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Analfabetismo caiu de 33% para 10% no país

Brasil está perto da universalização do ensino básico, mas ainda tem 14 milhões que não sabem ler nem escrever

 

Apesar dos avanços, um em cada dez brasileiros com mais de 15 anos é analfabeto. É uma taxa de analfabetismo de 10%, que soma no país 14,1 milhões de jovens e adultos, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2007. Mas estes números já foram maiores.

 

Em 1970, 33,6% desta parcela da população não sabiam ler nem escrever.

 

Ao longo dos últimos 40 anos, o Brasil fez a transição de um regime militar para uma democracia. Em maior ou menor grau, os nove presidentes que passaram por Brasília enfrentaram o analfabetismo.

 

Mas nenhum deles conseguiu erradicá-lo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se comprometeu no primeiro mandato a acabar com o analfabetismo até 2006, também fracassou.

 

Hoje, essa mazela tem endereço e identidade conhecidos: 52% das pessoas vivem no Nordeste e 40,1% delas têm mais de 60 anos. Não bastasse ser uma herança maldita, o analfabetismo é um fenômeno que, em alguns casos, chega a atingir diferentes gerações de uma mesma família.

 

Qualidade do ensino é um dos maiores desafios É o caso dos Oliveira, no Ceará. Na família de Maria José, de 71 anos, dois filhos não assinam sequer o próprio nome e cinco deles só escrevem textos curtos. A exceção fica por conta de duas filhas, que concluíram o ensino médio. A sina da matriarca atingiu os netos Ana Cristina, 14 anos, Alex, 11 anos, e Aclécio, 10 anos. Eles até frequentam a escola, mas só assinam o próprio nome. São a cara do analfabetismo funcional.

 

O analfabetismo é apenas uma das facetas do problema da educação no país, já que o Brasil praticamente atingiu a universalização do ensino básico: 97,68% das crianças, de 7 a 14 anos, estão na escola. Nos anos 70, apenas 32,6% dos brasileiros nessa faixa etária frequentavam os bancos escolares.

 

Rompida essa barreira, resta agora enfrentar um dos maiores desafios: a qualidade do ensino.

 

É nas provas que o aluno brasileiro, ao ser confrontado com seus pares lá fora, deixa evidente o tamanho do problema.

 

O Brasil ficou em 54º lugar entre os 57 países que fizeram a prova de matemática do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, sigla em inglês). Nossos jovens ficaram à frente apenas dos da Tunísia, Catar e Quirguistão.

 

Em literatura, o país ficou na 49ª posição e em ciências, em 52ª lugar. A prova é uma iniciativa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

 

- Daqui a 20 anos, o ensino fundamental será irrelevante. É preciso levar a sério à corrida educacional. Já estamos atrasados em relação a outros países. No Brasil, só 10% dos trabalhadores, com menos de 45 anos, têm curso superior - analisa o ex-coordenador do Centro Internacional de Pobreza das Nações Unidas Marcelo Medeiros, do Ipea.

 

Brasil perde para Cuba e Argentina na universidade No Brasil, a taxa de escolarização bruta no ensino superior - ou seja a razão entre o número de matrículas e a população na faixa etária que deveria estar cursando este nível de ensino - é de 24%. Segundo o coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper (antigo Ibmec, de São Paulo), Naércio Castellar, na Coreia, a taxa é de 91%, em Cuba, de 88%, e na Argentina, de 65%.

 

Castellar está convencido que, se o investimento em educação continuar em torno de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), o Brasil vai perder competitividade lá fora.

 

Já o ex-ministro da Educação do governo Lula, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), prefere criticar a qualidade do gasto.

 

- A torneira que alimenta o analfabetismo continua aberta.

 

O presidente do IBGE, Eduardo Nunes, está convencido de que o país hoje tem mais educação formal do que no passado, só que o mercado de trabalho "não é mais tão absorvedor de mão-de-obra" como era na época do milagre.

 

(O Globo, 23/8)


Data: 24/08/2009