível inteligência interpessoal: gostava de estar em contacto com seus liderados, fazia sua liderança no “corpo a corpo”, “face to face”, sem meias palavras; Ele conhecia a todos ou a “quase” todos pelo nome (sabia de onde vinham e para onde iam).
Por mais de uma vez, por ocasião da copa do mundo, improvisou locais (não havia sede social na época) para os sindicalizados assistirem os jogos do Brasil, de forma conjunta. Nessas ocasiões “os papos” que rolavam eram sempre em torno dos rumos do nosso movimento, bem como da política sindical nacional.
Senti sua falta quando se ausentou na metade da década passada, para fazer o(s) seu(s) doutorado(s) no Rio de Janeiro. Aliás, acho que, até hoje ainda sinto saudades do seu discurso inflamado, ao me deparar com o cenário ”árido” das assembléias esvaziadas e sem quorum marcadas e remarcadas sucessivas e insistentes vezes.
De volta do doutorado, encontrei-o na porta da Caixa Econômica Federal, do nosso campus. Com o mesmo perfil de sempre, quis saber a minha opinião sobre o novo modelo de Universidade (tinha havido o desmembramento há pouco tempo da UFPB em UFCG) e ainda, as minhas impressões sobre os cursos noturnos, já que nada disso existia quando ele se ausentou. O final da conversa foi um desabafo sincero, sobre o esvaziamento da Universidade; Reproduzindo suas palavras: “não vejo mais ninguém, nessa Universidade, sumiu todo mundo”.—Esse mesmo desabafo, ele já havia feito pouco antes de sair para o doutorado, numa concorrida assembléia da minha Unidade Acadêmica o que rendeu calorosa discussão e ríspidas respostas de alguns presentes.
Algum tempo depois, voltei a encontrá-lo no aeroporto de Brasília (já de volta da SBPC, onde tinha apresentado trabalho assim como eu). Naquela ocasião, ele voltou a se queixar do esvaziamento da Universidade entre outras questões
. Ano passado encontrei-o na sede burocrática da ADUFCG, tinha ido “tomar emprestado” um DVD. Nessa ocasião deu-me conta de sua aposentadoria.Com aquela sinceridade que lhe é peculiar,fez o desabafo com mais o menos o mesmo teor que havia feito anos atrás:não via mais ninguém nessa Universidade, aí,me aposentei, estou em casa.”
Recebi a notícia perplexa.Como assim? Meu líder está aposentado? Tão simples assim?
Aquele dia para mim foi de reflexão... Pensei... pensei... e, conclui: é simples assim mesmo. Claro, cristalino como água. É; mais uma vez, o líder tinha razão. Realmente; De que vale o capitão sem a sua nau?De que vale o líder sem seus seguidores?
É professor Wagner, mas também não se faz história, nem se constrói memória, sem líderes nem heróis.
Você se afastou (aposentou-se), mas, continuará sempre presente no imaginário do movimento docente, como um verdadeiro “Monstro Sagrado” alimentando-o e fortalecendo-o com o brilhantismo do seu exemplo.
Por isso professor, eu lhe rendo esse tributo, e faço questão de lhe render essa homenagem (em vida), carinhosamente.
Maria das Graças de Lucena Barbosa, da Unidade Acadêmica de Administração e Contabilidade. Data: 08/05/2009
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