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Ensino superior: Nota máxima só para 1,3%

Exame do MEC reprova 36,4% das instituições que oferecem curso superior no Brasil

 

Nova avaliação do ensino superior do Ministério da Educação, divulgada ontem, reprovou 588 instituições, o equivalente a 36,4% do total. Apenas 1,3% dos 1.613 centros universitários, faculdades e universidades examinados obtiveram a nota máxima no Índice Geral de Cursos das Instituições (IGC), que vai de 1 a 5. O percentual de cursos com notas consideradas insuficientes é maior do que o registrado ano passado (31,3%), quando o índice foi divulgado pela primeira vez.

 

A universidade mais bem avaliada é a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que computou 439 pontos - numa escala de 0 a 500 - e obteve nota 5. Entre os centros universitários, o que teve a maior nota foi o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense, com 349 pontos e nota 4.

 

Já entre as faculdades, a campeã foi a Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, do Rio de Janeiro - ligada à Fundação Getulio Vargas -, com nota 5 e 469 pontos. O MEC divulgou notas separadas para universidades, centros e faculdades porque elas se enquadram em categorias diferentes.

 

O IGC tem como base dois exames, o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), focado no aluno, e o Conceito Preliminar de Curso (CPC), que avalia os cursos, sua infraestrutura e corpo docente. O IGC de 2007, divulgado ano passado, se refere às instituições que participaram do Enade no triênio 2005-2007. Já o divulgado ontem diz respeito ao triênio 2006-2008. Além da avaliação, as instituições são visitadas por técnicos do ministério que confirmam a nota dada.

 

Segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, o índice serve para orientar as visitas dos técnicos da pasta. Antes, os técnicos iam ao local sem as informações necessárias e, em dois ou três dias, não conseguiam levantar todos os problemas. No geral, disse o ministro, as instituições acabavam recebendo notas altas sem as merecerem.

 

- A ideia é orientar as visitas in loco. Antes eram visitas desinformadas - disse.

 

Faculdade em Minas é descredenciada

 

Entre as instituições com notas insuficientes, oito estão na chamada malha fina do MEC e uma, a Faculdade Cidade de João Pinheiro (MG), foi descredenciada, o que significa que não tem mais autorização do ministério para oferecer cursos de ensino superior e deve ser fechada. As demais, se após visita tiverem as notas confirmadas, terão de se adequar para continuar funcionando.

 

Elas já recorreram do resultado e, depois da decisão judicial, terão de assinar um Termo de Saneamento se comprometendo com medidas para aumentar a qualidade do ensino ofertado. Até lá, não poderão abrir novos campi e cursos, nem aumentar o número de vagas.

 

- Essas estão na malha fina. O MEC vai se debruçar sobre essas instituições - explicou Maria Paula Dallari Bucci, secretária de Educação Superior do ministério.

 

Além das medidas, que valem para todas que tiverem as notas 1 e 2 confirmadas, cada instituição poderá ter que obedecer a ordens específicas, como reduzir o número de vagas, suspender temporariamente ou definitivamente o vestibular e até mesmo ser descredenciada.

 

O prazo máximo para que elas se adequem ao padrão de qualidade exigido pelo MEC é de um ano. O que cada uma terá de fazer depende da visita dos técnicos, mas inclui contratação de professores, ampliação da infraestrutura etc.

 

Por enquanto, 400 instituições avaliadas já foram inspecionadas. Para o ministro, a avaliação é importante para que os alunos passem a procurar os cursos com notas mais altas.

 

- A ideia é orientar a procura por cursos de excelência - disse ele.

 

Unifesp é a melhor universidade do país

 

Primeira colocada no ranking das instituições de ensino superior do país, de acordo com o MEC, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) é uma ilha de prosperidade que está em processo de transformação.

 

Os alunos têm boas condições para estudar, como bibliotecas, laboratórios e centros de pesquisa, o que ajuda a explicar o bom desempenho e o primeiro lugar.

 

- Dos 1.100 estudantes do campus São Paulo, 300 têm bolsa-pesquisa, um índice excelente que, esperamos, seja mantido com a expansão da universidade - disse o estudante de medicina Bruno Funchal, de 23 anos, que é o presidente do Diretório Central dos Estudantes da Unifesp.

 

Principal frente do governo federal na expansão do ensino superior em São Paulo, a Unifesp ganhou três novos campus - Diadema, Guarulhos e São José dos Campos - nos últimos anos e manteve os de São Paulo e Santos. Foram implantados diversos novos cursos, muitos dos quais funcionam no período noturno e beneficiam alunos que trabalham durante o dia. Com a expansão, a instituição pode perder a primeira posição no ranking, que tem como base o desempenho dos alunos no Enade, o antigo Provão.

 

- A maioria dos cursos mais novos funciona à noite. É possível que isso se reflita (de forma negativa) no ranking. Por isso é preciso que não faltem incentivo e meios de permanência dos alunos nos cursos - espera o presidente do DCE.

 

Vestindo o tradicional jaleco de estudante, que pode ser confundido com os de profissionais da saúde que trabalham na área, um grupo de alunas da Unifesp não sabe da existência do ranking. Em frente ao Hospital São Paulo, da Unifesp, elas elogiam a qualidade do ensino ao mesmo tempo que reclamam que têm de estudar muito.

 

- A gente sofre demais. A faculdade é boa, mas a gente estuda muito, muito, muito - afirma Priscila Vieira, que é do interior e mora em São Paulo para cursar medicina.

 

Ex-reitor renunciou após denúncias de irregularidades

 

Priscila e muitas de suas colegas são mantidas pela família, um perfil que o presidente do DCE considera ser comum entre 70% e 80% dos alunos da Unifesp em São  Paulo, onde são mantidos cursos da área de saúde. Para compensar a diferença com os novos colegas dos outros campi, que trabalham durante o dia, Bruno Funchal considera que a universidade tem que proteger os alunos.

 

- Precisamos ter moradia estudantil e construir restaurantes universitários nos três campus que ainda não têm, que são os de Diadema, de Santos e de São José dos Campos - propõe o estudante.

 

O reitor da Unifesp, Walter Manna Albertoni, não quis comentar o resultado da Unifesp no ranking. Segundo sua assessoria, ele só dará entrevista depois de receber as informações oficiais do MEC e do Inep.

 

Embora a Unifesp seja uma ilha de prosperidade, há um ano o então reitor Ulysses Fagundes Neto renunciou ao cargo depois de uma série de denúncias de irregularidades.

 

Ele foi acusado de ter feito viagens internacionais não autorizadas, de usar o cartão corporativo para pagar despesas pessoais e de se hospedar em hotéis de luxo na Europa.

 

Entre 2006 e 2007, foram ao todo 13 viagens para outros países. De acordo com o Tribunal de Contas da União, os gastos ilegais do exreitor chegaram a quase R$ 230 mil. Fagundes disse que reembolsou a universidade pelos gastos considerados pessoais.

(Adauri Antunes Barbosa)

 

Com apenas dois cursos, escola da FGV é a mais bem avaliada do país

 

A Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape), ligada à Fundação Getulio Vargas (FGV), recebeu a maior nota entre as instituições do país, na avaliação do MEC, superando universidades e centros universitários. A instituição fez 469 pontos numa escala de 0 a 500 e nota 5.

 

A Ebape é considerada pelo MEC uma instituição de excelência.

 

Com apenas dois cursos de graduação - Administração e Processos Gerenciais -, a escola tem 360 graduandos, mas todos os professores que lecionam em tempo integral têm doutorado.

 

Além da graduação, a instituição oferece dois cursos de mestrado e um de doutorado. No total, há menos de 800 alunos matriculados. Ano passado, a Ebape ficou em terceiro lugar no ranking de faculdades.

 

- Nossa missão é trabalhar com o máximo de qualidade, mesmo tendo poucos alunos. Investimos muito em pesquisa - disse o diretor da Ebape, Flávio Vasconcelos.

 

(O Globo, 1/9)


Data: 01/09/2009